sábado, 21 de setembro de 2013

Capítulo 12 – Acaso

                                                           Justin P.O.V

Senti falta de perturbar Lindsay. Aproveitei que teria de acordar cedo para ir à gravadora, e resolvi dar uma passada em seu prédio. Ser uma boa pessoa, e oferecer ajuda aos necessitados. Quando cheguei, ela saía do prédio. A acompanhei andando devagar com o carro, porém Lindsay não percebeu. Ela começou a andar depressa, acelerei um pouco. Ficamos nisso por cerca de 10 minutos, até que o sinal fechou, e ela virou a esquina. Juntei as sobrancelhas com uma ponta de dúvida. O sinal parecia não querer abrir. Bufei e buzinei para o carro da frente avançar, porém foi em vão. O sinal abrira. Virei na rua que Lindsay virara. Porém tinham duas opções de caminho. Uma para a direita, e outra para esquerda. E agora? Pensei. Fui para a esquerda. Rua sem saída. Dei a marcha ré e segui para a direita. Entrei numa rua deserta. Semicerrei os olhos tentando enxergar três borrões ao longe. Acelerei o carro. Distingui Lindsay, uma moto, e um cara. O cara estava raquítico, mas dava uma boa pinta. Exceto pela sua expressão doentia. Mike. Pensei, rangendo os dentes. Acelerei mais ainda. Lindsay me vira, e saltou da moto. Esperei até que ela de afastasse dali para jogar o carro em cima da moto e de Mike, para acabar com ambos de uma vez só, mas não consegui. Pelo menos o assustara. Destravei as portas, e Lindsay entrou. Ela berrou para eu ir embora, e a obedeci. Saímos daquela bendita rua. Mas um momento, porque me preocupar em salvá-la? Mais um momento de compaixão? Ah, não. Eu teria de refrear esses sentimentos. Seguimos discutindo para a gravadora. Ah, como eu gostava de discutir com ela, me sentia tão bem, superioridade.

Chegamos à gravadora. Fomos para o estúdio, e após para o teatro. Combinei alguns passos com Sel, mas na hora de fazer o que combinamos não consegui, travei. Apesar de confiar em Sel, eu tinha medo de chegar mais perto, e não ser correspondido na coreografia. Scooter me advertiu por vezes, até que resolvi deixar a insegurança de lado, e tentar fazer com Selena como eu fazia com Jessica. Deu certo, percorremos quase todo o palco cantando, e fazendo gestos carinhosos, assim como acontecia com Jessica. Eu sorria, e Sel também. Fiquei aliviado por essa participação está dando certo. Todos aplaudiram ao final da música. Scooter veio me cumprimentar sorridente, me dando os parabéns. E disse que por hoje estava dispensado. Agradeci, e saímos do teatro. Sel veio ao meu lado, e Scooter logo atrás contando uma piada. Após terminarmos de gargalhar com a piada, percebi que Lindsay não estava ali.

– Scooter, onde está Lindsay? – A cada palavra minha voz subia uma oitava. Até que no fim eu já berrava.

– Ela disse que ia beber água.

– Ótimo. – Falei, irônico.

Corri, mas não para o elevador, fui pela escada de emergência, pulando de dois em dois degraus. Até que cheguei à recepção, com falta de ar. Parei, e agachei, colocando minhas mãos sobre meus joelhos para obter ar. Kenny veio sorridente em minha direção.

– E aí, Biebs? Sua namorada já foi.

– É, GRAÇAS A SUA INCOMPETÊNCIA! – Gritei, sem medir as palavras.

– Peraí, rapaz. Incompetência, não! – Rugiu Kenny. – Ela. Disse. Que. A. mãe. Dela. Ligou. Dizendo. Que. O. Pai. Dela. Estava. Passando. Mal. E ELA FOI PRA CASA AJUDAR A MÃE! – Rugiu ainda mais forte, me deixando sem reação. Porém me recuperei.

– Os pais dela não moram aqui, na verdade, eu nem sei se eles estão vivos. Não era pra você ter deixado-a sair em hipótese alguma, Kenny. – Disse entre dentes.

– Mas ela partiu para o lado pessoal.

– Não interessa. Agora ela corre perigo. – Passei as mãos sobre meus cabelos, preocupado.

– Você não se garante com sua própria garota? – Zombou Kenny, gargalhando.

– Ela não é a minha garota. Eu estou falando sobre outra coisa quando me refiro ao perigo.

– Mas eu tenho certeza de que você quer que ela seja a sua garota. – Deu uma piscadela.

Não respondi, e fui para a garagem, pela escada. Cheguei à garagem. Abri a porta do carro, e entrei, sentando e o ligando. Bati a porta com força. Eu desconhecia tanta raiva dentro de mim. Olhei para o banco do carona. Sua mochila estava ali. Fui para o seu prédio.

Cheguei ao prédio de Lindsay. Deixei o carro na garagem, e peguei sua mochila, subindo para seu apartamento. Apertei a campainha três vezes. Ela abriu a porta. Quando me viu ficou boquiaberta.

– Você esqueceu isso. – Rangi.

                                                           Lindsay P.O.V

Parei de correr. Estava cansada, e o sol contribuía muito para isso. Avistei um táxi, e fiz sinal. Ele parou, logo após entrei, e dei o meu endereço. O motorista seguiu para o prédio. Chegamos ao prédio. Meu coração apertou.

– Ahn... valeu tio. – Disse, abrindo a porta, e saltando do carro.

– Ei, espera aí, menina, meu dinheiro! – Esbravejou.

Porém eu já corria pela recepção do prédio.

– Não fale meu nome! Nem o número do meu apartamento! – Gritei para o porteiro.

Ele me olhou, confuso. Mas aposto que depois entendeu meu recado. Subi os degraus correndo, sem olhar pra trás. Não era a primeira vez que eu fazia isso com um taxista. Cheguei ao quinto andar. Ao lado da porta havia uma planta, e enterrada no estrumo uma chave extra. Cavei o estrumo, e peguei a chave. Abri a porta. Fechei-a. Fui para a janela da sala, e fechei as cortinas. Deixando a sala escurecida. Me joguei no sofá. Fechei os olhos.

A campainha tocava. Resmunguei, e levantei. Abri a porta. Era Justin, e sua expressão não era nada amigável. Fiquei boquiaberta.

– Você esqueceu isso. – Rangeu, e me mostrou a mochila.

Peguei a mochila, tentando parecer despreocupada.

– Obrigada. – Disse, fechando a porta. Porém ele impediu colocando seu pé na frente.

– Eu vou entrar. – Disse, e empurrou a porta.

Afastei-me, para não cair enquanto ele empurrava a porta com raiva. Justin a fechou, e virou-se para me encarar. Como sempre, seus olhos estavam confusos.

– Não chegue perto. – Falei, com medo. Enquanto Justin andava, se aproximando de mim.

Ele arrancou a mochila de minha mão direita e a jogou sobre o sofá. Suas mãos seguraram com firmeza os meus braços. Arquejei. Justin me virou, nos trocando de posição, ele ficou de costas para o sofá, e eu de costas para a porta. Ele me guiou para o lado. Pela visão periférica vi que estava de costas para a parede. Justin com controle total sobre meu corpo me empurrou para a parede, mas com delicadeza. Ele imprensou seu corpo contra o meu, e aproximou seu rosto do meu, colando nosso narizes. Sua respiração estava irregular, assim como a minha. Joguei minha cabeça pra trás, e fechei os olhos, tremendo por dentro, e por fora. Suas mãos, que ainda seguravam meus braços também tremiam. Senti sua mão esquerda largar meu braço. Seu dedo indicador acompanhou o contorno de meus lábios. Ofeguei. Meu peito estava descontrolado, e não havia como controlá-lo, eu perdera total moral sobre ele. Pedi em silêncio a meu coração que desacelerasse, mas ele não me obedeceu. Senti a respiração quente de Justin roçar em meu pescoço. Minha respiração saía pela boca, não havia condições de respirar pelo nariz. Seus lábios úmidos encostaram-se a meu pescoço, fazendo cara poro de meu corpo tremer. Gestos involuntários aconteciam, o que era aquilo? A situação ficava cada vez mais sufocante. Justin beijou meu pescoço com mais desejou, e apertou minha cintura.

– Pare... – Pedi, sussurrando.

– Eu quero você. – Disse por fim.

– Não posso. – Tentei levantar meus braços e empurrá-lo, porém como grande parte do meu corpo, eles não correspondiam ao meu comando.

– Eu sei que você quer dizer o contrário. – Disse com a voz rouca. 

Não respondi. Era exatamente isso. Fugir dele pioraria nossa situação.

– Chega. – Disse eu, entrelaçando minha mão direita nos fios de seus cabelos, lisos e macios. Puxei sua cabeça para olhá-lo. Seus olhos... sem dúvidas. De tudo o que acontecera isso foi o que mais me surpreendeu. Resolvi provocar, eu não poderia ser totalmente a passiva da situação. – Quem você quer? – Perguntei, tocando seu lábios de leve, e ainda segurando os fios de seus cabelos, controlado sua cabeça.

– Você. – Respondeu, e ficou com os lábios entreabertos.

– Justin Bieber quer a Lindsay? – Provoquei, tentando dizer numa voz provocante.

– Justin Drew Bieber quer a Lindsay. – Completou, e suas mãos apertaram meu bumbum, subindo meu corpo, fazendo com que eu ficasse nas pontas dos pés.
Ri de nossa situação complicada. Mordi seu lábio inferior, e Justin fechou os olhos. Passei as unhas da mão esquerda em sua barriga, o fazendo arrepiar.

– Chega, sou um homem de poucas palavras. – Disse Justin, me arrancando da parede. Ri de sua atitude, mas eu aprovava.

Justin me soltou, mas só para tirar a mochila do sofá. Ele me agarrou, jogando-me sobre o sofá, e ficando por cima de mim. Sorri maliciosa. Ele retribuiu o sorriso. Justin levantou minha blusa. Ergui meus braços para ajudá-lo. Nossos rostos ficaram próximos, sua respiração abafada atingiu meu rosto. E o que já devia ter acontecido a dois dias, aconteceu. Justin encontrou meus lábios, os tomando para si. Nossas línguas brincavam, docemente. Envolvi o pescoço de Justin com meus braços, enquanto suas mãos faziam carícias em minha barriga desnuda, fazendo com que a cada segundo eu arcasse minhas costas. Seus lábios eram macios, e quentes. Justin estava me proporcionando um prazer que eu nunca sentira. Ao pensar nisso desgrudei nossos lábios. Ele me fitou, e depois procurou por meus lábios novamente, porém eu estava caída, com a cabeça sobre o apoio para braço do sofá. Justin encontrou meu pescoço, mordiscando-o de leve e dando beijos estalados. Vinquei minhas unhas em seus braços. Onde estava a Lindsay sã? Suspirei sabendo que ela estava ali, mas negava interferir aquele momento. Justin parou, e apoiou sua cabeça em meu ombro esquerdo. Senti sua respiração irregular bater contra meu ouvido.

– Por que fez isso? Por que está aqui? – Perguntei, confusa.

– Confesso que se eu não fizesse isso hoje perderia mais uma noite de sono. – Sussurrou em meu ouvido, me causando calafrios no coração.

– Não parece que você teve insônia. – Comentei, risonha.

– Fedorenta, isso é papo. – Gargalhou. – Brincadeira, enfim, não dormi ontem muito bem. Senti falta de brigar com você. – Justin fungou, me causando arrepio.

– Eu dormi. Dormi pra suprir a ausência de nossas brigas. – Confessei.

Justin voltou a ficar por cima de mim, me fitando. Suas orbes douradas me observavam com certa cautela. Rastejei meu corpo pelo couro preto, ficando embaixo do olhar de Justin.

– Se você quiser eu posso ficar pra dormir. – Jogou uma indireta.

– Não. – Gargalhei. – Isso pode viciar, e eu não quero esse vício por enquanto.

– O vício pode te fazer muito bem.

– Não por enquanto. – Insisti.

– Nem todo vício é ruim.

– Quando nós conhecemos todos os seus prós e contras. – Dei uma piscadela.

– Você pode me conhecer. – Disse, roçando seu corpo no meu.

– Aos poucos. – Disse, achando ter encerrado o assunto.

– Você sabia que se envolver com Mike era errado, mas não tentou fugir disso.

– É outro assunto.

– E as drogas? É bom se viciar nisso? Não, né? Mas você as experimentou, e agora vem com esse papo de que não pode se viciar em mim. Para que fazer doce, drogada?

Fiquei perplexa com sua reação. Eu sabia que havia algo errado com aquilo. Empurrei Justin do sofá. Ele caiu deitado no chão. Peguei minha blusa no encosto do sofá, e levantei. Abri minha mochila com rapidez, e peguei minha carteira. Ele se levantara, e viera atrás de mim. A porta de meu apartamento ficara escancarada.

– Lindsay, espera! – Gritou.

– Como eu pude me deixar levar por você? Seu hipócrita, sem escrúpulos, sem sentimentos, uma pessoa tão seca por dentro! – Gritei, meus olhos ficaram embargados. Enxergava Justin aos borrões. As lágrimas caíram, sem minha permissão, e ainda por cima elas me machucavam com cada escorrimento. – Saia daqui! Não volte mais, e agora eu falo sério, não volte, porque eu não vou te atender. Eu preferia ter sido levada por Mike e está sendo torturada por uma faca do que com suas palavras. Você conseguiu me iludir. Parabéns! Agora grite para o mundo todo ouvir, estampe isso na People. Ria de mim pelas costas com sua amiga, Selena. Vá Justin, comemore, você conseguiu ferrar com a vida de mais uma. Você é foda! Era isso que queria ouvir? Pois bem, você ouviu. Agora me faça um favor? MORRA!

Corri, e abri a porta que dava na escada. Desci os degraus, apenas guiada por meus sentidos, eu não enxergava nada. Eu queria sumir, e só havia uma solução: Mike. Corri para seu encontro. Sem medo do que estava por vir.

Passei pela recepção. O porteiro me advertiu com o olhar. Só não o mandei se ferrar, pois o pobre não tinha nada a ver com a situação. Cheguei à calçada. Andei depressa. Homens que passavam nos carros mexiam comigo sem nenhum pudor. Olhei para baixo, e vi que continuava sem a blusa, só de sutiã. Foda-se. Pensei. Continuei andando. Atravessei a rua, mas continuei indo reto. Cheguei ao ponto de ônibus. Sentei no banco. Meus olhos ardiam, mas já não desciam mais lágrimas deles. Funguei, olhei minha carteira. 40 dólares. Suspirei. Olhei para meu lado direito. Lá vinha o ônibus. Levantei, fazendo sinal. Ele parou. Subi, e entreguei o dinheiro ao motorista. Ele também me advertiu com o olhar.

– É proibido andar sem camisa dentro do ônibus. – Disse, dando a entender que eu me retirasse do ônibus.

– Quem paga a merda do seu salário? A pessoa que paga a passagem, certo? Então me deixe andar como eu bem entender. – Cuspi as palavras.

Sem palavras, o motorista pegou o troco, e o entregou para mim, liberando a catraca eletrônica. Sentei na última fileira de bancos. O vento entrava pela janela, açoitando meus cabelos bagunçados, pelas mãos de Justin, roçava em minha pele, me causando frio, e soprava meus olhos. Eu não sabia se as lágrimas saíam pela velocidade do ônibus, ou pelas lembranças de 20 minutos atrás que vinham em minha mente. Abaixei minha cabeça, olhando a blusa amarrotada em meu colo. Peguei-a e a cheirei. O cheiro dele estava impregnado ali. Que vontade de jogá-la janela afora, mas eu saberia que sentiria frio, e precisaria da blusa para aparar meu frio. Ou talvez apenas o perfume nela me aquecesse, apesar dos pesares.

Apoiei minha cabeça na parede do ônibus. Foi difícil mantê-la ali com o sacolejo constante do ônibus, porém consegui. Funguei, pensando que daqui a alguns minutos eu veria aquelas orbes negras e doentias, mas pelo menos gostavam por mim, aliás, eram obcecadas por mim. Suspirei, abrindo os olhos. Já estava chegando, fiquei alerta. O ônibus subiu a rua íngreme. Só faltavam dois pontos. Levantei do banco, e andei pelo ônibus em movimento, me postando em frente à porta de saída. Apertei a campainha no ferro vertical do ônibus. O motorista freou, parando no ponto, e abrindo a porta. Desci. A rua estava movimentada. Todos me olharam, como se nunca tivessem me visto. Ao contrário, eles sentiam minha falta. Caminhei até a casa de Mike. Não havia muros para separar a casa da calçada. Passei por entre as pessoas que consumiam diversos tipos de drogas no jardim da entrada. Caminhei até o escritório que ficava no segundo andar. Meu consolo foi ter tantas pessoas ali, Mike não era insano o suficiente para me matar ali. Abri a porta do escritório. Pra minha surpresa Matt estava lá, sentado na cadeira de couro marrom atrás da mesa abarrotada de papéis. Chorei de felicidade por encontrá-lo depois de tanto tempo. Ele levantou, vindo a meu encontro. Reuni toda minha força, e o abracei num abraço sufocante. Terminamos o abraço, ele me avaliou.

– Por que está só de sutiã? – Perguntou, curioso.

– Ahn... Senti calor. – Menti.

– Seus olhos estão vermelhos. – Observou. – Não andou fumando o que não devia de novo, não é? – Perguntou, preocupado.

– Não. Antes fosse. – Respondi.

– Me conte. – Pediu.

– Hoje não dá, quem sabe outro dia. Onde está Mike? – Mudei de assunto.

– Não está.

Parecia que meu coração havia se ausentado desde que pus os pés ali, pois só o sentira bater quando ouvi de Matt que ele não estava ali.

– Se isso é uma brincadeira, pare. – Pedi, cansada de cair em armadilhas.

– Estou falando sério. Ele chegou à tarde todo ralado, com a moto arranhada, dizendo que tinha caído. Fez alguns curativos, e saiu, sem dizer pra onde ia.

– Ahn... ele se machucou muito? – Perguntei, mesmo que Mike não merecesse minha preocupação.

– Está ralado, nada demais.

– O que aconteceu? – Fingi não saber.

– Disse ele que caiu de moto. – Disse Matt, parecendo não ter sido convencido pela desculpa de Mike.

– Poxa, mas que pena. – Tentei disfarçar.

Matt vincou a testa, observando a mentira em minha testa.

– Você não tem nada a ver com isso, ou tem? – Pressionou.

– Claro que não. – Garanti, sem o convencer.

– Você nunca chegou aqui procurando por Mike, sempre chegava aqui procurando por tudo, menos Mike. E hoje, depois de séculos, você aparece perguntando onde está Mike. Muito estranho, e muito suspeito, dona Lind.

– Ahn... – Procurei pela resposta certa. – Preciso me divertir, e como a grana tá escassa, vim aqui. Mike sempre tem algo.

– Ok, o que você quer, vodka, whisky, drinks, batidas? – Indagou, mexendo em uma mecha de meu cabelo, distraído.

– Bebida não vai curar o que estou sentindo. – Fui direto ao ponto.

– Procure outro lugar, comigo aqui você não fará isso.

– Me responde uma coisa? – Perguntei, sorrindo fraco.

– Claro. – Sorriu.

– Ser perfeito cansa?

– Ah, sua linda. – Gargalhou, me dando uma gravata fraca, e deixando nossos corpos colados.

– Seu lindo. – Completei. – Enfim, já que não tenho permissão em fazer o que quero, me dê pelo menos uma garrafa de vodka. – Pedi.

– Claro. – Comemorou com minha desistência. – Até duas se você quiser. – Gargalhamos. – Venha, vamos descer. – Disse, entrelaçando sua mão direita a minha esquerda.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Capítulo 11 – Salvação

                                                         Lindsay P.O.V

O que eu sentia em relação a Justin? Raiva. Revirei os olhos, e sentei. Baguncei meus cabelos, apoiei minhas mãos na cama para levantar. Caminhei até o banheiro, bocejando. Me despi, e entrei para o Box. Tomei um banho demorado, não me importando com a hora. Lavei meus cabelos. Terminei o banho, me enrolei na toalha, voltando para o quarto. Vesti meu uniforme, e calcei meu Allstar vermelho. Estava sem fome. Escovei meus dentes. Voltei para o quarto, arrumei minha mochila, e saí do apartamento, rumo ao trabalho. Ainda havia dinheiro em minha carteira, mas resolvi economizar. Fui caminhando. O trabalho ficava perto dali, porém com preguiça de andar mais, resolvi cortar caminho. Nunca tive problema com esse caminho. A única parte que não me agradava era passar por uma estrada que apesar de estar dentro dos territórios de uma cidade grande, era deserta. Nela havia armazéns velhos, lojas abandonadas, com madeiras nas vitrines, anunciando a falência, à mercê da ruína. O sol brilhava incansavelmente acima de minha cabeça, e também ventava, dificultando minha visão naquela estrada deserta. Ouvi o barulho de um carburador a todo o vapor, e ele não estava muito longe dali. Deveria ser na estrada ao lado. O barulho ficou mais nítido. Olhei para trás. A moto vinha em minha direção, e o piloto não parecia querer desviar-se de mim. Corri, tentando escapar de impacto terrível, mas a moto pareceu acelerar. Eu não via o rosto daquele louco, ele usava um capacete. A moto chegou a aproximadamente 1 metro de mim, e freou bruscamente, fazendo um meio cavalo de pau. Arfei apavorada. O piloto tirou o capacete. O vento açoitou seus cabelos negros para o norte, e o forçou a fechar aquelas orbes negras tão conhecidas por mim. Ali, fechando os olhos, e com os cabelos soprados, ele parecia inofensivo, mas não, era completamente o contrário, Mike era ainda mais perigoso quando estava assim.

Meu peito subia e descia rapidamente enquanto eu tentava encontrar uma partícula de ar em tanto nervosismo. Mike notou e deu uma risada irônica, apoiando o pé, que não estava no pedal, no chão.

– Está tentando fugir de mim, não é? – Disse com sua voz grave e ameaçadora
.
De longe eu conseguia sentir o cheiro de maconha... De álcool. Ele me dava pena com aquela aparência mortificada, a pele branca, os olhos opacos e avermelhados. Era apenas ossos, estava acabado. Mas tinha minha idade. Aquilo era inacreditável.

– Sai daqui, Mike. – Murmurei, automaticamente. Me xinguei mentalmente por abrir a boca para tentar mandar em um psicopata.

Ergueu a perna que estava no pedal e saiu da moto, pendurando o capacete preto no retrovisor. Dei um passo para trás de reflexo e ouvi um carro freando com força no asfalto em algum lugar próximo da esquina.

– Você vem comigo. – A voz era tão seca e tão arrepiante que a única coisa que prestasse que eu consegui fazer foi tentar correr para a esquina para sair da rua deserta e conseguir me proteger.

Tudo se desvaneceu logo que senti dedos gelados envolverem meu pulso com uma força brutal. A mochila pesava em minhas costas e me impossibilitava de fazer muita coisa. Dei um grito e ouvi sua risada.

– Ninguém vai ouvir mesmo. – Parei de gritar e senti os olhos arderem em resposta ao nervosismo. Eu estava com medo, suava frio.

Estávamos próximos da motocicleta quando ouvi pneus queimarem no asfalto. Mike já se endireitava em cima da moto quando erguemos a cabeça juntos. Uma Range Rover preta vinha a toda velocidade e, através do vidro, pude ver um rosto extremamente conhecido.

Sem nem pensar direito, saí correndo em direção ao carro em movimento.

– Lindsay! – Rugiu Mike dividido entre tentar me pegar ou salvar sua tão querida moto.

Arregalei os olhos ao ver que Bieber estava próximo demais. Ele comprimia os lábios e franzia as sobrancelhas, concentrado. Mas parecia que ia bater de frente com Mike.

– Justin! – Gritei e ele freou bruscamente, jogando o carro na direção da moto de Mike. Ele afobou-se e desequilibrou-se, caindo no chão com a moto logo acima de seu corpo. O grito rouco e fraco ecoou na rua enquanto eu apressava meu passo em direção á Range Rover.

Ouvi as travas elétricas serem destravadas e abri a porta, entrando ali com pressa e fechando a porta com força.

– Vai! – Berrei sem nem fitar Justin.

Ele afundou o pé no acelerador e, pelo retrovisor, pude ver Mike empurrando a motocicleta em uma tentativa frustrada de sair de baixo da mesma. Eu respirava com dificuldade e tremia até os fios de cabelo.

Viramos a esquina, saindo da rua deserta. Mas Justin não estava indo à direção de meu trabalho. Inspirei antes de falar qualquer coisa, minha respiração ainda saía com dificuldade.

– Está indo à direção errada. – Falei por fim, mas minha fala saiu entrecortada.

– O único direito que você tem é de permanecer calada. – Disse Justin, sua fala estava nervosa, e seu cenho franzido.

– Você está indo à direção contrária do meu trabalho! – Consegui gritar.

– Quem disse que você vai trabalhar?

– Eu disse. Eu preciso. É o meu dinheiro.

– Você não vai. Será que você não pensa, fedorenta? Esse psicopata pode aparecer lá a qualquer hora.

– Ele pode aparecer lá a qualquer dia. Então eu não vou trabalhar mais por causa de Mike?

– Hoje não.

– AAAARGH! – Fechei meus punhos com força de tanta raiva que sentia. Tanto de Mike quanto de Justin, apesar dele me salvar daquela situação. – Me leve para casa então. – Disse, bufando ao terminar a frase.

– Não. Nós vamos para a gravadora.

– Como é? – Virei para encará-lo, porém não fui correspondida.

– Vamos para a gravadora. – Repetiu.

– Meu dia já foi estressante o suficiente para eu ter uma dose de Selena nele.

– Você terá de agüentar isso. É melhor uma dose de Selena arrogante, do que uma dose de Mike psicopata.

– Pois é, mas eu estou sem paciência, ok? Até.

Justo na hora que ele não deveria olhar, Justin me fitou, para ver o que eu faria. Percebendo que eu abriria a porta para fugir, ele a travou.

– Destrava isso agora, Bieber. – Ordenei, rosnando.

– Só quando chegar na gravadora.

Arquei minha sobrancelha, tendo um pensamento feliz, e de um sorriso de lado, um pouco zombeteiro.

– Se pensou em fugir quando chegarmos à gravadora, você se deu mal. Desculpe acabar com a sua felicidade. – Disse, como se lesse meus pensamentos.

– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA. – Gritei de raiva, como uma criança. Comecei a bater minhas pernas, e meus braços involuntariamente, esperneando, exatamente como uma criança.

Justin gargalhava, olhando minha cena vergonhosa.

– Por que apareceu? – Perguntei, para de espernear, e me comportando como uma pessoa. Senti falta de humilhar alguém. – Deu de ombros.

– Mas é claro... que não. Anda, Bieber, desembuche. – Pedi.

– Ok. Tentei brigar com alguém ontem, mas não me senti superior a essa pessoa, como me sinto com você, entendeu? Só por isso que apareci. É bom brigar com você porque eu me sinto superior, aliás, eu sou superior. – Disse, coçando seu queixo intrigado.

– Claro, quando se fala em como uma pessoa é podre por dentro você é superior a todas.

– Você diz isso porque ainda não provou minha língua. – Olhou pra mim, maliciando a conversa.

– Argh, não comece com isso ok? Você sempre levando pra esse lado.

– Qual lado você quer que eu leve então? O da cama, talvez? – Disse, tirando sua mão do freio, e a colando em cima da minha esquerda, que estava sobre meu joelho.

Seu toque me fez estremecer. Peguei sua mão e a joguei, fazendo-a bater no freio. Ele gemeu de dor, mas ignorou.

– Ah, entendi. Você é do tipo selvagem, humm... – Coçou o queixo, me avaliando.

– E você é do tipo bro. – Ironizei, e deixei a resposta no ar.

– Tipo bro? – Perguntou em dúvida.

– Do tipo brocha, que não faz nada. Só tem lábia. – Provoquei, sorrindo.

– Só não te provo o contrário, porque causaria um caos aqui no trânsito, e amanhã seríamos primeira página nas revistas e jornais.

– Eu disse que você só tem lábia. – Provoquei mais ainda.

Ele batucou o volante com os dedos, suspirando devagar.

– Lindsay, você não vai conseguir me atiçar, sinto muito.

– Nem eu queria. – Dei de ombros.

Chegamos à garagem da gravadora. Justin estacionou, e descemos.

– Kenny. – Ele chamou.

Um homem alto, forte, um pouco barrigudo, negro, e simpático, virou-se, nos olhando sorridente.

– Fala aí, Biebs.

– Tá vendo essa garota aqui? – Ele apontou pra mim. Kenny assentiu. – Então, provavelmente ela vai querer sair daqui, mas avise aos outros pra não deixarem. – Ordenou, Justin.

– Já é, Biebs. Super protetor você hein, com a sua namorada. – Kenny gargalhou.

Corei, e Justin reprimiu os lábios, sem graça e com raiva ao mesmo tempo.

– Ela. Não. É. Minha. Namorada. – Disse pausadamente entre dentes, e com o cenho franzido.

– Beleza. É sempre muito difícil assumir no começo. Te entendo, Biebs. – Kenny deu de ombros, nos dando as costas e andando em direção ao elevador.

Seguimos Kenny. Mas as portas do elevador fecharam antes de conseguirmos alcançá-las. Justin bufou.

– Kenny ama me provocar.

Não respondi. As portas voltaram para a garagem, abrindo-se. Adentramos no elevador, e subimos. Chegamos ao segundo andar. Era parecido com o quarto, mas tinha menos portas. Fui no encalce de Justin sem saber aonde chegaríamos. Ele abriu uma porta.

Era o estúdio da gravadora. Pelo vidro que dividia a sala de som da sala de canto, vi Selena rindo com uma cara de boné. O cara de boné veio falar conosco. Simpático como Kenny.

– Prazer, - disse estendendo sua mão – eu sou Scooter. – Sorriu ao completar a frase, e apertamos nossas mãos.

– Sou Lindsay. – Sorri.

Selena juntou-se a nós.

– Hoje você veio trazer doce, não foi? Estou com tanta vontade de comer um. – Disse, tentando parecer doce.

– Não, não trouxe. – Respondi, com uma expressão vazia.

– Sel... – Advertiu Justin.

– Mas ela tá com o uniforme. – Apontou pra mim, fazendo uma expressão de desprezo. – Desculpa, não tem como adivinhar né. Enfim, desculpa. – Revirou os olhos. – Ande, vamos logo gravar estou ansiosa. – Puxou a mão de Justin saindo do estúdio.

– Venha. – Disse Scooter para mim, e eu o segui.

Saímos da sala e caminhamos para uma porta a direita. Era a última do corredor. Scooter a abriu, segurando-a para eu passar. Passei, entrando, e ele logo em seguida. Estávamos num mini teatro. As cadeiras eram estofadas por um couro, que naquela iluminação parecia ser azul celeste. Justin e Selena estavam no palco testando o microfone. Scooter subiu uma escada com cinco degraus, e fez sinal com a mão para eu o seguir. Chegamos na coxia, porém Scooter foi para o palco. Não me atrevi a dar mais nenhum passo, fiquei ali na coxia, os observando. Ele preparava Selena e Justin, dando as comandas, e os colocando frente a frente. Cerca de dois minutos, chegaram mais pessoas. Deveriam ser o pessoal da produção, para ver a sintonia entre os dois. Pelo o que pude perceber, a sintonia entre eles era bem intensa. Apareceu um cara, do outro lado do palco, pondo-se atrás de uma aparelhagem, e testando o som. Deveria ser o DJ. Scooter disse algo para o DJ, e veio em minha direção, pondo-se ao meu lado. Uma batida lenta, e boa começara. Selena movia-se junto com a batida, sorrindo para Justin. Ela começou a cantar. Até que sua voz era bonita sem play back. Parecia ser o refrão, pois Justin estava cantando junto com ela. Cruzei meus braços à frente de meus seios, os observando com mais atenção. Scooter pediu que parassem. E caminhou até eles.

– Justin, me diga: quantas vezes você já cantou Overboard? – Perguntou Scooter, parecendo nervoso.

– Muitas. – Respondeu Justin.

– Quantas vezes você cantou Overboard separado de Jessica o tempo todo? Nenhuma! Depois do primeiro refrão vocês se juntam, interpretam carícias no palco, até o final, ou eu estou errado?

– Não está.

– Então, por favor, faça o mesmo com a Selena, dá pra ser?

– Dá.

Scooter voltou para o meu lado, e fez um sinal com a mão. A batida iniciou-se novamente. Queria ver a expressão de Justin, porém ele estava de costas para mim.

– Pára, pára, pára! – Ordenou Scooter, voltando ao palco. – Justin, você quer que eu faça isso pra você aprender? Por que pelo o que parece, você desaprendeu a pequena coreografia e encenação de Overboard. O que tá acontecendo, é porque Jessica não está aqui? Você sabia que isso ia acontecer. Tinha de se preparar. – Brigou Scooter.

Justin virou o rosto, olhando para a sua platéia.

- Eu não tenho nenhum compromisso hoje, e acho que ninguém aqui também. Então eu não vou me importar de ficar aqui até isso ficar excelente. Solta essa batida. – Pediu, voltando para meu lado.

A batida iniciou mais uma vez. Selena começou a cantar, ainda sorridente. Balancei a cabeça conforme a batida. O refrão começou, dessa vez Justin evoluíra, ele pegou embaixo de seu queixo. Agora ele cantava sozinho, e se aproximava dela. Ela parecia fugir, mas sorrindo, fazendo propositalmente. Justin andou para acompanhá-la. Ele passou seu braço livre por sua cintura, deixando seus rostos colados, separados apenas pelos microfones. Apertei meus braços contra meus seios, causando dor. Eu não entendia porque fazia aquilo, era apenas um sentido. Justin tirou a mão da cintura dela, afrouxei meus braços, porém ele afagou seus cabelos, e virou-se em minha direção. Eu podia ver seu rosto, ele também estava sorrindo. Apertei meus braços mais ainda contra meus seios, até que a dor atingiu o coração. Não deu pra agüentar.

– Ahn... Vou tomar uma água. – Sussurrei para Scooter, porém mesmo sussurrando minha voz saíra embargada.

Ele assentiu sorrindo. Saí do teatro.

Cheguei ao corredor. Corri, olhando cada porta, procurando pelo banheiro feminino. Achei-o. Abri a porta. O balcão com as pias ficavam ao lado direito. Meu pus de frente para o grande espelho que cobria toda a extensão da parede. Meu rosto estava vermelho. Minhas orbes verdes pareciam querer saltar dali, tamanha era a repulsão que eu sentia. Meus lábios estavam comprimidos. Há um bom tempo eu não ficara com raiva como estava agora. Soquei a pia, gritando de raiva, e de dor. Balancei meu punho direito, para aliviar a dor. Gritei novamente. Eu esperava que as paredes fossem a prova de som, ou estaria atrapalhando o ensaio do casal. Bufei pelo nariz. Abri a torneira, colocando minhas mãos embaixo de seu orifício. A água caiu, e pus meu rosto entre minhas mãos, o lavando. Fechei a torneira. Peguei o papel toalha na máquina, e enxuguei meu rosto. Respirei fundo. Saí do banheiro. Ao lado da porta havia um bebedouro. Abaixe-me para beber. Ingeri água suficiente para um dia. Caminhei para voltar ao estúdio, afinal, a crise passara. Porém a porta abriu-se, e dela saíram Justin e Selena gargalhando. Logo atrás veio Scooter. Não esperei Justin chegar ao meu lado para pegar o elevador. Corri para o elevador. Logo as portas abriram-se. Adentrei nele. Justin nem ouvira o barulho das portas, de tão entretido que estava com Selena. Apertei o botão para o térreo. Cheguei à recepção, Kenny estava lá. Fingi que não o vira e continuei andando para sair do prédio.

– Ei! Mocinha, aonde pensa que vai? – Perguntou Kenny, entrando em minha frente.

– Pra casa. – Respondi, atônita.

– Esqueceu a ordem do Biebs?

Mas é claro. Revirei os olhos, e tentei parecer séria.

– Por favor, Kenny, minha mãe me ligou, dizendo que precisa de mim, pois meu pai está passando mal, e eu preciso ajudá-la. – Disse, quase implorando. Acho que o convenci.

– Bom, se a situação é essa, então você pode ir. Biebs não vai ligar. Melhoras para o seu pai. – Desejou Kenny, acenando.

– Obrigada. – Tentei sorrir.

Cheguei à calçada, e saí correndo em direção a meu prédio. Eu não tinha nenhuma grana na calça, e a gravadora ficava um pouco longe do prédio, mas não importava. Correndo não demoraria muito pra chegar. Lembrei que deixara a mochila no carro de Justin. Tarde demais. Eu não voltaria lá.

Capítulo 10 – Monotonia

Engoli a lasanha, porém Justin continuava lá, com a boca aberta, a lasanha quase caindo.

– Vem cá, o mulherengo, você nunca viu uma mulher de top? – Perguntei. Sua perplexidade me assustava.

Ele engoliu a lasanha e bebeu um pouco de sua coca.

– É claro que sim. Que pergunta idiota. – Revirou os olhos. – Mas eu não esperava isso. Mesmo você sendo fedorenta, e arrogante, eu sou homem, e isso mexeu comigo...

– Argh. Que imbecil.

Justin não me respondeu. Comemos o resto da lasanha sem catchup, graças à infantilidade de Justin. Peguei os pratos e os copos, os levando para o pia. Peguei duas colheres na gaveta, e as coloquei em cima do balcão. Fui até a geladeira, e abri o freezer. O brigadeiro estava no ponto ideal. Fechei a porta, peguei as colheres no balcão, e voltei à sala, sentando no sofá, juntando as duas pernas em cima do assento. Justin pulou para o meu lado, pegado uma colher. Pegamos uma colherada de brigadeiro ao mesmo tempo, segundos depois já estávamos com elas na boca.

– Hummm... Pelo menos pra isso você serve, não é, fedorenta?

– Claro, imbecil prepotente. Aliás, sirvo para outras coisas também, porém essas, você nunca provará.

– Nunca diga dessa água não beberei. – Comentou, presunçoso.

– Dessa água não beberei. – Desafiei.

– Eu sei que você está dizendo isso pra eu te roubar um beijo, mas para sua infelicidade não farei isso.

– E você está falando isso porque não tem atitude, e quer que eu tome uma providência, para a sua infelicidade também não farei isso. Contente-se com a Selena.

Justin fitou-me com as sobrancelhas erguidas. Retribuí o olhar com a mesma intensidade.

– Eu não tenho atitude? – Indagou, indignado.

Dei um sorriso desdenhoso e apoiei a colher na tigela de brigadeiro. Ergui os olhos e encarei-o.

– Isso mesmo.

Bieber respirou fundo, medindo-me com suas orbes amendoadas. Deixou sua colher ao lado da minha e eu inclinei o corpo para trás quando ele pousou uma mão ao meu lado, apoiando-se no encosto do sofá. Arregalei os olhos e comecei a soar frio. O que diabos era aquilo? Justin levou a outra mão á minha cintura e meus pelos se arrepiaram ao sentir seus dedos entrarem em contato com minha pele. As coisas estavam erradas. Muito erradas. Ele não desconectava os olhos claros dos meus e aquilo me deixava nervosa. Por meros segundos, pensei ter visto algo ali. Despertei de meus devaneios quando senti meu corpo ser puxado com força, fazendo-me colidir contra o de Bieber. Entreabri meus lábios em busca de algum tipo de xingamento. Nada saía além de uma respiração ofegante. Seu rosto estava próximo e meu coração batia estaca dentro do peito. Ele não tinha o direito de causar aquilo em mim, aquele nervosismo aparente até mesmo em meus gestos, como se estivesse escrito tudo o que eu sentia em minha testa. Até que tudo desabou quando ele tirou a mão de minha cintura e afastou-se com um sorriso metido estampado no rosto.

– Justin Bieber e seu efeito infalível nas garotas. – Murmurou, risonho.

Senti minhas bochechas queimarem.

– Como ousa fazer isso comigo? Eu não sou sua amiga manipulada, Selena Gomez. 

– Declarei, tentando recuperar o controle sobre meus sentidos.

– Claro que você não é a Selena, nunca chegamos a esse ponto.

– Como eu pude deixar isso acontecer... – Fiz um gesto de pesar com a mão. 

Levantei, começando a caminhar de um lado para o outro, sem saber o que fazer. Teria de ouvir os desaforos de Justin sobre aquele momento até o dia em que perdêssemos contato. Pelo menos eu já não estava mais ofegante devido a sua presença. Meus sentidos, e minhas reações estavam equilibrados, sobre controle. Olhei Justin, e o vi fazer menção em falar, porém corri, e pulei em seu colo, encaixando minhas pernas ao lado das suas perfeitamente. Justin esbugalhou os olhos. Soltei uma risada com escárnio pelo nariz, e enchi a colher largada na tigela de brigadeiro. Voltei minha atenção para Justin, passando minha língua no brigadeiro e degustando-o. Senti Justin ficar tenso por baixo de mim. Passei meu dedo indicador esquerdo por seus lábios, fazendo-o abri-los um pouco. Puxei com meu dedo seu lábio inferior, para abrir mais. Quando sua boca estava aberta na medida certa, a ocupei com a colher de brigadeiro. A colher devia ter entrado em contato com sua garganta, pois Justin parecia sufocado, e seu rosto estava vermelho. Tirei a colher, babada. Argh. Mas o nojo ficaria pra mais tarde. Ele ainda estava sem ar, aproximei meu rosto, colando meu nariz com o seu. Justin estava estagiado, ele nem sequer ficara com raiva de mim, por engasgá-lo. Rocei a ponta de meu nariz ao seu, bem de leve. Ele ficou boquiaberto, buscando por meus lábios, assim como eu ficara há alguns minutos.

– Lindsay e seu efeito infalível nos garotos. – Imitei-o, e sorri, graciosamente. Levantei de seu colo. Olhei para Justin, ele parecia estar... com prazer. – Realmente, você e Selena nunca chegaram a esse ponto.

Fiz um barulho com a boca de escárnio, e caminhei até a porta, abrindo-a.

– Já pode ir. – Apontei com a mão, mostrando o corredor.

Ele levantou, e pôs-se ao meu lado, me fitando de uma maneira desconhecida.

– Tem certeza? Eu poderia ficar... – Deixou o complemento no ar.

– Não é preciso. – Disse firme, arcando minha sobrancelha direita.

– Posso voltar amanhã?

– Não pergunte, faça.

– Venho ou não?

– Fica a seu critério. – Deixei a resposta no ar.

Justin assentiu, com uma expressão risonha, e sarcástica ao mesmo tempo. Ele foi para o corredor, e se despediu com um aceno de mão. Fechei a porta. Senti um vazio. Eu não queria que Justin fosse embora, e se por acaso faltasse luz? Fui ao quarto, abri minha bolsa cinza, pegando o maço de cigarros já aberto, voltei para a sala. Joguei-me no sofá, pegando o isqueiro no criado-mudo, e acendendo o cigarro. Levantei para desligar a luz, e liguei o abajur que ficava no criado-mudo do lado esquerdo do sofá. Encostei-me no apoio para braço do sofá, ao lado do abajur, e dei a primeira tragada. O resto da noite prolongou-se a isso, acender cigarro, o tragar, jogá-lo fora quando a guimba estivesse próxima, e em seguida acender outro. Com meus olhos pensando de tanto sono, resolvi dormir, por mera coincidência o maço de cigarros acabara naquele momento. Arrastei-me até o quarto, chegando lá desabei na cama, o sono era tanto que não tive um segundo de reflexão.

                                                            Justin P.O.V

Fui tomado por um sentimento de compaixão, e resolvi levar Lindsay ao mercado, para ela ter comida em casa. Depois fomos para seu apartamento. Não satisfeita em eu ter gastado meu dinheiro com compras para ela, Lindsay pede minha ajuda para guardar as comidas. Ajudei-a, e assisti uma partida dos Lakers enquanto ela “preparava” a janta. Lindsay sentou-se ao meu lado, aguardando a comida ficar pronta. A paz já havia reinado entre nós por muito tempo, isso não era comum nas últimas 24 horas. Obviamente brigamos. Mas faltou luz. Desesperada, Lindsay procurou o conforto em meus braços. Fui pego de surpresa por sua reação, mas nem por isso fugi. A abracei forte. O motivo por esse surto fora sua fobia pela escuridão. Perguntei porque ela tinha fobia, como de costume não obtive resposta, e Lindsay se esquivava das perguntas dizendo que isso não vinha ao caso. Eu ainda desvendaria seu mistério, cedo ou tarde. A luz voltou. Esperamos alguns minutos, e a lasanha ficara pronta. Nos servimos, e resolvi fazer uma brincadeira com Lindsay. Não dera certo no começo. Mas acabou que nos desculpamos sem precisar falar, apenas rindo um do outro. Lindsay tirou sua blusa suja de catchup, ficando só de top, a fim de me seduzir. Bom, ela conseguiu minha atenção. Terminamos a lasanha, e iniciamos a sobremesa, brigadeiro de panela.

Zombei Lindsay, falando que pelo o brigadeiro ela servia pra fazer. Eu, e minha língua maior que a boca, fizemos Lindsay, e eu entrarmos numa disputa não muito saudável. Ela mexera comigo, e vice-versa. Mas não era pra isso acontecer. Só era pra ela se sentir balançada, eu não. Porém não foi bem dessa maneira. E eu não queria me envolver com ela. Só que agindo dessa maneira imbecil, seria inevitável não se envolver. Bufei, fitando o teto de meu quarto. E ela ainda por cima deixara uma questão no ar. Ir a sua casa amanhã, ou não. Eu deveria ir? Dúvidas, e mais dúvidas. Eu não ia. Manter distância de Lindsay seria a melhor maneira para evitar um envolvimento futuro. Ela e eu não tínhamos um ponto em comum. Balancei a cabeça, e gemi de angústia por me martirizar com esses pensamentos. Fechei os olhos. Dormi.

                                                   3ª Pessoa Onipresente

Talvez Justin nunca ouvira falar em distância, em saudade, em sentir falta. A distância é tão traiçoeira, que quando pomos um fim nela, as coisas desandam. Desandam tanto a ponta da confusão aflorar, e implorar por cada parte do outro indivíduo. Mal sabe ele que ironicamente a distância aproxima, mais e mais. Se soubesse, jamais teria deixado Lindsay esperando por ele, em seu apartamento, naquele domingo à tarde.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Capítulo 9 – Gula

 Vai fazer algo agora, Justin? – Perguntou Sel, aparecendo ao meu lado.

 Ahn... – Pensei numa desculpa. – Deixar Lindsay em casa, e depois sair com a minha mãe.

 Ah, então tá. Mande um beijo para ela. – Sel sorriu. – Até segunda. – Disse, passando sua mão em meu braço esquerdo, e partindo.

 Ok. Até. – Sorri.

Lindsay parecia estar com o corpo ali, mas a consciência em outro lugar. Ela nem reparara que havia pessoas por todo o corredor, e que eu estava em pé, ao seu lado.

 Lindsay. – Chamei-a. De nada adiantou. – Lindsay. – Chamei novamente, nada de novo. – LINDSAY! – Gritei.

O susto que ela tomara, a fez pular do sofá, e depois retornar ao assento, mas me olhando furiosa.

 Por duas vezes te chamei, educadamente, mas você não ouviu, então parti pro escândalo. – Justifiquei.

 Claro, sempre arranjando um motivo pra tudo. – Disse, revirando os olhos.

 Vamos. – Disse eu, começando a andar em direção ao elevador.

 Pra casa? – Perguntou, com uma ponta de animação na voz.

 Não. – Balancei a cabeça negativamente.

 Então pra onde vamos? – Sua voz subiu duas oitavas.

 Ainda não decidi. – Confessei.

Lindsay pôs-se ao meu lado, bufando, e entramos no elevador, que acabara de abrir as portas. Fomos calados até a garagem.

Entramos no carro. Pisei no acelerador, e saímos da garagem subterrânea para uma rua clara e arejada. O sol não cansava de iluminar cada metro quadrado, nos deixando um pouco exaustos e soados. Fechei as janelas, liguei o ar-condicionado, e fiquei imaginando um lugar que podíamos ir. Aquela reunião me deixara com fome.

 Sempre ficando por cima com sua arrogância, e seu egocentrismo. Incrível, como consegue?

 Segredo. – Soltou uma risada abafada.

Virei a cabeça pra trás e revirei os olhos. Empurrei o carrinho, andando com pressa. Fui para a ala de comidas que realmente davam sustento para o corpo. Dessa ala não peguei muitos mantimentos. Fui para a ala de laticínios. A partir dessa ala o carrinho começou a ficar cheio. A cada prateleira que eu passava, jogava algo no carrinho. Fomos para a ala das carnes. Depois dos frigoríficos. Congelados eram os meus preferidos, pois não tínhamos que nos preocupar se eles ficariam bons ou não, é só colocar no micro-ondas que tudo está resolvido. Isso é uma benção divina pra alguém tão preguiçosa como eu. Chegamos à ala de biscoitos. Nessa ala, Justin fez questão de me ajudar. O carrinho estava quase cheio. Justin ficou ao meu lado durante todo esse tempo, até que decidiu se afastar de mim, indo para outra ala. Empurrei o carrinho com pressa, para acompanhar seus passos. Ele entrara na ala de doce.

 Ah, não. Você não vai gastar seu dinheiro com doce, não é mesmo? – Perguntei, enquanto ele pegava três sacos de balas, cada um de um sabor.

 Vou, sim, porque?

 Lá em casa pode até faltar comida, mas doce jamais. E lembre-se: eu trabalho numa doceria. – Disse, com uma expressão de obviedade.

 Ah, é. Esqueci. Pelo menos isso. – Suspirou com ar de deboche, e devolveu os sacos as prateleiras.

Seguimos para a ala das bebidas, e depois para a dos vegetais e legumes. Era sempre bom comer algo saudável para quem vivia com doces constantemente. Encerramos essa maratona pelo mercado, e fomos para o caixa, pagar pelas compras. Na verdade Justin pagava, enquanto eu embalava as compras nas sacolas, e as colocava dentro do carrinho para levar até a garagem. Discretamente me atrevi a olhar o preço total da compra. Discretamente fiquei boquiaberta. Mesmo parcelado, demoraria meses para eu pagar tudo a Justin. Me arrependi de ter pego tanta coisa. Fora desnecessário. A moça do caixa entregou a nota para Justin, e nós seguimos em direção a garagem. Chegamos ao carro de Justin, tiramos as sacolas e as colocamos no porta-malas. Deixei o carrinho numa vaga vazia, e entrei no carro. Justin deu a partida, e seguimos para meu prédio.

Chegamos à garagem do prédio. Eram muitas sacolas para carregarmos. Pedi que Justin ficasse entre as portas do elevador para elas não fecharem enquanto eu descarregava o porta-malas. Coloquei todas as sacolas dentro do elevador, e dessa vez quem ficou na porta fui eu, para Justin fechar o carro. Ele voltou, e subimos.
O elevador parou, mas apenas eu saí. Justin ficara na porta enquanto eu carregava todas as sacolas para meu apartamento. Bem que ele gostou de ficar parado ali, não fez nenhum esforço para carregar nada. Peguei a última sacola, e caminhei para o apartamento, Justin veio no meu encalço.

Ele fechou a porta enquanto eu tirava as compras das sacolas, e as colocava no armário.

 Dá pra ajudar a colocar as compras pelo menos no armário? – Perguntei, virando para olhá-lo, e encostando-me no balcão.

 O pior eu já fiz, que foi pagar. Então pare de ser tão mal-agradecida, e faça isso sem reclamar. – Disse, jogando-se no sofá.

 A ajuda ao próximo mandou lembranças. – Disse, sarcástica.

 Argh. Você não cansa de ser irritante? – Bufou, e levantou, vindo me ajudar.

 Idem. – Disparei.

 Não sei onde guardo esses troços aqui. – Disse, pegando a sacola com os vegetais, e os legumes.

 Na gaveta de baixo, da geladeira. – Disse eu. – Mas coloque com cuidado, senão vai amassar.

 Ainda tem esse negócio de colocar direito pra não amassar? Credo. – Protestou, agachando-se para abrir a gaveta, e guardar os vegetais, e os legumes.

 Você já experimentou parar para ver sua mãe guardando as compras? – Perguntei, chocada com a falta de conhecimentos caseiros.

 Não. – Disse, pensativo.

 Então experimente, talvez você não seja um dono de casa tão ruim quanta aparenta ser.

 Falou a melhor dona de casa, né?

 Guarde logo isso.

Ficamos em silêncio enquanto terminávamos de guardar tudo. Joguei as sacolas na lixeira, e fui para o banheiro lavar as mãos, Justin veio atrás, para lavar as suas também. Lavamos nossas mãos e voltamos para a sala.

 Qual será o filme de hoje? – Perguntou Justin, sentando-se no sofá e abrindo seus braços, os estendendo por cima do encosto.

 Não terá filme. – Disse firme.

 Como é? – Virou-se para me olhar, não acreditando no que eu dissera.

 É isso, não terá filme nenhum.

 Pelo menos ligue a TV.

Peguei o controle ao lado da TV e a liguei. Joguei o controle ao seu lado.

 Aonde vai?

 Creio que você me levou ao mercado para comprar, e depois vir comer aqui, ou não?

 Ah, sim. Exatamente.

 Vou preparar alguma coisa.

Abri o freezer. Peguei a caixa de lasanha de quatro queijos que acabara de guardar. Fechei o freezer. Tirei a embalagem da lasanha, e a joguei na lixeira. Coloquei-a no micro-ondas. Abri a porta do armário superior, e peguei uma lata de leite condensado, e uma de achocolatado. Peguei uma pequena panela de inox e a coloquei no fogão, acendendo o fogo. Primeiro despejei o leite condensado, logo após despejei algumas colheradas de achocolatado. Peguei uma colher laranja, sua textura era mole, mas era desse jeito para não arranhar a panela enquanto eu mexia. Passei aproximadamente 5 minutos na frente do fogão mexendo o brigadeiro de panela. Após estar pronto, coloquei-o numa tigela de vidro e o levei ao freezer, para esfriar mais rápido.

Lavei minhas mãos ali na pia mesmo, e as sequei no pano de prato. Enquanto aguardava a lasanha ficar pronta, fui sentar ao lado de Justin.

 Basquete? – Perguntei com desdém.

 Óbvio. Você não gosta? – Perguntou, observando a partida na TV.

 Não tenho nada contra, mas não curto perder meu tempo em frente à TV vendo isso. – Apontei para a TV.

 Mas perde seu tempo com marginais e fumando. – Disparou, ainda observando a TV.

 Mas mesmo marginais eles ainda são melhores que você. – Cuspi as palavras.

 Desde quando eles te levaram no mercado e gastaram tanto com compras? Isso é se eles comerem, né. Ah, eles comem, mas são vegetarianos, só ficam na erva. – Zombou.

 Se são as compras que você quer, ótimo. Pegue tudo! Não preciso disso. A lasanha você come, e o resto leva pra casa. Estúpido!

 Eu não quero nada. Porém estou mostrando que eles não são melhores do que eu. – Deu de ombros.

 Ninguém é melhor ou pior do que ninguém. Aliás, estou começando a discordar disso, você é pior que muita gente por aí.

 Mas não pior que você. – Me olhou com frieza e desprezo.

Perplexa, ergui meu braço direito para acerta-lhe um tapa bem dado no rosto, mas faltou luz. O desespero tomou conta do meu consciente, e de meu inconsciente. Eu tinha fobia de escuridão. Tentei fazer com que meu medo fosse retrogrado, mas foi em vão, não consegui refrear nada. E na hora do desespero não há lugar para o orgulho. Agarrei Justin, e o abracei com força, apertando meus braços em volta de sua cintura. O peguei de surpresa, mas ele não pareceu se incomodar, e retribuiu o abraço, de forma que me deixou reconfortada naquela escuridão.

 Uma ótima maneira de pedir desculpa sem precisar falar. – Disse Justin, como sempre presunçoso.

 Eu não estou tentando te pedir desculpas, idiota.

 Então me solte. – Disse, tirando seus braços de minhas costas e me afastando.

 Não! – Gritei, com o grau do medo aumentando a cada centímetro que Justin me afastava dele. – Por favor, não faça isso. – O agarrei novamente.

 Mas o que tá acontecendo? Isso é um pretexto pra me beijar? Cuidado que pode acabar funcionando hein... – Disse, prepotente.

 Ao menos uma vez ajude alguém que realmente precisa de ajuda sem presunção.

 Não sou reabilitação.

 É claro que não. – Disse, tensa.

Mas a tensão era por causa de Justin, não pela escuridão.

 Então porque você me abraçou? Tem que ter algum motivo.

 Eu tenho fobia de escuro. – Admiti.

 Para ter fobia é preciso ter algum motivo também.

 Isso não vem ao caso.

 Então me solte. – Disse, quase me afastando. Porém eu o segurei pelos braços.

 Não! Pare de charme.

 Eu quero saber.

 Nada de importante. Esqueça isso, não vai influenciar em nada na sua vida. – Disse, tentando fazer com que ele desistisse.

 Você e seus mistérios. Desvende-os logo. – Pediu.

 Não posso. – Sussurrei.

 Você nunca pode! – Alterou seu tom de voz.

 Nunca posso? Nos conhecemos ontem, por favor, né...

 Mas você já está aqui me abraçando, dizendo que tem fobia de escuro. Já disse que se envolveu com um marginal, que não mora com seus pais, que vive sozinha, que não estuda, pois trabalha. E Isso não tem nada a ver com esse assunto.

 Custa falar? – Insistiu.

 Justin, eu sei que você não se importa com o que eu sinto, mas eu não vou falar nisso, porque dói muito. Me machuca internamente. Nunca conseguirei falar nisso, e não sentir dor, sempre choro lembrando. E eu não quero chorar, primeiro: porque não gosto, segundo: não faria isso na sua frente.

 Já sei, algum romance seu não deu certo, o carinha terminou com você no escuro, daí essa fobia? – Disse, querendo animar o momento.

 Antes fosse.

 Não vou insistir nisso. Você acabará falando de alguma forma.

 Dificilmente.

 Dificilmente não é impossível.

A luz voltara. Imediatamente me afastei de Justin, para não haver prepotências imediatas. Ouvi o barulho do micro-ondas quando ele ligou automaticamente. Em minutos a lasanha ficaria pronta. Fiquei ali esperando, sem graça, já estava me arrependendo de ter abraçado Justin. Ele usaria isso como pretexto para zombar de mim.

O micro-ondas apitou, anunciando que a lasanha já estava pronta. Levantei, andei até o balcão e peguei uma luva de cozinha. Coloquei a luva e tirei a lasanha, colocando-a em cima do balcão para esfriar. Peguei os dois pratos no corredor e os talheres. Peguei uma faca maior na gaveta de talheres, e cortei a lasanha na metade, colocando cada parte num prato. Fui para a geladeira, peguei o catchup, e a coca. Voltei para o balcão, e enchi dois copos com a coca.

 Vem pegar o seu prato. – Avisei a Justin, enquanto ia para o sofá.

Coloquei meu prato, o catchup, e o copo sobre a mesinha de centro, sentei no chão, coloquei catchup por toda a lasanha, peguei os talheres, e dei a primeira bocada na lasanha, que por sinal estava surreal. 

 Por que você não traz? – Perguntou, levantando do sofá.

 Aqui não tem empregada, não, meu bem. Mesmo que você faça compras pra mim. – Sorri.

Bufando, ele levantou, e foi pegar seu prato e o copo com a coca. Justin voltou, sentando-se ao meu lado. Ele já estava pronto pra comer, mas parou, lembrando-se de algo.

 Me passa o catchup, por favor? – Perguntou.

Dei o catchup a ele. Justin o destampou, sacudiu, e o apertou, mas na direção errada. Senti a massa vermelha bater em minha blusa e escorregar pelo tecido.

 AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! – Gritei, explodindo de raiva. Minha respiração ofegante me fazia bufar pelo nariz.

 Foi. Sem. Querer. – Ergueu os braços, como prova de inocência.

 Sem problemas. – Disse, ficando calma de repente, e tendo uma idéia.

Peguei meu copo de coca. Joguei tudo no rosto de Justin.

 Foi. Sem. Querer. – Imitei-o, irônica.

Justin passou as mãos sobre seus olhos, para escorrer o líquido, e poder me olhar. Se fosse possível, sua cor de vermelha passaria para roxo, quase preto. Ele bufava, ofegante. Isso estava me assustando. Justin abaixou, a modo de pegar seu prato com a lasanha. Astuta, ou não, previ seu movimento e o impedi.

 Não! – Segurei seus punhos. – A lasanha não, vai por mim, tá uma delícia. E é pecado desperdiçar comida, principalmente aqui em casa, que constantemente está em falta.

Justin emitiu um som, de quem queria rir, mas não podia. Ele não resistiu, e soltou uma risada escandalosa, que ecoou por todo o apartamento. Me deixei levar por esse breve momento que Justin não tentou ser arrogante comigo, e ri junto com ele. Por pouco ele não deixou o prato cair, já estava sem forças de tanto rir. O ajudei a colocar o prato na mesa, e continuamos rindo. Caímos no sofá, já sem força. Minha barriga doía como nunca, e com certeza a de Justin também, pois ele mantinha as duas mãos sobre ela. Eu já não sabia porque estávamos rindo tanto, provavelmente porque cansamos de ostentar que éramos fortes, e nos rendemos, mostrando o quanto éramos bobos, e que rir sempre fazia bem.

 Chega. Ai, ai. – Disse Justin, inspirando o ar, e soltando, para se controlar.

O fitei com uma expressão risonha, e ele riu novamente.

 Pare, por favor. Preciso comer, estou sem forças. – Disse, sentando-se no chão, com as pernas por debaixo da mesinha, e pegando os talheres para comer. Fiz o mesmo. – Você vai continuar com essa blusa? – Perguntou, de boca cheia.

 Ah, é. Você me distraiu, e eu esqueci de tirar. – Tirei a blusa, e a joguei no corredor.
Justin me fitou, boquiaberto, ainda com a lasanha na boca.

 Argh, pare de ser nojento. Engula logo isso. – Comentei, dando uma garfada na lasanha, e levando-a a boca.