quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Capítulo 11 – Salvação

                                                         Lindsay P.O.V

O que eu sentia em relação a Justin? Raiva. Revirei os olhos, e sentei. Baguncei meus cabelos, apoiei minhas mãos na cama para levantar. Caminhei até o banheiro, bocejando. Me despi, e entrei para o Box. Tomei um banho demorado, não me importando com a hora. Lavei meus cabelos. Terminei o banho, me enrolei na toalha, voltando para o quarto. Vesti meu uniforme, e calcei meu Allstar vermelho. Estava sem fome. Escovei meus dentes. Voltei para o quarto, arrumei minha mochila, e saí do apartamento, rumo ao trabalho. Ainda havia dinheiro em minha carteira, mas resolvi economizar. Fui caminhando. O trabalho ficava perto dali, porém com preguiça de andar mais, resolvi cortar caminho. Nunca tive problema com esse caminho. A única parte que não me agradava era passar por uma estrada que apesar de estar dentro dos territórios de uma cidade grande, era deserta. Nela havia armazéns velhos, lojas abandonadas, com madeiras nas vitrines, anunciando a falência, à mercê da ruína. O sol brilhava incansavelmente acima de minha cabeça, e também ventava, dificultando minha visão naquela estrada deserta. Ouvi o barulho de um carburador a todo o vapor, e ele não estava muito longe dali. Deveria ser na estrada ao lado. O barulho ficou mais nítido. Olhei para trás. A moto vinha em minha direção, e o piloto não parecia querer desviar-se de mim. Corri, tentando escapar de impacto terrível, mas a moto pareceu acelerar. Eu não via o rosto daquele louco, ele usava um capacete. A moto chegou a aproximadamente 1 metro de mim, e freou bruscamente, fazendo um meio cavalo de pau. Arfei apavorada. O piloto tirou o capacete. O vento açoitou seus cabelos negros para o norte, e o forçou a fechar aquelas orbes negras tão conhecidas por mim. Ali, fechando os olhos, e com os cabelos soprados, ele parecia inofensivo, mas não, era completamente o contrário, Mike era ainda mais perigoso quando estava assim.

Meu peito subia e descia rapidamente enquanto eu tentava encontrar uma partícula de ar em tanto nervosismo. Mike notou e deu uma risada irônica, apoiando o pé, que não estava no pedal, no chão.

– Está tentando fugir de mim, não é? – Disse com sua voz grave e ameaçadora
.
De longe eu conseguia sentir o cheiro de maconha... De álcool. Ele me dava pena com aquela aparência mortificada, a pele branca, os olhos opacos e avermelhados. Era apenas ossos, estava acabado. Mas tinha minha idade. Aquilo era inacreditável.

– Sai daqui, Mike. – Murmurei, automaticamente. Me xinguei mentalmente por abrir a boca para tentar mandar em um psicopata.

Ergueu a perna que estava no pedal e saiu da moto, pendurando o capacete preto no retrovisor. Dei um passo para trás de reflexo e ouvi um carro freando com força no asfalto em algum lugar próximo da esquina.

– Você vem comigo. – A voz era tão seca e tão arrepiante que a única coisa que prestasse que eu consegui fazer foi tentar correr para a esquina para sair da rua deserta e conseguir me proteger.

Tudo se desvaneceu logo que senti dedos gelados envolverem meu pulso com uma força brutal. A mochila pesava em minhas costas e me impossibilitava de fazer muita coisa. Dei um grito e ouvi sua risada.

– Ninguém vai ouvir mesmo. – Parei de gritar e senti os olhos arderem em resposta ao nervosismo. Eu estava com medo, suava frio.

Estávamos próximos da motocicleta quando ouvi pneus queimarem no asfalto. Mike já se endireitava em cima da moto quando erguemos a cabeça juntos. Uma Range Rover preta vinha a toda velocidade e, através do vidro, pude ver um rosto extremamente conhecido.

Sem nem pensar direito, saí correndo em direção ao carro em movimento.

– Lindsay! – Rugiu Mike dividido entre tentar me pegar ou salvar sua tão querida moto.

Arregalei os olhos ao ver que Bieber estava próximo demais. Ele comprimia os lábios e franzia as sobrancelhas, concentrado. Mas parecia que ia bater de frente com Mike.

– Justin! – Gritei e ele freou bruscamente, jogando o carro na direção da moto de Mike. Ele afobou-se e desequilibrou-se, caindo no chão com a moto logo acima de seu corpo. O grito rouco e fraco ecoou na rua enquanto eu apressava meu passo em direção á Range Rover.

Ouvi as travas elétricas serem destravadas e abri a porta, entrando ali com pressa e fechando a porta com força.

– Vai! – Berrei sem nem fitar Justin.

Ele afundou o pé no acelerador e, pelo retrovisor, pude ver Mike empurrando a motocicleta em uma tentativa frustrada de sair de baixo da mesma. Eu respirava com dificuldade e tremia até os fios de cabelo.

Viramos a esquina, saindo da rua deserta. Mas Justin não estava indo à direção de meu trabalho. Inspirei antes de falar qualquer coisa, minha respiração ainda saía com dificuldade.

– Está indo à direção errada. – Falei por fim, mas minha fala saiu entrecortada.

– O único direito que você tem é de permanecer calada. – Disse Justin, sua fala estava nervosa, e seu cenho franzido.

– Você está indo à direção contrária do meu trabalho! – Consegui gritar.

– Quem disse que você vai trabalhar?

– Eu disse. Eu preciso. É o meu dinheiro.

– Você não vai. Será que você não pensa, fedorenta? Esse psicopata pode aparecer lá a qualquer hora.

– Ele pode aparecer lá a qualquer dia. Então eu não vou trabalhar mais por causa de Mike?

– Hoje não.

– AAAARGH! – Fechei meus punhos com força de tanta raiva que sentia. Tanto de Mike quanto de Justin, apesar dele me salvar daquela situação. – Me leve para casa então. – Disse, bufando ao terminar a frase.

– Não. Nós vamos para a gravadora.

– Como é? – Virei para encará-lo, porém não fui correspondida.

– Vamos para a gravadora. – Repetiu.

– Meu dia já foi estressante o suficiente para eu ter uma dose de Selena nele.

– Você terá de agüentar isso. É melhor uma dose de Selena arrogante, do que uma dose de Mike psicopata.

– Pois é, mas eu estou sem paciência, ok? Até.

Justo na hora que ele não deveria olhar, Justin me fitou, para ver o que eu faria. Percebendo que eu abriria a porta para fugir, ele a travou.

– Destrava isso agora, Bieber. – Ordenei, rosnando.

– Só quando chegar na gravadora.

Arquei minha sobrancelha, tendo um pensamento feliz, e de um sorriso de lado, um pouco zombeteiro.

– Se pensou em fugir quando chegarmos à gravadora, você se deu mal. Desculpe acabar com a sua felicidade. – Disse, como se lesse meus pensamentos.

– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA. – Gritei de raiva, como uma criança. Comecei a bater minhas pernas, e meus braços involuntariamente, esperneando, exatamente como uma criança.

Justin gargalhava, olhando minha cena vergonhosa.

– Por que apareceu? – Perguntei, para de espernear, e me comportando como uma pessoa. Senti falta de humilhar alguém. – Deu de ombros.

– Mas é claro... que não. Anda, Bieber, desembuche. – Pedi.

– Ok. Tentei brigar com alguém ontem, mas não me senti superior a essa pessoa, como me sinto com você, entendeu? Só por isso que apareci. É bom brigar com você porque eu me sinto superior, aliás, eu sou superior. – Disse, coçando seu queixo intrigado.

– Claro, quando se fala em como uma pessoa é podre por dentro você é superior a todas.

– Você diz isso porque ainda não provou minha língua. – Olhou pra mim, maliciando a conversa.

– Argh, não comece com isso ok? Você sempre levando pra esse lado.

– Qual lado você quer que eu leve então? O da cama, talvez? – Disse, tirando sua mão do freio, e a colando em cima da minha esquerda, que estava sobre meu joelho.

Seu toque me fez estremecer. Peguei sua mão e a joguei, fazendo-a bater no freio. Ele gemeu de dor, mas ignorou.

– Ah, entendi. Você é do tipo selvagem, humm... – Coçou o queixo, me avaliando.

– E você é do tipo bro. – Ironizei, e deixei a resposta no ar.

– Tipo bro? – Perguntou em dúvida.

– Do tipo brocha, que não faz nada. Só tem lábia. – Provoquei, sorrindo.

– Só não te provo o contrário, porque causaria um caos aqui no trânsito, e amanhã seríamos primeira página nas revistas e jornais.

– Eu disse que você só tem lábia. – Provoquei mais ainda.

Ele batucou o volante com os dedos, suspirando devagar.

– Lindsay, você não vai conseguir me atiçar, sinto muito.

– Nem eu queria. – Dei de ombros.

Chegamos à garagem da gravadora. Justin estacionou, e descemos.

– Kenny. – Ele chamou.

Um homem alto, forte, um pouco barrigudo, negro, e simpático, virou-se, nos olhando sorridente.

– Fala aí, Biebs.

– Tá vendo essa garota aqui? – Ele apontou pra mim. Kenny assentiu. – Então, provavelmente ela vai querer sair daqui, mas avise aos outros pra não deixarem. – Ordenou, Justin.

– Já é, Biebs. Super protetor você hein, com a sua namorada. – Kenny gargalhou.

Corei, e Justin reprimiu os lábios, sem graça e com raiva ao mesmo tempo.

– Ela. Não. É. Minha. Namorada. – Disse pausadamente entre dentes, e com o cenho franzido.

– Beleza. É sempre muito difícil assumir no começo. Te entendo, Biebs. – Kenny deu de ombros, nos dando as costas e andando em direção ao elevador.

Seguimos Kenny. Mas as portas do elevador fecharam antes de conseguirmos alcançá-las. Justin bufou.

– Kenny ama me provocar.

Não respondi. As portas voltaram para a garagem, abrindo-se. Adentramos no elevador, e subimos. Chegamos ao segundo andar. Era parecido com o quarto, mas tinha menos portas. Fui no encalce de Justin sem saber aonde chegaríamos. Ele abriu uma porta.

Era o estúdio da gravadora. Pelo vidro que dividia a sala de som da sala de canto, vi Selena rindo com uma cara de boné. O cara de boné veio falar conosco. Simpático como Kenny.

– Prazer, - disse estendendo sua mão – eu sou Scooter. – Sorriu ao completar a frase, e apertamos nossas mãos.

– Sou Lindsay. – Sorri.

Selena juntou-se a nós.

– Hoje você veio trazer doce, não foi? Estou com tanta vontade de comer um. – Disse, tentando parecer doce.

– Não, não trouxe. – Respondi, com uma expressão vazia.

– Sel... – Advertiu Justin.

– Mas ela tá com o uniforme. – Apontou pra mim, fazendo uma expressão de desprezo. – Desculpa, não tem como adivinhar né. Enfim, desculpa. – Revirou os olhos. – Ande, vamos logo gravar estou ansiosa. – Puxou a mão de Justin saindo do estúdio.

– Venha. – Disse Scooter para mim, e eu o segui.

Saímos da sala e caminhamos para uma porta a direita. Era a última do corredor. Scooter a abriu, segurando-a para eu passar. Passei, entrando, e ele logo em seguida. Estávamos num mini teatro. As cadeiras eram estofadas por um couro, que naquela iluminação parecia ser azul celeste. Justin e Selena estavam no palco testando o microfone. Scooter subiu uma escada com cinco degraus, e fez sinal com a mão para eu o seguir. Chegamos na coxia, porém Scooter foi para o palco. Não me atrevi a dar mais nenhum passo, fiquei ali na coxia, os observando. Ele preparava Selena e Justin, dando as comandas, e os colocando frente a frente. Cerca de dois minutos, chegaram mais pessoas. Deveriam ser o pessoal da produção, para ver a sintonia entre os dois. Pelo o que pude perceber, a sintonia entre eles era bem intensa. Apareceu um cara, do outro lado do palco, pondo-se atrás de uma aparelhagem, e testando o som. Deveria ser o DJ. Scooter disse algo para o DJ, e veio em minha direção, pondo-se ao meu lado. Uma batida lenta, e boa começara. Selena movia-se junto com a batida, sorrindo para Justin. Ela começou a cantar. Até que sua voz era bonita sem play back. Parecia ser o refrão, pois Justin estava cantando junto com ela. Cruzei meus braços à frente de meus seios, os observando com mais atenção. Scooter pediu que parassem. E caminhou até eles.

– Justin, me diga: quantas vezes você já cantou Overboard? – Perguntou Scooter, parecendo nervoso.

– Muitas. – Respondeu Justin.

– Quantas vezes você cantou Overboard separado de Jessica o tempo todo? Nenhuma! Depois do primeiro refrão vocês se juntam, interpretam carícias no palco, até o final, ou eu estou errado?

– Não está.

– Então, por favor, faça o mesmo com a Selena, dá pra ser?

– Dá.

Scooter voltou para o meu lado, e fez um sinal com a mão. A batida iniciou-se novamente. Queria ver a expressão de Justin, porém ele estava de costas para mim.

– Pára, pára, pára! – Ordenou Scooter, voltando ao palco. – Justin, você quer que eu faça isso pra você aprender? Por que pelo o que parece, você desaprendeu a pequena coreografia e encenação de Overboard. O que tá acontecendo, é porque Jessica não está aqui? Você sabia que isso ia acontecer. Tinha de se preparar. – Brigou Scooter.

Justin virou o rosto, olhando para a sua platéia.

- Eu não tenho nenhum compromisso hoje, e acho que ninguém aqui também. Então eu não vou me importar de ficar aqui até isso ficar excelente. Solta essa batida. – Pediu, voltando para meu lado.

A batida iniciou mais uma vez. Selena começou a cantar, ainda sorridente. Balancei a cabeça conforme a batida. O refrão começou, dessa vez Justin evoluíra, ele pegou embaixo de seu queixo. Agora ele cantava sozinho, e se aproximava dela. Ela parecia fugir, mas sorrindo, fazendo propositalmente. Justin andou para acompanhá-la. Ele passou seu braço livre por sua cintura, deixando seus rostos colados, separados apenas pelos microfones. Apertei meus braços contra meus seios, causando dor. Eu não entendia porque fazia aquilo, era apenas um sentido. Justin tirou a mão da cintura dela, afrouxei meus braços, porém ele afagou seus cabelos, e virou-se em minha direção. Eu podia ver seu rosto, ele também estava sorrindo. Apertei meus braços mais ainda contra meus seios, até que a dor atingiu o coração. Não deu pra agüentar.

– Ahn... Vou tomar uma água. – Sussurrei para Scooter, porém mesmo sussurrando minha voz saíra embargada.

Ele assentiu sorrindo. Saí do teatro.

Cheguei ao corredor. Corri, olhando cada porta, procurando pelo banheiro feminino. Achei-o. Abri a porta. O balcão com as pias ficavam ao lado direito. Meu pus de frente para o grande espelho que cobria toda a extensão da parede. Meu rosto estava vermelho. Minhas orbes verdes pareciam querer saltar dali, tamanha era a repulsão que eu sentia. Meus lábios estavam comprimidos. Há um bom tempo eu não ficara com raiva como estava agora. Soquei a pia, gritando de raiva, e de dor. Balancei meu punho direito, para aliviar a dor. Gritei novamente. Eu esperava que as paredes fossem a prova de som, ou estaria atrapalhando o ensaio do casal. Bufei pelo nariz. Abri a torneira, colocando minhas mãos embaixo de seu orifício. A água caiu, e pus meu rosto entre minhas mãos, o lavando. Fechei a torneira. Peguei o papel toalha na máquina, e enxuguei meu rosto. Respirei fundo. Saí do banheiro. Ao lado da porta havia um bebedouro. Abaixe-me para beber. Ingeri água suficiente para um dia. Caminhei para voltar ao estúdio, afinal, a crise passara. Porém a porta abriu-se, e dela saíram Justin e Selena gargalhando. Logo atrás veio Scooter. Não esperei Justin chegar ao meu lado para pegar o elevador. Corri para o elevador. Logo as portas abriram-se. Adentrei nele. Justin nem ouvira o barulho das portas, de tão entretido que estava com Selena. Apertei o botão para o térreo. Cheguei à recepção, Kenny estava lá. Fingi que não o vira e continuei andando para sair do prédio.

– Ei! Mocinha, aonde pensa que vai? – Perguntou Kenny, entrando em minha frente.

– Pra casa. – Respondi, atônita.

– Esqueceu a ordem do Biebs?

Mas é claro. Revirei os olhos, e tentei parecer séria.

– Por favor, Kenny, minha mãe me ligou, dizendo que precisa de mim, pois meu pai está passando mal, e eu preciso ajudá-la. – Disse, quase implorando. Acho que o convenci.

– Bom, se a situação é essa, então você pode ir. Biebs não vai ligar. Melhoras para o seu pai. – Desejou Kenny, acenando.

– Obrigada. – Tentei sorrir.

Cheguei à calçada, e saí correndo em direção a meu prédio. Eu não tinha nenhuma grana na calça, e a gravadora ficava um pouco longe do prédio, mas não importava. Correndo não demoraria muito pra chegar. Lembrei que deixara a mochila no carro de Justin. Tarde demais. Eu não voltaria lá.

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