quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Capítulo 10 – Monotonia

Engoli a lasanha, porém Justin continuava lá, com a boca aberta, a lasanha quase caindo.

– Vem cá, o mulherengo, você nunca viu uma mulher de top? – Perguntei. Sua perplexidade me assustava.

Ele engoliu a lasanha e bebeu um pouco de sua coca.

– É claro que sim. Que pergunta idiota. – Revirou os olhos. – Mas eu não esperava isso. Mesmo você sendo fedorenta, e arrogante, eu sou homem, e isso mexeu comigo...

– Argh. Que imbecil.

Justin não me respondeu. Comemos o resto da lasanha sem catchup, graças à infantilidade de Justin. Peguei os pratos e os copos, os levando para o pia. Peguei duas colheres na gaveta, e as coloquei em cima do balcão. Fui até a geladeira, e abri o freezer. O brigadeiro estava no ponto ideal. Fechei a porta, peguei as colheres no balcão, e voltei à sala, sentando no sofá, juntando as duas pernas em cima do assento. Justin pulou para o meu lado, pegado uma colher. Pegamos uma colherada de brigadeiro ao mesmo tempo, segundos depois já estávamos com elas na boca.

– Hummm... Pelo menos pra isso você serve, não é, fedorenta?

– Claro, imbecil prepotente. Aliás, sirvo para outras coisas também, porém essas, você nunca provará.

– Nunca diga dessa água não beberei. – Comentou, presunçoso.

– Dessa água não beberei. – Desafiei.

– Eu sei que você está dizendo isso pra eu te roubar um beijo, mas para sua infelicidade não farei isso.

– E você está falando isso porque não tem atitude, e quer que eu tome uma providência, para a sua infelicidade também não farei isso. Contente-se com a Selena.

Justin fitou-me com as sobrancelhas erguidas. Retribuí o olhar com a mesma intensidade.

– Eu não tenho atitude? – Indagou, indignado.

Dei um sorriso desdenhoso e apoiei a colher na tigela de brigadeiro. Ergui os olhos e encarei-o.

– Isso mesmo.

Bieber respirou fundo, medindo-me com suas orbes amendoadas. Deixou sua colher ao lado da minha e eu inclinei o corpo para trás quando ele pousou uma mão ao meu lado, apoiando-se no encosto do sofá. Arregalei os olhos e comecei a soar frio. O que diabos era aquilo? Justin levou a outra mão á minha cintura e meus pelos se arrepiaram ao sentir seus dedos entrarem em contato com minha pele. As coisas estavam erradas. Muito erradas. Ele não desconectava os olhos claros dos meus e aquilo me deixava nervosa. Por meros segundos, pensei ter visto algo ali. Despertei de meus devaneios quando senti meu corpo ser puxado com força, fazendo-me colidir contra o de Bieber. Entreabri meus lábios em busca de algum tipo de xingamento. Nada saía além de uma respiração ofegante. Seu rosto estava próximo e meu coração batia estaca dentro do peito. Ele não tinha o direito de causar aquilo em mim, aquele nervosismo aparente até mesmo em meus gestos, como se estivesse escrito tudo o que eu sentia em minha testa. Até que tudo desabou quando ele tirou a mão de minha cintura e afastou-se com um sorriso metido estampado no rosto.

– Justin Bieber e seu efeito infalível nas garotas. – Murmurou, risonho.

Senti minhas bochechas queimarem.

– Como ousa fazer isso comigo? Eu não sou sua amiga manipulada, Selena Gomez. 

– Declarei, tentando recuperar o controle sobre meus sentidos.

– Claro que você não é a Selena, nunca chegamos a esse ponto.

– Como eu pude deixar isso acontecer... – Fiz um gesto de pesar com a mão. 

Levantei, começando a caminhar de um lado para o outro, sem saber o que fazer. Teria de ouvir os desaforos de Justin sobre aquele momento até o dia em que perdêssemos contato. Pelo menos eu já não estava mais ofegante devido a sua presença. Meus sentidos, e minhas reações estavam equilibrados, sobre controle. Olhei Justin, e o vi fazer menção em falar, porém corri, e pulei em seu colo, encaixando minhas pernas ao lado das suas perfeitamente. Justin esbugalhou os olhos. Soltei uma risada com escárnio pelo nariz, e enchi a colher largada na tigela de brigadeiro. Voltei minha atenção para Justin, passando minha língua no brigadeiro e degustando-o. Senti Justin ficar tenso por baixo de mim. Passei meu dedo indicador esquerdo por seus lábios, fazendo-o abri-los um pouco. Puxei com meu dedo seu lábio inferior, para abrir mais. Quando sua boca estava aberta na medida certa, a ocupei com a colher de brigadeiro. A colher devia ter entrado em contato com sua garganta, pois Justin parecia sufocado, e seu rosto estava vermelho. Tirei a colher, babada. Argh. Mas o nojo ficaria pra mais tarde. Ele ainda estava sem ar, aproximei meu rosto, colando meu nariz com o seu. Justin estava estagiado, ele nem sequer ficara com raiva de mim, por engasgá-lo. Rocei a ponta de meu nariz ao seu, bem de leve. Ele ficou boquiaberto, buscando por meus lábios, assim como eu ficara há alguns minutos.

– Lindsay e seu efeito infalível nos garotos. – Imitei-o, e sorri, graciosamente. Levantei de seu colo. Olhei para Justin, ele parecia estar... com prazer. – Realmente, você e Selena nunca chegaram a esse ponto.

Fiz um barulho com a boca de escárnio, e caminhei até a porta, abrindo-a.

– Já pode ir. – Apontei com a mão, mostrando o corredor.

Ele levantou, e pôs-se ao meu lado, me fitando de uma maneira desconhecida.

– Tem certeza? Eu poderia ficar... – Deixou o complemento no ar.

– Não é preciso. – Disse firme, arcando minha sobrancelha direita.

– Posso voltar amanhã?

– Não pergunte, faça.

– Venho ou não?

– Fica a seu critério. – Deixei a resposta no ar.

Justin assentiu, com uma expressão risonha, e sarcástica ao mesmo tempo. Ele foi para o corredor, e se despediu com um aceno de mão. Fechei a porta. Senti um vazio. Eu não queria que Justin fosse embora, e se por acaso faltasse luz? Fui ao quarto, abri minha bolsa cinza, pegando o maço de cigarros já aberto, voltei para a sala. Joguei-me no sofá, pegando o isqueiro no criado-mudo, e acendendo o cigarro. Levantei para desligar a luz, e liguei o abajur que ficava no criado-mudo do lado esquerdo do sofá. Encostei-me no apoio para braço do sofá, ao lado do abajur, e dei a primeira tragada. O resto da noite prolongou-se a isso, acender cigarro, o tragar, jogá-lo fora quando a guimba estivesse próxima, e em seguida acender outro. Com meus olhos pensando de tanto sono, resolvi dormir, por mera coincidência o maço de cigarros acabara naquele momento. Arrastei-me até o quarto, chegando lá desabei na cama, o sono era tanto que não tive um segundo de reflexão.

                                                            Justin P.O.V

Fui tomado por um sentimento de compaixão, e resolvi levar Lindsay ao mercado, para ela ter comida em casa. Depois fomos para seu apartamento. Não satisfeita em eu ter gastado meu dinheiro com compras para ela, Lindsay pede minha ajuda para guardar as comidas. Ajudei-a, e assisti uma partida dos Lakers enquanto ela “preparava” a janta. Lindsay sentou-se ao meu lado, aguardando a comida ficar pronta. A paz já havia reinado entre nós por muito tempo, isso não era comum nas últimas 24 horas. Obviamente brigamos. Mas faltou luz. Desesperada, Lindsay procurou o conforto em meus braços. Fui pego de surpresa por sua reação, mas nem por isso fugi. A abracei forte. O motivo por esse surto fora sua fobia pela escuridão. Perguntei porque ela tinha fobia, como de costume não obtive resposta, e Lindsay se esquivava das perguntas dizendo que isso não vinha ao caso. Eu ainda desvendaria seu mistério, cedo ou tarde. A luz voltou. Esperamos alguns minutos, e a lasanha ficara pronta. Nos servimos, e resolvi fazer uma brincadeira com Lindsay. Não dera certo no começo. Mas acabou que nos desculpamos sem precisar falar, apenas rindo um do outro. Lindsay tirou sua blusa suja de catchup, ficando só de top, a fim de me seduzir. Bom, ela conseguiu minha atenção. Terminamos a lasanha, e iniciamos a sobremesa, brigadeiro de panela.

Zombei Lindsay, falando que pelo o brigadeiro ela servia pra fazer. Eu, e minha língua maior que a boca, fizemos Lindsay, e eu entrarmos numa disputa não muito saudável. Ela mexera comigo, e vice-versa. Mas não era pra isso acontecer. Só era pra ela se sentir balançada, eu não. Porém não foi bem dessa maneira. E eu não queria me envolver com ela. Só que agindo dessa maneira imbecil, seria inevitável não se envolver. Bufei, fitando o teto de meu quarto. E ela ainda por cima deixara uma questão no ar. Ir a sua casa amanhã, ou não. Eu deveria ir? Dúvidas, e mais dúvidas. Eu não ia. Manter distância de Lindsay seria a melhor maneira para evitar um envolvimento futuro. Ela e eu não tínhamos um ponto em comum. Balancei a cabeça, e gemi de angústia por me martirizar com esses pensamentos. Fechei os olhos. Dormi.

                                                   3ª Pessoa Onipresente

Talvez Justin nunca ouvira falar em distância, em saudade, em sentir falta. A distância é tão traiçoeira, que quando pomos um fim nela, as coisas desandam. Desandam tanto a ponta da confusão aflorar, e implorar por cada parte do outro indivíduo. Mal sabe ele que ironicamente a distância aproxima, mais e mais. Se soubesse, jamais teria deixado Lindsay esperando por ele, em seu apartamento, naquele domingo à tarde.

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