segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Capítulo 7 – Companhia

Abri os olhos. Bocejei. Sentei colando os pés no chão e me espreguicei. Apoiei minhas mãos na cama para levantar. Caminhei, abri a porta do quarto e fui para o quarto de mamãe. Dei três batidas na porta. Ela disse para eu entrar. Abri a porta. Colocando metade de meu corpo no espaço aberto para enxergá-la.

 Algum compromisso pra hoje? – Perguntei.

– Até agora nada. – Disse.

 Ok.

 Que horas você chegou que eu nem ouvi?

 Antes de 00:00.

 Hum. E vai fazer o que agora?

 Sair.

 Se divirta.

– Valeu.

Fechei a porta e voltei para meu quarto. Fui direto para o banheiro. Tomei um banho rápido. Me enxuguei e enrolei a toalha no quadril voltando para o quarto. Peguei um short azul com detalhes em preto, uma blusa branca com mangas médias, e um chinelo preto. Me vesti, e calcei o chinelo. Passei minha mão esquerda por entre os fios de meus cabelos, peguei a chave do carro e a carteira que deixara em cima da poltrona na noite passada. Voltei ao quarto de mamãe.

 Preciso do celular. Vai que aconteça algo de última hora, e Scooter tente me ligar?

 Ok. – Ela abriu a primeira gaveta do criado mudo, pegando o celular, e o entregou para mim.

 Te amo. – Sorri.

Mamãe sorriu de leve, balançando a cabeça negativamente. Saí de seu quarto, e desci, passando pela sala e indo pra garagem. Abri a porta do carro e sentei. Atrás do volante tinha uma rosa vermelha. As bordas das pétalas começavam a ficar murchas. Era a rosa que eu deveria ter entregado para Lindsay. Peguei-a e coloquei no banco do carona. Liguei o carro, dando a ré, e saindo da garagem. Lindsay receberia aquela rosa.

                                                               Lindsay P.O.V

Que saco! Será que toda dia agora, virá alguém aqui para me acordar? A campainha tocava sem cessar. Levantei bufando e pisando com força. Destranquei a porta e abri. Justin se assustou ao me ver.

 Posso te apresentar um pente e um creme de cabelo se quiser. – Disse sarcástico.

 E eu posso te apresentar uma boa audição. Pedi ontem para que você não voltasse mais aqui, e, no entanto, você parece não ter entendido.

 Eu olhei no espelho, analisei bem, juro, mas não vi nada demais.

 Não questão de ver o que está por fora. Seja inteligente. É questão de você rever seus conceitos e ver o que está se tornando.

 Ah, sim. – Disse, parecendo entender. – Você sempre tentando dar lição de moral nos outros.

– Fazer o que, né? – Dei de ombros.

 Ahn... Esqueci de te entregar ontem. – Disse, levantando a rosa para eu ver e me entregando-a.

 Hum. Obrigada. – A rosa estava começando a ficar murcha. Mas eu não diria nada a ele, já que fizera isso de bom grado.

 Posso entrar?

 Depende. Não tentará forçar romantismo? – Perguntei, impondo seriedade.

 Não.

 Então pode.

Dei licença para ele entrar e bati a porta.

– Sujeira demais traz parasitas indesejáveis. – Comentou Justin, olhando a sala, que estava intocada desde que ele fora pra casa.

– Pois é. Já que você teve a gentileza de vir até aqui, me ajude a arrumar isso. – Disse.

– Como é? – Deu um grito repentino, me assustando.

– Eu falei pra você não voltar, não foi? Mas você quis voltar, então sofra as conseqüências. – Sorri, maliciosamente.

– Fazer o que né? Por onde começaremos?

– Levando as coisas daqui pro balcão. Depois eu lavo a louça e você me ajuda a enxugar, caso precise.

– Tem alguma coisa pra comer, pelo menos? – Perguntou, fuxicando a geladeira e gesticulando com as mãos.

– Não. Preciso ir as compras. Mas se quiser do outro lado da rua tem uma lanchonete que é padaria também. Tomo meu café da manha lá.

– Mas pelo visto não foi tomar hoje, né? Quando terminarmos de arrumar, desceremos e comemos.

– É até bom ter você como companhia, sabe? Tá sempre pagando minhas refeições. – Gargalhei.

– Não pense que isso virará rotina.

– Não pensei. Nem quero também. – Fiz uma expressão desdenhosa. Justin revirou os olhos.

Justin pegou as duas caixas e as colocou no balcão ao lado da pia. Peguei os pratos, os talheres e os copos. Coloquei-os dentro da pia. Molhei um paninho azul, que enxugava a pia quando molhada e depois o torci, para a água sair e só ficar úmido. Passei-o sobre a mesinha de centro para tirar a sujeira da comida. Peguei as almofadas e as deixei no quarto. Voltei para a cozinha. Abri a torneira e fui lavando a louça, enquanto Justin amassava as caixas de pizzas e as jogava na lixeira. Ele colocou o resto da coca que restou, junto com o resto da garrafa e a devolveu para a geladeira. Terminei de lavar a louça, e coloquei para enxugar no escorredor. Sequei minhas mãos no pano de prato. Olhei para Justin.

– Podemos descer? – Perguntou ele.

– Espere só alguns minutos. Vou tomar banho.

– Humm... – Ele ergueu uma sobrancelha.

– Tenho certeza de que você tem amor ao seu órgão genital. – Disse, saindo da cozinha, e indo para o banho.

Corri para o Box. Abri o registro e tomei um banho rápido, porém reconfortante. Me enxuguei e voltei para o quarto. Coloquei um short rosa pink, uma blusa azul marinho, e calcei um chinelo branco. Passei meu Victoria Secret’s com pesar. Penteei meus cabelos, e os prendi num rabo de cavalo alto, porém frouxo. Fui para o banheiro, e escovei meus dentes. Voltei para a sala. Justin varria o cômodo.

– Puxa, que menino aplicado aos deveres de casa. – Observei, e aproveitando para zombá-lo.

Ele reprimiu os lábios, fez uma expressão de desprezo, e continuou varrendo. Ao terminar, juntou o lixo, o colocou na pá, e em seguida o despejou na lixeira.

– Onde fica o banheiro? – Perguntou.

– Primeira porta a esquerda. – Disse eu.

Ele foi para o banheiro, e em menos de 1 minuto já estava de volta.

– Vamos. – Disse Justin, apressando-se em abrir a porta.

Peguei o mói com as chaves em cima do sofá e fui para o corredor, trancando a porta. Caminhamos para pegarmos o elevador.

– O pão da lanchonete é bom, não é duro, nem mofado, não né? Por que você come lá, então não deve ser um local muito bom... – Disse Justin, enquanto estávamos dentro do elevador.

– Como sempre você quer me deprimir, porém suas tentativas são em vão. E respondendo a sua pergunta: não, o pão não é duro, nem mofado, muito bom por sinal.

– Bom saber. Meus dentes não são acostumados a comer comida de má qualidade como os seus.

– Hum. – Desprezei.

O elevador deu uma guinada para cima, e depois para baixo, parando, e abrindo as portas no andar térreo. Justin e eu passamos pelas portas recém abertas e caminhamos, saindo do prédio. A lanchonete ficava de frente para o prédio. Justin parou no meio-fio, esperando o sinal fechar. Porém eu continuei andando para a direita, a faixa de pedestres não ficava a mais de 100 metros da entrada do prédio. Nunca gostei de atravessar na confusão entre os carros mal estacionados, sempre atravessei na faixa de pedestres, mesmo que ficassem longe de onde eu me encontrava.

– Ou, ô maluca! – Gritou Justin, andando rápido e acompanho meus passos. – A lanchonete fica bem ali. – Apontou com a mão esquerda para a lanchonete. – O que vamos fazer indo pra lá?

– Atravessar.

– Mas como assim? Era só atravessar ali, você não me viu esperando o sinal fechar?

– Sim, mas eu só atravesso na faixa de pedestres. – Sorri.

– Eu não acredito que saí de lá e vim aqui escutar isso. – Disse, lamentando-se.

– Eu não pedi que você viesse atrás de mim. – Debochei.

– Argh. – Bufou pelo nariz.

Chegamos à faixa de pedestre e o sinal fechou imediatamente. Atravessamos e seguimos para a lanchonete.

Havia duas portas para entrar na lanchonete. Uma de abrir e fechar, e a outra giratória. Justin como adorava complicar as coisas foi pela giratória. Eu entrei pela normal. As cores que decoravam grande parte da lanchonete eram verde claro, azul claro, e branco. O branco era o que mais predominava, o verde, e o azul eram listras horizontais que ficavam nas metades das paredes. O piso era marfim, com alguns detalhes azuis, e verdes. Sentamos nos bancos altos do balcão, estofados em couro preto e com pernas de latão. O balcão era metálico. A lanchonete tinha um estilo retro. Tipicamente americano. Uma garçonete veio nos atender. Pedi dois mistos quentes e um milk shake de baunilha. Justin pediu um cheeseburger duplo e um milk shake de baunilha também. Aguardamos calados enquanto os pedidos eram feitos. Tamborilei meus dedos da mão direita distraída.

– Argh. Tava demorando. – Resmungou Justin.

– O que foi? – Perguntei num tom baixo, ainda estava distraída.

– Paparazzi. – Disse ele.

Imediatamente minha distração acabou. Varri com os olhos, o vidro transparente afora, procurando pelos paparazzi. Dois homens mexiam em suas câmeras profissionais.

– Não acredito. – Lamentei. – Mike... – Disse com pensar. Fitando minha imagem distorcida no metal do balcão.

– O que tem esse cara? – Perguntou Justin, curioso e nervoso ao mesmo tempo.

– Ele verá que estamos andando juntos.

– E daí?

– E daí, que minha situação ficará pior do que já está. – Completei.

– O que...

– Com licença, aqui estão os pedidos de vocês. – Disse a garçonete, interrompendo Justin, e colando a bandeja sobre o balcão para nos servimos.

– O que vocês tem exatamente? – Perguntou Justin, interessado, virando-se de lado para ficar de frente para mim.

– Nada. – Respondi, despreocupada, e dei uma mordida no misto quente.

– Senão fosse nada, ele não ficaria como um lunático te perseguindo.

– Bom, sabe como é, né? Eu sou inesquecível. – Gargalhei.

– Não, não sei.

– Mike infelizmente gosta de mim. – Respondi.

– E vocês nunca se envolveram?

– Apenas uma vez. E isso foi crucial. Mas eu não queria. Mike me beijou a força. – Dei outra mordida no misto quente.

– Não queria, mas você deixou.

– Não foi bem assim, querido. Ele segurou meu rosto com as duas mãos, ele encostou a boca dele na minha, ele que procurou pela minha língua, ele que controlava meu rosto. Eu não tinha forças para escapar, Mike é bruto demais.

– Até que vocês formariam um casal bonito. – Caçoou Justin.

– Mas não seria mais bonito que você e Selena juntos. – Retribuí.

– Não existe nada entre Selena e eu. – Disse sério.

Suguei o líquido do milk shake pelo canudo.

– Da sua parte por enquanto não, né?

– Esse por enquanto continuará para o resto da vida. – Afirmou, sério. Justin virou-se, ficando de frente para o balcão e pegou seu cheeseburger dando uma grande mordida nele.

– Não cospe pra cima que pode cair em cima desse seu rostinho caro. – Desdenhei.

– Você não sabe o significado da palavra amizade, não é? Mas como poderia, não têm amigos... – Sugou seu milk shake pelo canudo, e me fitou, com desprezo.

– A comida está muito boa, para eu ter indigestão por causa de seu jeito e de suas palavras. – Comentei, e não disse mais nada, Justin também não. Nossa concentração estava na comida.

Passaram cerca de 15 minutos quando terminamos de esvaziar a bandeja. Justin me olhou, com uma expressão presunçosa, e sorrindo com os lábios. O olhei também, porém com uma expressão de deboche. Seu celular tocava. Ele apressou-se em atender antes que chamasse mais atenção do que já chamara.

– Alô? – Disse. Houve uma pausa. – Lanchando. – Pausa. – Com uma... – Ele me olhou, e pensou antes de responder. – Conhecida. – Disse por fim. Outra pausa. – Mas é só minha conhecida, não temos nada, relaxe. – Pausa. – Mas agora? – Pausa. – Ah, é que eu queria ter o sábado livre, mas já que não dá, estou indo para aí. – Mais uma pausa. – Posso mesmo? – Pausa. – Não, não é, não. – Respondeu sério. Pausa. – Ok, estou saindo daqui a gora. Valeu. – Justin desligou o telefone, e me olhou de cima a baixo, me avaliando. – Hum... Dá pro gasto. Venha.

– Pra onde? – Perguntei.

– Surgiu uma reunião de última hora, e disseram que eu posso levar você. – Explicou.

– Hum... – Pensei em ir com ele. – Ok. Desde que você pague lanche da tarde.

– Novidade será quando eu não pagar. – Disse, levantando do banco, abrindo sua carteira, e pegando o dinheiro.

Justin fez um gesto com a mão para a garçonete vir até nós. Ela veio, e ele deu o dinheiro a ela. Pediu para que pagasse por nós, pois estávamos atrasados. Ela não recusou, já que ganhara uma gorjeta que provavelmente era quase o seu salário mensal. Saímos da lanchonete, e voltamos para meu prédio, pegando o elevador e indo para a garagem.

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