sábado, 12 de outubro de 2013

Capítulo 16 – Refúgio

                                                               Justin P.O.V

(...)

Estávamos no camarim. Cerca de 10 minutos o show começaria. Sel brincava com suas mãos, distraída. Scooter me fitava, sério.

 Façam tudo como o combinado. Se vocês se comportarem como fizeram até chegarmos aqui, está ótimo.

Bufei, torcendo o nariz para Scooter. Sel me olhou, sorrindo, mas sem confiança nenhuma. Olhei em meu relógio os minutos passarem.

 Vamos, Bieber. – Scooter chamou.

Coloquei as mãos sobre o joelho, e levantei. Saí do camarim, passando pelos corredores do backstage e chegando a coxia. Scooter assentiu, querendo dizer que chegara a hora. Assenti, comprimindo os lábios e entrei no palco. A histeria começou. Agradeci, e o show começou.

Tivemos um intervalo de 15 minutos. Abriríamos a próxima parte com Overboard. Sel pulava deixando os braços soltos para se aquecer. Apenas bebi minha água e fiquei sentado, refletindo. Scooter abriu a porta avisando que já estava na hora. Sel me olhou. Pisquei para ela, tentando fingir confiança. Entrelaçamos nossas mãos e caminhamos assim até chegarmos à coxia. Soltei a mão de Sel, pois ela entrava primeiro. Scooter pôs-se ao meu lado, aproximando seu rosto de meu ouvido direito.

 Pelo menos finja que está feliz. – Resmungou.

 Ah, claro. Me desculpe. – Sorri amarelo. Andei para o palco, era a parte do refrão.

Enquanto cantava minha parte sozinho, Sel me rondava, dando sorrisos. Eu apenas a olhava pela visão periférica. Refrão novamente. Puxei-a pela cintura, colando nossos rostos. Encostei nossos narizes, e passei as costas de minha mão sobre sua bochecha. Sel pareceu estremecer, mas sorriu. Tirei minha mão de sua bochecha, e procurei pela sua, para entrelaçarmos. Entrelaçamos nossas mãos, e as deixamos assim até a música acabar.

Sel saiu do palco, mas as fãs continuavam em choque, pela apresentação. Continuei cantando, fingindo estar tudo bem. Scooter deveria estar contente com a reação das fãs. Terminei o repertório. Todos fomos para o meu camarim.

 Amanhã a imprensa já estará comentando sobre o show de hoje! – Comemorou Scooter. – Por que não vamos a Starbucks comemorar? – Indagou, feliz.

 Ahn... Eu vou pra casa. Já tinha marcado de sair com mamãe. – Disse Sel, sorrindo para encobrir a mentira.

 E eu vou sair. – Disse em alto e bom som para todos ouvirem.

 Aonde você vai? – Perguntou Scooter, de repente ficando sério.

 Sair.

 Só não acabe com o que mal começou. Isso ainda pode lhe render muitas coisas boas, Bieber. Só faço isso para o seu bem. Não seja estúpido.

 Que bom que você quer meu bem. – Ironizei levantando.

Peguei a chave do carro no balcão do espelho e saí da sala. Caminhei até a garagem. Abri a porta, entrando e ligando o carro. Sel vinha correndo. Deixei o carro esquentando enquanto a esperava chegar. Abaixei o vidro.

 Eu me sinto tão mal quanto você. Mas ficar nessa situação não vai resolver nada. – Disse Sel. Assenti. Ela colocou suas mãos em minhas bochechas, aproximando seu rosto, e me dando um selinho estalado. – Pense nisso. – Deu uma piscadela e foi embora.

Fiquei estático, pensando no que Sel fizera. Mordi meu lábio inferior. Talvez aquela situação não fosse tão ruim quanto eu pensava. Eu tiraria um proveito daquilo, já que Sel me dera liberdade pra isso. Sorri com meus pensamentos, e dei a ré, saindo da garagem.


                                                          Lindsay P.O.V


Estava deitada no sofá, assistindo a TV, passava Friends. Bocejei. Abri os olhos, e vi uma sombra na porta. Fiquei de pé num pulo. Minha respiração acelerou com o susto. Era Justin. Abaixei os braços batendo nas laterais de minha coxa. Argh. Todo dia agora seria isso?

 O que você faz aqui? Apesar de ter a chave, saiba que aqui não é sua casa, e você não pode entrar a hora que bem entender. – Grunhi.

 Somos amigos, certo?

 E o que isso tem a ver? – Indaguei, ainda séria.

 Precisava de um consolo. – Disse Justin, fazendo beicinho.

 E você me procura pra te consolar? – Perguntei, vincando a testa, confusa.

 Você é a única amiga que eu tenho por perto.

 Não sabia. – Suspirei, me sentando.

Pela visão periférica vi Justin largando seu mói de chave sobre o criado mudo, e vindo sentar ao meu lado.

 Licença. – Disse ele, deitando, e colocando sua cabeça sobre minhas coxas. Os fios de seu cabelo roçaram em minhas coxas fazendo cócegas. Sorri pelas cócegas, e Justin viu. – O que foi? – Perguntou, me fitando.

 Ahn... O episódio. – Desconversei, apontando para a TV.

Justin virou, ficando de lado para ver a TV. Senti sua mão direita encostar-se a minha panturrilha. Aos poucos sua mão foi subindo e descendo devagar, fazendo carícias e me deixando arrepiada. Me mexi, desconsertada.

 Você sente cócegas? – Perguntou Justin, virando para me olhar.

Abaixei meu rosto, fitando seus olhos.

 Às vezes. – Dei de ombros.

 Será que são só cócegas mesmo? – Perguntou, passando sua mão novamente por minha panturrilha.

 Sim. – Tentei afirmar, fechando os olhos.

 Então porque você está tremendo?

Senti Justin se mexer, mas não abri os olhos. Sua respiração batia contra minha pele. Estremeci pensando. A senti perto de minha jugular. Suspirei pesado. Seus lábios encostaram-se a meu pescoço, dando leves beijos, e procurando por minha nuca. Virei meu rosto para a direita, deixando minha nuca em seus lábios. Sua língua encostou-se à cervical, fazendo-me estremecer por inteira. Apertei minhas unhas contra a palma de minha mão, tentando manter o controle, mas estava ficando impossível. Procurei pelo final de sua blusa, a levantando, mas ainda de olhos fechados. Arranhei sua barriga, e senti seu corpo se contrair. Justin passava sua língua por minha orelha, e depois mordia a cartilagem de leve. Encolhi meus ombros, me contorcendo. Ele soltou uma risada abafada em meu ouvido.

 Você é o meu refúgio. – Disse, beijando meu pescoço.

 Não acredito em você. – Respondi, com a voz farfalhando.

 Mas deveria.

 Então demonstre. – Pedi.

Justin levantou-se, puxando minha mão. Levantei. Ele caminhou de costas, e eu o acompanhei, curiosa com o que ele faria. Entramos em meu quarto.

Empurrei Justin para a parede, pressionando meu corpo ao seu. Ele ofegou, pego de surpresa. Mas depois sorriu, descaradamente. Desci minha mão até seu membro, que por sinal estava ereto. Aproximei meus lábios, juntando-os aos seus úmidos.

 Não é tão fácil me levar pra cama, Bieber. – Provoquei, apertando seu membro.

Justin fechou os olhos, engolindo em seco, e deu uma risada abafada.

 Eu não quero te levar pra cama. – Disse ele, não me convencendo.

 Ah, não?

 Eu quero te convencer a ir pra cama. – Completou.

 Humm...

Levantei sua blusa, e a tirei. Arranhei seu abdômen. Justin deu um gemido censurado. Ergui uma sobrancelha. Justin abaixou as alças da jardineira que eu vestia, e me empurrou. Eu já sabia onde cairia. Minha queda foi amparada pelo colchão. Deslizei meu corpo, cama a cima, colocando minha cabeça sobre o travesseiro. Justin sentou-se na beira da cama, e caminhou com seus dedos por minha perna esquerda, indo até meu umbigo. Sem alças, ficou fácil de Justin tirar o short da jardineira. Sentei, tirando minha blusa. Lá estava eu, só com as roupas íntimas. Justin levantou da cama, tirando sua calça, ficando apenas com a boxer vermelha. Ergui uma sobrancelha, avaliando seu membro, mesmo por baixo da boxer. Ele sorriu, malicioso, e se pôs em cima de mim. Nossos lábios se tocaram. Envolvi seu pescoço com pressa, entrelaçando minha mão em seus cabelos, e segurando com força. O beijei com uma necessidade desconhecida. Eu tinha uma sede a ser saciada.

Justin desgrudou nossos lábios, e desceu, beijando meu pescoço. Seus lábios percorreram meu copo até abaixo de meu umbigo. Suas mãos puxaram minha calcinha, fazendo-a sair por meus pés segundos depois. Suspirei. Os lábios de Justin percorreram minha perna acima, chegando ao ponto central. Arregalei os olhos, fitando o teto, e arquejei. Era um prazer surreal. Eu nunca sentira aquilo, não havia nada que pudesse ser igualado. Era descomunal. Talvez fosse um purgatório de prazer. Arquei minhas costas com o aumento de prazer. Me contorci, apertando o lençol e mordendo o lábio inferior. Justin colocou seu dedo indicador e o médio dentro de mim, fazendo movimentos calmos, mas precisos. Ardia, mas era uma ardência prazerosa. Minha respiração saía mais pesada do que antes. E então eu soube o que significava a palavra orgasmo. Aos poucos minha respiração voltava ao normal. Apertei meus olhos, e os abri. Justin sorria, com uma expressão inocente no rosto. Retribuí o sorriso com minhas bochechas ardendo. Senti a calcinha ser devolvida a meu corpo. Pigarreei. Justin desabou na cama, pondo sua cabeça em cima de meus seios.

 Antes de ser amor, tem quer amizade, e acho que nós já passamos por essa etapa, mesmo que ela tenha sido conturbada. – Disse Justin, quebrando o 

 Ahn? – Perguntei, confusa.

 Lindsay, quer namorar comigo? – Justin perguntou, sentando-se na cama, e me fitando.

 Como? Você já tem namorada, esqueceu? – Disse eu, perplexa.

 É uma jogada de marketing, apenas.

 Mas ainda assim você tem namorada, e ela é famosa. Nós não podemos sair por aí simplesmente abraçados sem que digam que você está traindo sua namorada.

 Podemos sair abraçados, sim. Amigos andam abraçados. E não precisamos nos beijar na rua. Deixei isso entre as quatro paredes. – Gargalhou.

Sentei também.

 Eu não sei. – Abaixei a cabeça, pensativa.

 Apenas diga: eu aceito. – Disse Justin, erguendo meu queixo.

 Mas...

 Esqueça o que falarão a respeito. Daremos nosso jeito. Eu apenas preciso que você aceite.

 Mesmo? – Perguntei, ainda em dúvida.

 Mesmo. – Assentiu, confirmando.

 Eu aceito. – Ri fraco, e o abracei.

Justin afagou meus cabelos, e pude ouvir seu riso também fraco próximo de meu ouvido.

Abri os olhos, e vi Justin dormindo abraçado comigo. Fechei os olhos, e pensei no que acontecera. Lembrei então que estávamos namorando, e que Justin dormira aqui. Suspirei. Tirei seu braço de cima de minhas costas com cuidado, e o coloquei na cama devagar. Deslizei pra fora da cama tentando não fazer nenhum barulho e fiquei de pé. Caminhei até o banheiro. Me despi, entrando no Box. Abri o registro, deixando a água morna cair sobre meu corpo relaxado. Terminei o banho, me enrolei na toalha branca, voltando para o quarto. Entrei no closet. Peguei uma calça jeans escura, uma blusa branca de mangas médias e uma sapatilha com tecido cinzento aveludado. Me vesti, e calcei a sapatilha. Voltei ao quarto. Justin ainda dormia. 

Estendi a toalha no banheiro e fui para a cozinha. Preparei um café com leite, e sentei-me ao sofá. A tv ficara ligada a noite toda, me surpreendi, pois ainda estava passando a maratona de Friends. Bebi um pouco do café com leite, estava delicioso. Umedeci os lábios saboreando-o ainda mais. Dei mais uma golada, mas cuspi tudo devido à cena de Friends. Passei as costas de minha mão sobre minha boca para secar o líquido meloso, e gargalhei sem censura. Minha barriga doía, e meus olhos lacrimejavam, mas ainda assim continuei a gargalhar. Sequei meus olhos. Justin vinha rastejando em direção a sala, com seus olhos entreabertos. Ops. Eu o acordara com minha risada escandalosa.

 O que é tão engraçado? – Resmungou.

 Friends. – Respondi, me recuperando do ataque de riso.

 Ah. Já tomou seu café da manha?

 Não, só bebi isso. – Ergui a xícara.

 Vou tomar banho e sairemos.

 Ok. – Respondi, dando de ombros.

Terminei de beber o café. Levantei e coloquei a xícara na pia. Mãos envolveram minha cintura por trás, e apertaram minhas costelas. Sorri.

 Vamos? – Perguntou Justin. Sua respiração batia contra a cartilagem de meu ouvido.

 Quem sabe se você me soltar. – Respondi.

Justin me soltou. Pegamos nossos respectivos móis com as chaves, e saímos.

 Onde estamos indo? – Perguntei, curiosa, quando o carro já estava em movimento.

 Preciso trocar de roupa. – Respondeu Justin.

 Por acaso sua mãe sabe onde você passou a noite?

 Ahn... digamos que ela sabe o necessário.

Ergui uma sobrancelha pensando o que Justin quis dizer com “o necessário”. 

Chegamos a um condomínio. Justin estacionou o carro em frente a uma casa laranja. Descemos do carro. Antes de chegarmos ao portão, Kenny vinha nos atender. Ele abriu o portão. Justin entrou como um foguete pela brecha escancarada.

 Olá, Lindsay. – Cumprimentou-me Kenny, sorridente.

 Oi. – Sorri de volta.

 Então quer dizer que Biebs dormiu na sua casa? – Senti algo travesso em sua pergunta.

 É... Ahn... sim. – Respondi, corando. – A mãe dele não sabe, não é?

 Não. Ela pense que ele dormiu aqui.

 Já começamos mal... – Pensei alto.

 Converse com ele. – Kenny deu uma piscadela.

 Tentarei. – Pus minhas mãos nos bolsos laterais da calça.

Justin voltou vestindo uma bermuda preta, e uma blusa roxa de mangas médias. 

 Valeu, Kenny. – Disse Justin, dando um toque de mãos com Kenny.

 Se cuida. – Disse Kenny. – Tchau, Lindsay.

 Tchau. – Sorri, acenando para Kenny.

Entramos no carro e saímos dali. Justin deixou seu carro num estacionamento público, e caminhamos até a Starbucks. Sentamos numa mesa na varanda, esperando o garçom vir nos atender. Sentei de um lado, e Justin do outro. Seu pé roçava em minha perna. Ri.

 Lembre-se dos paparazzi. – Avisei, olhando para os lados.

 Olá. – Ouvi uma voz feminina.

Voltei a olhar para o local onde Justin estava sentado. Selena sentava-se ao seu lado, pondo sua bolsa sobre a mesa, e sorrindo mesquinhamente.

 Desculpe, mas você não foi convidada. – Disse eu, ríspida. – E você não é bem vinda. – Complementei. 

 Ual. Quanta agressividade... – Disse Selena, sarcástica.

 Por que está aqui? – Perguntou Justin a ela, mas me encarando.

 Quis dar uma volta. – Respondeu, dando de ombros.

 Logo aqui? – Perguntei.

 Gosto daqui. – Respondeu ela, olhando o ambiente como se realmente gostasse. – E Justin agora é meu namorado, não se esqueça. – Sorriu.

Franzi o cenho, fuzilando-a com os olhos.

 Qual é, Justin, finja pelo menos que gostou da surpresa. – Disse Selena, incentivando-o.

 Como faço isso? – Ele a olhou, sorrindo.

 Me abrace, me dê de sua mão, coisas de namorados. – Respondeu, simplesmente.

Justin passou seu braço direito por sobre os ombros dela, e Selena acomodou-se, ficando aparentemente confortável. Tentei disfarçar o quanto estava chocada com aquilo, mas não consegui. Justin comprimiu os lábios, fitando a mesa.

 O que foi? – Indagou Selena, desentendida.

 Nada. – Dei de ombros. – Boa refeição. – Desejei, afastando minha cadeira da mesa e levantando.

 Aonde você vai? – Perguntou Justin, atônito.

 Não sei. – Respondi, sincera.

 Espere. – Pediu, dando indícios de que levantaria.

 Fique. – Ordenei. – Não esqueça que, sua namorada oficial é ela.

 Namorada oficial? – Perguntou Selena, confusa.

 Tchau, Justin. – Disse eu, me afastando deles.

Saí da Starbucks, procurando por um ponto de ônibus. Não demorou até achar um. Ao longe pude ver o ônibus se aproximando. Fiz sinal. Ele parou, e subi a pequena escada. Paguei a passagem, passando pela catraca eletrônica.

Dali o percurso até a casa de Mike era mais longo. Passei cerca de 30 minutos dentro do ônibus. Por fim chegara. Abri a porta, entrando e indo direto para os fundos. Mike bebia um drink, sentando numa espreguiçadeira. Ele me olhava, confuso.

 E aí. – Comentei, sentando-me na espreguiçadeira ao lado da sua.

Deitei, cruzando meus braços atrás de minha cabeça, e fitando o céu, com dificuldade.

 Já sei, aconteceu algo. – Disse Mike.

 Aconteceram tantas coisas nas últimas 24 horas... – Iniciei.

 Continue. – Disse, me incentivando.

 Estou namorando. – Olhei para Mike. Ele estava engasgando.

Mas conseguiu recuperar o ar logo.

 Bieber? – Perguntou, perplexo.

 Por que acha que é ele? – Perguntei, indignada.

 Por que ele é o único garoto que você sai no momento...?

 Pois é, é ele. – Respondi, assentindo repetidamente. 

 Mas e daí?

 Ele tem outra namorada. – Mike esboçou espanto. – Mas esse namoro é apenas marketing. – Completei, apressadamente.

 Marketing, mas eles sempre tiram um proveito da situação.

 Você não está ajudando. – Alertei.

 Desculpe, continue.

 Nós fomos tomar café da manha, hoje, na Starbucks, e essa garota apareceu lá. – Esbravejei. – Sarcástica, e pedindo para ele abraçá-la. Argh! – Cerrei os punhos com raiva. – Daí eles ficaram num love fake. Bom, eu saí de lá, né. Inacreditável. – Balancei a cabeça negativamente. – Mas preciso me conformar com isso. Essa é a realidade.

 Você não vai chorar, ou vai? – Perguntou, preocupado.

 Claro que não. Tenho motivos mais fortes pra chorar, e nem por isso choro. – Sentei, estendendo minha mão para pegar o drink. Mike o entregou para mim. Bebi um gole. Suco de abacaxi com hortelã. Sorri, com minha garganta refrescada.

Uma corrente de vento passou por minhas narinas, me causando ânsia de espirro. Prendi o ar, para espirrar, enquanto Mike caçoava de minha careta. Coloquei minha mão vazia a frente de meu nariz, e espirrei. Um líquido escorreu por minha mão, mas não era gosmento. Sua textura era leve. Abaixei minha mão, olhando-a. O líquido era vermelho. Aproximei-o de meu nariz, o cheirando. Era sangue. Franzi o cenho, olhando para Mike.

 Me deixe ver. – Ele pediu, pegando em meu pulso, e virando a palma de minha mão para cima. – Isso é sangue? – Indagou, preocupado. Assenti, confirmando. – Estranho. – Disse, avaliando minha mão, e logo após minhas narinas.

 Talvez seja a mudança de tempo. – Dei de ombros, despreocupada.

 Talvez. – Disse, com ar preocupado.

Permaneci na casa de Mike até a noite. Caminhei até a praça, pensativa. Estava mal iluminada, como sempre. Suspirei, pensando na forma como conhecera Justin. Ri comigo mesma. Balancei a cabeça negativamente, apesar dos pesares, nossa relação era engraçada.

Coloquei minhas mãos nos bolsos da frente da calça, e decidi ir andando para casa. Sempre gostei de caminhar quando queria refletir sobre algo.

O percusso foi longo, mas bom. Tirei o mói das chaves, e destranquei a porta. Girei a maçaneta, abrindo a porta.

Mesmo na penumbra, distingui algo sob o sofá. Fechei a porta, e andei até o sofá, dando passos sorrateiros, e com um olhar curioso. Acendi o abajur.

Era um buquê de rosas vermelhas. O peguei, e inalei aquele perfume doce das rosas. Entre elas havia um cartão. Não tinha remetente. Abri o envelope.

Desculpe por hoje cedo. Amanhã te recompensarei. Beijos, Justin.

Revirei os olhos, mas gostando do gesto de Justin.

Enchi um vaso que tinha a forma de um espiral com água, e coloquei duas coleres de sopa de açúcar. O açúcar faz com que as flores murchem lentamente. Coloquei as flores no vaso, e lembrei de algo que mamão costumava me contar sobre as flores, que elas tinham significado.

Papai sempre a presenteava com flores nos finais de semana. A cada final de semana era um buquê de espécies diferentes.

Fui para meu quarto, e liguei o notbook, conectando a internet.
Pesquisei primeiro sobre as flores que papai dava a mamãe.

Lírio - Casamento, pureza, nobreza, proteção
Begonia - Inocência, amor leal
Frésias - Proteção
Gérbera - Alegria, energia, amor nobre
Tulipa Vermelha - Amor eterno

E por último pesquisei sobre rosas vermelhas.

Rosa vermelha - Amor intenso, paixão

Comprimi os lábios, e me remexi sobre a cama, me sentindo desconfortável. Eu tinha quase certeza de que Justin não sabia sobre os significados.
Levantei os ombros, não me importando com isso, e desliguei o not.
Deitei, me cobrindo, e virando de lado. Dormi.

Senti um formigamento em minhas costelas. Me revirei na cama para amenizar essa sensação, porém ela continuou. Relutante, abri os olhos. O formigamento, na verdade, eram as mãos de Justin, que faziam cócegas em minhas costelas. Soltei uma risada rouca, enquanto Justin continuava a fazer cócegas em mim, com um sorriso brincalhão. Apoiei minhas mãos no colchão, sentando-me.

 Para! – Pedi ofegante, mas Justin continuou a fazer cócegas. O empurrei, fazendo-o cair deitado, e levantei depressa, correndo para o banheiro. – Vou tomar banho. – Gritei, trancando a porta.

Demorei no banho.

Fui para o closet. Vesti um short branco, uma camiseta verde escura e por cima um casaco preto, escrito GAP em cinza claro. Voltei ao banheiro, pendurei a toalha, escovei os dentes e penteei meus cabelos, os bagunçando em seguida para os fios ficarem soltos e secarem mais rápido. Ouvi um assovio vindo da sala. Fui até lá.

A mesa de jantar do lado direito, que poucas vezes era utilizada, estava cheia de guloseimas, laticínios, bebidas suculentas, entre outros. Justin sorria de orelha a orelha, atrás da mesa, orgulhoso de si mesmo. A única reação que esbocei foi de esbugalhar os olhos.

 Sente-se, por favor, senhorita. – Disse Justin gentilmente, indicando com a mão a cadeira a minha frente.

Capítulo 15 – Justificativas

 Me dê uma chance. – Disse ele, me dando as costas, e indo para a beira do deck. 

Olhei seus cotovelos, ambos estavam ralados.

 Você não vai me forçar a nada? – Perguntei, ainda não acreditando.

 Não, cansei de parecer doentio.

Calafrios me dominaram por um instante. Outra idéia suicida.

 Posso ficar aqui com você? – Indaguei, receosa.

 Parece que você gosta de me ver implorar por seu amor.

Caminhei até Mike, ficando atrás dele.

 Por que está tão calmo hoje? – Perguntei, estranhando seu comportamento.

Ele girou sobre os calcanhares, me fitando com intensidade, e depois se desviou de mim, voltando a sentar na espreguiçadeira. O segui, sentando ao seu lado.

 Lindsay, me diga, você é bipolar? – Me fitou, vincando a testa.

 Às vezes. – Dei de ombro. – Agora responda a minha pergunta.

 Andei pensando em meus pais. – Abaixou a cabeça, fitando o deck.

 Também pensei nos meus.

 Pelo menos nisso nos entendemos. – Riu sem humor. – Por que pensou neles?

 Sei lá, acho que deixei minha mente desocupada por muito tempo. E você, porque pensou neles?

 Saudade.

Olhei em seus olhos negros. Eles não pareciam insanos.

 Está puro? – Perguntei, pasma.

 Não entendi.

 Você não se drogou?

 Não. – Respondeu, fungando.

 Sabia que algo estava errado... – Pensei alto.

 Por que, você gosta de me ver drogado? – Virou-se pra mim, procurando por meus olhos. Desviei meu olhar.

 Claro que não. É que raramente você está sóbrio, né...

 Então você gosta que eu fique sóbrio? – Perguntou. Rapidamente o olhei, e vi seus olhos ganharem um sentimento que há tempos eu não via: alegria. Desviei meu olhar novamente.

 É claro. Você é outra pessoa quando fica sóbrio. Queria que você sempre estivesse assim. É muito bom respirar aliviada sabendo que não querem te matar, sabe? – Olhei para Atlanta abaixo de nós.

 Eu nunca te mataria. Se fizesse isso estaria matando a mim mesmo. – Respondeu.

 Você não, o outro sim. – Olhei em seus olhos.

 Então por isso que você não fica comigo? Por que eu sempre estou à base das drogas?

 É... Ahn... Eu não sei. – Respondi, sincera. – Nunca parei pra pensar sobre isso

 Por que se for isso eu paro. Lind, você não entende? É por você, eu faço quase tudo. Por que nunca me disse isso antes? Por que só agora? – Segurou minhas mãos, me fitando profundamente. No fundo de suas orbes negras ainda havia esperança.

 Por que eu... por que eu... Eu não posso, Mike! Acho que não daria certo. – Tirei minhas mãos das suas.

 Você só vai saber se tentar.

Olhei para a madeira do deck. Meu cérebro não estava processando. Eu não sabia o que fazer.

 Lind, por favor, você é a única que pode me salvar. – Disse, e senti a súplica em sua voz.

 Não, você mesmo pode se salvar. Veja só, hoje você está sóbrio, sem nenhum motivo.

 Mas eu não vou conseguir continuar sem que haja um motivo. E você é o motivo que eu preciso. Eu nunca tentei mudar, você sabe, mas se é pra você tentar ficar comigo, eu mudo.

 Mike, por favor, não quero te magoar. – Pedi, empurrando suas mãos que tentavam tocar as minhas novamente. Mas descuidada eu empurrei suas mãos com força, fazendo-as arrastarem sobre o tecido de sua calça preta. Ele sibilou, e fez uma expressão de dor. Arregalei os olhos, preocupada, e me sentindo culpada. – Me desculpe, por favor. Não quis te machucar. – Segurei suas mãos. Elas estavam gélidas.

 Isso aqui não é nada, comparado ao meu coração. – Disse, mordendo o lábio inferior.

 Mike, eu... – Perdi a fala. Seus braços já envolviam minha cintura, e seu rosto estava a centímetros do meu. Uma brisa leve açoitava nossos cabelos. Desviei o olhar, e observei o sol se pondo ao longe no oeste. Sua respiração afobada batia contra meus lábios entreabertos.

 Pensa em como seria bom você salvar a vida de alguém. – Disse, e eu o olhei. – Se pensou, esse alguém que precisa ser salvo sou eu, e a salvadora é você. – Completou. Seus olhos transmitiam verdade como suas palavras. Não havia dúvidas de que ele estava sendo sincero comigo.

 Mike, eu não quero te magoar, não mais do que eu já magoei, apesar de não ter sido intencionalmente. – Olhei para o estofado branco da espreguiçadeira.

Mike colocou sua mão em meu rosto, acariciando minha bochecha esquerda de leve.

 Eu já deveria ter desistido de você há muito tempo, mas não consigo, é a única chance que eu tenho de ser feliz, então não vou desistir. – Gargalhou baixo.

 Você riu. – Comentei, arregalando os olhos, espantada.

 Você causa isso em mim. – Deu de ombros.

 Tenho medo de tentar, e te machucar. – Confessei.

 Pelos menos você tentará, isso é suficiente.

 E se não der certo? – Perguntei, alterando a voz, com desespero.

 Nós tentamos. – Ele sorriu. Consegui sorrir de volta.

 Tem certeza? – Perguntei, ainda insegura.

 Tenho.

Ele colocou suas duas mãos em meu rosto. Ofeguei, ainda com medo do que viria a seguir. Mike tirou suas mãos de meu rosto, e as passou por meus ombros, fechando-as com cuidado em minhas costas. Arregalei os olhos.

 Primeiro seremos amigos, não quero forçar tanto a barra. – Disse, dando de ombros.

 Mas...

 Amor começa com ‘a’ de amizade. – Deu uma piscadela.

Aproximei-me de seu corpo, e apertei ainda mais o abraço. Mike afagou meus cabelos com uma das mãos. Gargalhamos.

Nossa amizade apesar de já existir a anos, começou a se fortalecer naquele dia. Matt ficou assustado quando soube das novidades. Consegui um atestado médico com Matt que dizia que fiquei doente, por isso tive que faltar dois dias no trabalho. Voltei a trabalhar. Mike me buscava no trabalho sem compromisso, e me acompanhava até a entrada de meu prédio. Nosso laço de amizade aumenta a cada dia, e talvez esse fosse o problema. Queria Mike apenas comigo amigo, era ótimo vê-lo quase curado, sorrindo, e sem obsessões. Justin não dera notícia durante esse curto período. Talvez fossem os shows que o estivessem ocupando demais.


                                                                 Justin P.O.V


Estava há quase três semanas sem ver Lindsay. Para cada dia, tinham dois, ou mais shows. E quando havia uma folga eu só queria dormir. A participação de Selena estava rendendo muito para os shows, mais do que já faturavam. Scooter resolveu então fazer uma reunião para discutirmos sobre isso, e prolongar a estadia dela nos shows. Mas isso foi só um pretexto, o assunto proposto na reunião foi outro.

 ... Todos aqui sabemos que essa participação de Selena está fazendo um sucesso além de qualquer expectativa que tínhamos. – Disse Scooter. Todos assentimos. – Então, Justin e Selena têm uma proposta pra vocês. – Finalizou a frase.

Selena e eu nos entreolhamos, preocupados.

 Qual é? – Perguntamos em uníssono.

 Vocês vão namorar, pelo menos para a mídia. – Disse, simplesmente.

Selena apertou a borda da mesa, boquiaberta. Um vinco apareceu em minha testa, juntei minhas sobrancelhas, perplexo.

 Mas... – Tentei contrapor.

 Mas o que, Justin? Isso é uma jogada de marketing. Pensa no quanto chamará a atenção da imprensa, no quanto vocês serão comentados. Quantas rádios, revistas, apresentadores de programas vão querer vocês para uma pequena entrevista. Isso irá nos render muito. E é falso. Vocês só precisarão fingir muito bem, óbvio.

Balancei a cabeça negativamente, ainda não acreditando nisso. Sel era linda, mas eu não poderia aparecer com ninguém ao meu lado, senão a mídia cairia em cima, e Scooter também.

 Adeus minha liberdade. – Comentei, nada feliz. – Quando o “namoro” – fiz as aspas com as mãos – começará?

 No próximo show. – Respondeu Scooter.

 Você quis dizer amanhã?

 É. – Respondeu, dando de ombros.

Assenti, e levantei.

 Agora você tem namorada, não se esqueça. – Advertiu Scooter, assim que estava abrindo a porta para sair da sala.

 Não irei. – Respondi entre dentes, saindo da sala.

Desci para a garagem. Entrei no carro, e segui para o apartamento de Lindsay, justamente a última coisa que eu deveria fazer a partir de agora.

Cheguei à frente de seu prédio, mas não segui para a garagem. Pelo o que pude ver, eu não era o único que estava namorando. Mike e Lindsay andavam abraçados pela calçada, e ambos estavam felizes, pois gargalhavam incansavelmente. Apoiei meu rosto sobre minha mão esquerda, e continuei a os observar. Mike deu um beijo na testa de Lindsay, e ela acenou sorrindo para ele, subindo os degraus da escada de seu prédio. Ele não estava com jeito de maníaco como nas outras vezes que nos vimos, e nem parecia estar sobre efeito de alguma droga. Por precação esperei até que Mike estivesse longe o suficiente para entrar na garagem. Adentrei na garagem, e estacionei o carro. Peguei o elevador. Cheguei ao andar do apartamento de Lindsay. Caminhei até a última porta. Peguei a chave em meu bolso, e destranquei a porta. Girei a maçaneta e abri-a. Lindsay se surpreendeu com a minha presença, mas não falou nada, apenas esboçou uma reação perplexa. Comprimi os lábios, e ergui uma sobrancelha em dúvida. Andei até ela, e abracei-a forte.


                                                       Lindsay P.O.V


Ouvi o rangido da porta abrindo-se e virei. Era Justin. Só tive tempo de ficar boquiaberta com sua aparição repentina, pois dois segundos depois ele me já estava me sufocando num abraço. Abri meus braços, perplexa, eu queria entender o que estava acontecendo.

 Custa muito você retribuir o abraço? – Pediu, impaciente.

 Quem é você e o que fez com Justin? – Perguntei, ainda perplexa.

 Apenas me abraça. – Pediu, apoiando sua cabeça em meu ombro direito.

Fechei meus braços em suas costas, retribuindo o abraço. Não sei ao certo quanto tempo ficamos ali. Porém nunca abracei alguém por tanto tempo como estava fazendo com Justin.

 Você não prefere falar sobre isso? – Indaguei, quebrando o silêncio.

Nos afastamos e pude ver seu rosto. Ele não estava nada bem. Seus olhos fitavam o chão.

 Senta. – Indiquei o sofá com a mão.

Sentamos ao mesmo tempo. Justin ainda fitava o chão, porém colocou sua mão esquerda sobre minha coxa. Me retraí, mas ele não percebeu. É, realmente Justin não estava bem. 

 Seu silêncio tá me matando. – Disse eu, agoniada.

 É que... aconteceram coisas. – Disse, com os dentes trincados.

 Estou aqui, caso queria me contar. – O incentivei.

 Minha vida! Minha vida ficará pior que um inferno, como se já não fosse isso. – Brandiu. Justin parecia perturbado.

 Por que?

 A parceria com Sel, está fazendo sucesso.

 E isso não é bom? – Perguntei, confusa.

 Não. Quer dizer, é. Mas Scooter quer mais, ele quer... ele quer não... Ele praticamente nos obrigou! – Berrou.

 Obrigou? O que ele obrigou? – Perguntei, ainda mais confusa. Nada que Justin falava fazia sentido. – Diga com mais clareza, por favor.

 Sel e eu... Sel e eu... – Justin gaguejava, e fazia gestos com as mãos, como se não conseguisse falar. – Nós estamos... namorando. – Finalizou.

 Ou – consegui dizer, analisando a situação. Mordi meu lábio inferior. Quem fitava o chão agora era eu. – Mas isso não é bom? – Perguntei, estalando os dedos.

 Não! Não é nada contra Sel, é que eu não poderei aparecer com ninguém ao meu lado, a imprensa cairá em cima de mim mais ainda. E isso é insuportável. É provável que eu tenha de ficar com Sel o tempo todo quando folgar, porque precisamos fingir muitos bem. – Justin estava quase rosnando.

 Isso quer dizer que não era pra você estar aqui. – Deduzi.

 Você é esperta.

 Realista, talvez. É melhor você ir.

 Não.

 Eu não quero te trazer mais problemas, Justin.

 Não vai. Ninguém sabe que estou aqui. E meu namoro ainda não foi oficializado.

 Ahn, então pode ficar. Mas e quando seu namoro se oficializar? – Indaguei, já sabendo a resposta.

 Acho que não nos veremos.

Desde que Justin chegara era a primeira vez que conseguia olhar em seus olhos dourados. Não consegui distinguir o que havia ali, pois tudo parecia rodar ao meu redor. Era como se eu estivesse num mar de confusões, e as ondas me arrastavam de um lado para o outro, me sufocando, sem ao menos me deixar respirar por um segundo que fosse. Eu queria bater os braços e as pernas, para nadar e tentar sair daquela correnteza, mas não era simples assim, eu simplesmente não conseguia. Meus braços, pernas, mãos e pés estavam atados. E não havia nada que eu pudesse fazer para reverter à situação.

 Você sentirá minha falta? – Perguntou Justin, sorrindo torto.

Virei meu rosto e olhei janela afora a noite caindo sobre a cidade. Engoli em seco sem responder.

 Você sentirá minha falta! – Exclamou, afirmando sem ao menos ouvir qualquer coisa dita por mim.

 Não acho que sentir falta de alguém seja um motivo de comemoração.

 E não é. Mas eu não deveria fazer falta pra você. – Sua mão tocou meu braço, me fazendo virar, e o encarar.

 Por que? Mesmo que tenhamos uma amizade conturbada ainda assim significa algo.

 É, você tem razão. Mas nós somos amigos? – Fez uma expressão de dúvida.

 Não somos? – Respondi com outra pergunta.

 Eu não sei. Você me vê como amigo?

 Vejo, ué. – Dei de ombros.

 Como vê Mike?

 Acho que sim. – Respondi, confusa com essa pergunta.

 Então eu acho que deveríamos estar nos pegando a essa altura. – Balançou a cabeça positivamente.

 Não entendi. – Franzi o cenho. Justin fugiu o olhar.

 Você e Mike são namorados, e você diz que o vê da mesma forma que eu. – Esclareceu a dúvida.

 Nós não somos namorados. – Respondi, atônita com sua imaginação fértil. – Da onde tirou isso?

 Eu não te vejo a dias. Daí hoje chego aqui, encontro vocês dois abraçados e rindo, depois ele te beija na testa.

 Mike está se curando, e eu o estou ajudando. Amigos também andam abraçados e principalmente riem das piadas que o outro conto. Beijo na testa significa carinho e respeito pela outra pessoa. – Concluí.

 Entendi. Então isso significa que você não está namorando? – Perguntou, risonho.

 Sim. – Respondi.

 E que você gosta de ajudar os amigos que precisam de algo.

 Claro. – Disse, ficando confusa com o rumo da conversa.

 Eu estou precisando de algo.

Justin deslizou sobre o couro do sofá, aproximando-se de mim. Desconsertada cheguei para o lado esquerdo, afastando-me dele.

 Não precisa fugir. – Disse, aproximando-se mais e levantando meu queixo de leve.

 Para! – Gritei, e bati na sua mão.

 Ah, eu sei que você quer. – Disse, quase me esmagando de tão próximo que tava. 

– Eu sei que você gostou da última vez.

 Eu não quero. Você some por quase um mês, aparece dizendo que está namorando, e ainda quer me beijar? Desculpa, Justin.

 Eu não sumi porque eu quis, tenho meus compromissos, você sabe. Não estou namorando porque quero, faz parte da vida artística.

 Você poderia ter ao menos me ligado.

 Eu não tenho seu telefone.

 Isso não é desculpa.

 O que você tem? Enfim, preciso ir. Nos vemos depois. – Levantou-se.

Justin abriu a porta, e saiu. Corri para alcançá-lo. Segurei em seu ombro direito, e o virei. Passei minha mão direita por sua nuca, e agarrei seu cabelo, colando nossos corpos. Nossas línguas se chocaram, me causando calafrios na cervical. O beijo era quente, intenso, com desejo. Mordisquei seu lábio inferior, e fui soltando-o aos poucos. Porém Justin impediu que o beijo terminasse. Suas mãos apertaram minha cintura com força, me levantando e me deixando nas pontas dos pés. Justin me virou, encostando-me na parede. Estava ficando sufocante. Empurrei Justin, puxando o ar para meus pulmões.

 Por que fez isso? – Perguntou, umedecendo os lábios e sorrindo.

 Por que toda vez que você beijar sua namorada é disso que você lembrará. – Dei uma piscadela voltando para o apartamento.

 Eu não irei beijá-la. – Respondeu.

 Ah, mas é claro que vai. E se sentirá péssimo por não estar beijando a mim. – Joguei um beijo no ar, e entrei, fechando a porta.

Capítulo 14 – Explicações

 E o que eu posso fazer em relação a isso? – Indagou, visivelmente triste.

 Vá embora. Eu não vou pedir que você suma, porque eu não quero, mas também não pedirei que fique, porque preciso de um tempo pra mim. Se quiser voltar, ótimo. Mas pense antes de voltar. Não volte para me menosprezar. Não haverá uma terceira chance. – Disse, com um certo pesar na voz.

 Eu pensarei. – Segurou minhas mãos, fitando meus olhos. – E então, quando posso voltar?

 Quando você sentir minha falta.

Ele ficou calado.

 Você não vai sentir minha falta, não é? – Perguntei, já sabendo a resposta.

 Mais tarde eu te respondo. Ou não.

Assenti, entendendo a resposta dele. Justin soltou minhas mãos, me dando as costas. Fiquei ali parada, ouvindo seus passos se afastarem. Ouvi a porta se fechar. Curvei minhas costas, e caminhei até o quarto. Joguei-me na cama. Peguei o edredom, o colocando por cima de meu corpo. Me encolhi, fechando os olhos, e pedindo ao sono que me dominasse. Ele me obedeceu. Abri os olhos com dificuldade. O telefone tocava. Me arrastei até a sala. O tirei do gancho.

 Alô? – Disse eu, com a voz rouca, e fungando.

 Lind? – Era Matt.

 Matt! – Tentei parecer feliz.

 Te acordei? – Perguntou, receoso.

 Sim, mas sem problemas.

 Então ok. O que podemos fazer hoje?

 O que você quiser. – Dei uma risada fraca.

 Humm... Relembrar os velhos tempos pode? – Gargalhou.

 Matt... – Adverti. – Se quer me ver fique comportado.

– Ficarei, princesa. – Ele riu. – Te pego na entrada do seu prédio às 16:00.

 Que horas são? – Perguntei, perdida no tempo.

 Duas e alguma coisa. – Respondeu, sem saber.

 Então nos vemos às 16:00 

 Ótimo. Beijos.

 Beijos. – Coloquei o telefone no gancho.

Levantei, e fui para o banheiro. Peguei um produto de limpeza, embaixo do armário da pia, e lavei a pia. Me despi, e fui para o banho. Não pude usufruir muito do banho, pois meu tempo estava limitado. Terminei o banho, me enxuguei, e enrolei a tolha em volta de meu corpo, voltando para o quarto. Fui para o closet, vesti uma calça jeans escura, uma regata lilás claro, e calcei uma rasteirinha cor caqui. Voltei para o quarto. Penteei meus cabelos, e os prendi num rabo de cavalo alto. Voltei ao banheiro, estendi a toalha em seu suporte, e escovei os dentes. Abri a gaveta do balcão da pia, e peguei comprimido para dor de cabeça. Fui até a cozinha, engoli o comprimido bebendo coca. Olhei o relógio. Eram 15:42. Peguei minha mochila, ainda jogada no chão da sala, e de dentro retirei meu mói com as chaves. Enquanto estava agachada, fechando a mochila, olhei para a fresta embaixo da porta. Havia metade de uma revista pra dentro de casa. Fui até lá, e peguei a revista.

Estranho, eu não tinha nenhuma assinatura com qualquer revista. Sentei no sofá, e comecei a folheá-la. Era uma revista de famosos, e fofocas, óbvio. Cheguei então a página que ele queria que eu visse com cautela. Abri minha boca num ‘o’, perplexa. Havia duas fotos, e nelas estavam Justin e eu. Uma era a da lanchonete, e outra quando fomos ao Wal Mart. Mas isso não fora isso que me deixou com medo, e sim a frase:

Continue dessa maneira, e ele será a próxima vítima.

Reconheci a letra de Mike, e no final da frase havia uma seta que apontava para o rosto de Justin. Meu coração congelou. Eu não tinha o número de Justin, e não sabia onde ele poderia estar, tão pouco onde Mike estava, já que ele sumira. Como aquela revista veio parar aqui? Mike estava me rondando, e rondando Justin também. Nós corríamos perigos. E para evitar que qualquer um se machucasse nossa “amizade” teria de acabar. Apesar de tudo que Mike fizera comigo, eu nunca guardei rancor dele. Mas naquele momento, me arrependi por ter me aproximado dele. Essa aproximação era a causadora de todas as perdas em minha vida. E as perdas só terminariam quando um fim fosse posto entre Mike e eu. Fechei a revista, e levantei. Caminhei até a porta, abaixando a maçaneta, e abrindo-a. Passei para o corredor, trancando a porta. Coloquei a revista embaixo de meu braço direito, e caminhei, indo para o elevador.

Cheguei à portaria, caminhei para fora do prédio. Matt estava me esperando no final da escada ao lado direito. Sorri nervosa quando eu o vi.

 Por que está sorrindo desse jeito? – Perguntou, curioso, e preocupado.

 É incrível como você nota cada gesto meu. – Disse eu.

 Isso é óbvio. Diga o que houve.

 Mike.

 O que foi dessa vez? – Perguntou, exaltado.

Abri a revista na página, e o apontei para a frase ali escrita.

 Então o seu romance complicado é com Justin Bieber? – Perguntou, chocado, levando uma mão a boca.

 Sua opção sexual foi alterada? – Disse eu, me assustando com seu gesto. – E respondendo a sua pergunta: somos amigos, somente. – Impus.

 Não foi, é que Lindsay Mandson sendo amiga de Justin Bieber é meio chocante, concorda? E Mike fez essa ameaça atoa?

 Você sabe como ele é psicopata.

– Desembuche, Lind.

 Não temos nada, é sério. Nos conhecemos há três dias, mas só saímos essas duas vezes, e uma outra.

 E não rolou nada? – Perguntou, desconfiado.

 Não. – Menti.

– Preciso falar com Mike. Você precisa viver sua vida. – Disse, distraído olhando o céu.

 Se você falar as coisas vão piorar, não fale nada. – Supliquei.

 O que você quer, conversar com Bieber antes?

 Acho que seria bom. – Respondi, em dúvida.

 Pode deixar, se você precisar, eu te ajudo a encobrir o seu caso proibido. – Deu uma piscadela.

 Não há caso proibido. Eu só preciso que você prometa que não falará nada com Mike. – Pedi.

 Prometido. – Ele sorriu.

Matt passou seu braço por sobre meu ombro, e observamos a revista.

 Parece ser recente. – Observou, passando o dedo indicador sobre a frase.

 Ele já voltou pra casa?

 Não.

 Justin. Preciso avisá-lo. – Falei, ficando alerta.

 E quanto ao nosso lanche? – Matt fez beicinho, fingindo estar triste.

 Se der tempo faremos isso hoje. – Sorri, o olhando.

 Então o procure. E me ligue para dar notícias, mesmo que não seja pra marcar nosso lanche.

 Fechado. – Matt deu um beijo demorado em minha testa, e acenou, se afastando.

Acenei de volta, até ele desaparecer. Fechei a revista. E tive uma ideia desanimadora. Eu não tinha o número de Justin, não sabia onde ele morava, e não sabia se ele voltaria hoje. Isto é: se Mike não o encontrou pelo caminho. Olhei para o outro lado da rua, e me surpreendi. Nem sempre o destino falhava. Justin estava dentro de seu carro, com a janela fechada, e me fitava, aparentemente com raiva.


                                                               Justin P.O.V


Lindsay pediu que eu fosse embora e pensasse antes de voltar. Eu fui, mas não completamente. Saí de seu prédio, e comi na lanchonete do outro lado da rua. Enviei uma mensagem para mamãe avisando que teria de ficar mais um pouco na rua. Liguei para Scooter, e ele disse que não havia nenhum compromisso pra hoje. Fui até a garagem do prédio de Lindsay, entrei em meu carro, e fui para a casa de Kenny. Tomei um banho rápido em sua casa, e voltei para frente do prédio de Lindsay, estacionando meu carro ali. Apoiei minha cabeça no encosto do banco, e virei meu rosto para o lado esquerdo, observando a vida lá fora. Eu voltaria ao seu apartamento, mas só quando julgasse necessário. As horas passaram-se, e eu fiquei ali, a mercê do tédio. Olhei meu celular. Eram 15:53. Voltei a olhar para a entrada do prédio. Lindsay descia a escada, sorrindo para alguém ao final dela. Olhei esse alguém. Uma cara com uns físicos médios, brancos, de cabelos loiros, a olhava. Mas quem era aquele? Mike tinha os cabelos pretos. Prestei atenção aos dois. Ela abriu a revista, indicando algo para ele. Os dois observaram o que Lindsay mostrara e depois começaram a conversar. Talvez ele fosse o revendedor da revista, mas esse cara não tinha pinta de revendedor. E então ele a abraçou de lado. Um revendedor não faria isso com a cliente. Ela sorriu, parecendo sem graça e olhou em seus olhos. Talvez esse cara fosse o tempo que ela precisava para pensar. Ele deu um beijo em sua testa, indo embora. Franzi o cenho, a fitando com raiva. Por ironia do destino Lindsay me viu, eu tentei, mas não consegui disfarçar que estava observando-a. Ela andou para o sul, a olhei, intrigado. Esperou até o sinal fechar, e atravessou a rua. Andou na direção onde meu carro estava. Chegou à frente da janela, e bateu no vidro, aparentando querer falar comigo.

Abaixei o vidro.

 Seu amigo refrescou sua mente? – Perguntei, irônico.

 Como? – Perguntou, se fazendo de desentendida.

 Você disse que precisava de um tempo pra você, acho que seu amigo era o tempo que precisava, ou estou errado?

 Rá. – Deu uma gargalhada sarcástica. – Vou deixar esse seu momento estúpido de lado, porque há algo mais sério no assunto, e o meu amigo pode nos ajudar.

 Eu não preciso que ele me ajude. – Respondi seco.

 Será que você pode pensar como uma pessoa de dezessete anos, por favor? Pelo menos agora.

 O que foi? – Perguntei, tentando parecer arrogante.

 Vamos subir. – Disse ela, olhando para os lados, nervosa.

 O que está acontecendo? – Perguntei, ficando preocupado com sua situação.

 Lá em cima eu te explico. – Disse. – Guarde o carro na garagem, e suba. – Ordenou.

 Ok.

Lindsay voltou para o sul, só para atravessar a rua na faixa de pedestre. Balancei a cabeça negativamente com essa insistência. Dei ré, para estacionar o carro na garagem. Entrei na garagem, e deixei o carro ali. Subi. Cheguei ao corredor. Caminhei até a porta de seu apartamento. Peguei a chave no bolso, destranquei a porta, e abri-a.


                                                             Lindsay P.O.V


Tive uma conversa breve com Justin, e subi imediatamente para meu apartamento. Coloquei a revista no criado-mudo ao lado do sofá, e fui para meu quarto, colocar um short. Quando voltei para a sala, a porta estava sendo fechada por Justin. Abafei um grito tampando minha boca com as duas mãos. Ele me olhou atônito.

 O que foi? – Perguntou, despreocupado.

 Como você pergunta isso com tanta naturalidade? – Respondi com outra pergunta, perplexa.

 Quero saber porque está assustada. – Respondeu, dando de ombros.

 Por que ora, como você conseguiu entrar se a porta estava trancada?

 Por que eu tenho a chave. – Disse, levantado e balançando a chave na mão esquerda.

 Como você conseguiu a chave? – Grunhi.

 Ela está comigo desde ontem. – Respondeu, simplesmente.

 Ah, ok. Ontem você precisou dela pra abrir a porta quando me trouxe pra casa, e hoje, pra que você precisava dela? – Perguntei, louca para obter uma resposta.

 Não sei. – Disse, jogando-se no sofá, cruzando os braços atrás da nuca e apoiando a cabeça neles.

 Já que não sabe pra que, me devolva. – Pedi, indo até Justin, e estendendo a mão.
Ele ergueu o olhar para minha mão, e depois para meu rosto, porém não fez nenhum gesto de devolver a chave.

 Justin. – Pedi, suspirando para obter paciência.

 Você tem outra, não precisa dessa. – Respondeu, birrento.

 Essa é a extra, caso eu perca a outra.

 Deixe essa comigo. Vou tirar uma cópia, e depois te devolvo.

 Por que você quer uma cópia? – Gritei, nervosa por não conseguir a chave.

 Pra eu poder entrar aqui à noite, e te ver dormir. – Finalizou a frase com um sorriso torto.

 Isso aqui não é Crepúsculo. – O lembrei.

 Claro que não, se fosse eu entraria pela janela, óbvio, não é?

 Para com essa história clichê, isso me causa náuseas. – Fiz uma expressão de enjôo.

 Mike não era romântico com você? – Me olhou, com ar de escárnio.

 Eu não posso te responder sobre algo que nunca existiu.

Desisti de tentar pegar a chave, e sentei ao seu lado. Estiquei meu braço para pegar a revista, e abri-a na página da condenação. Ao ver as fotos Justin riu sem humor. 

Vincou suas sobrancelhas quando leu a frase.

 Ahn... Isso não é bom, né? – Me fitou.

 Nem um pouco. – Retribuí o olhar.

 E o que podemos fazer? – Perguntou, parecendo interessado na resposta.

 Ahn... Acho que nossa “amizade” – enfatizei fazendo as aspas com as mãos – termina aqui. – Concluí.

 Mas nós podemos desviar disso. – Disse Justin, confiante.

 Claro que podemos. Você andará 24 horas escoltado por seus seguranças, e eu ficarei trancada em casa até que Mike suma, ou morra.

 Estou falando sério. – Respondeu Justin, alterando o tom de voz.

 Eu também! – Respondi no mesmo tom.

 Você disse que seu amigo poderia nos ajudar. – Disse, lembrando-me.

 Ele tentará descobrir onde Mike tá, e o que ele tentará.

 E até ele descobrir...?

 Não nos veremos. – Completei sua frase.

 Com quem eu vou brigar? – Perguntou, aparentemente triste.

 Talvez Selena supra sua vontade.

 É, quem sabe. – Deu de ombros. Justin apoiou suas mãos sobre os joelhos, e levantou. – Era só isso?

 Sim. – Fitei seus olhos.

 Então até Deus sabe quando. – Falou, caminhando para a porta.

 Espere – pedi – você pensou? – Perguntei, como se não me importasse.

 Pensei. – Disse apenas.

 E o que você pensou? – Não consegui esconder a necessidade de ouvir a resposta.

 Quando você resolver sua situação com Mike saberá. – Deu um sorriso vencedor, e abriu a porta, indo embora.

Argh. Levantei irritada. Eu não poderia esperar muito tempo por essa resposta, ou enlouqueceria tamanha era a curiosidade. Mesmo que Justin respondesse que continuaria a ser um moleque, ainda assim eu queria ouvir.

Liguei para Matt, para marcarmos nosso lanche daqui a pouco, porém ele já estava atarefado. Ele disse que Mike já estava em casa, então Justin por enquanto estava seguro. Desliguei o telefone, tendo um pensamento suicida. Peguei minha chave no criado-mudo, e saí.

Cheguei à calçada, caminhei para o ponto de ônibus ao norte. Assim que cheguei ao ponto, vinha um ônibus. Fiz sinal para ele, logo em seguida entrando, e indo para o fundo, sentar onde sempre sentava. Apoiei minha cabeça no encosto da poltrona, observando tudo lá fora passar voando, enquanto o ônibus corria. Senti a rua ficar íngreme, e levantei, puxando a corda para saltar no próximo ponto. O ônibus parou, e desci. Caminhei até a casa. Não havia ninguém no jardim na entrada, nem vozes vinham de dentro da casa. Abri a grande porta de madeira clara e encerada, com um certo receio. Fechei-a devagar. Subi a escada. Procurei em todos os cômodos do segundo andar, não havia ninguém ali. Desci, e passei pelo corredor de largura média, passando pela cozinha, chegando à área de lazer.

Levei um choque quando avistei toda a Atlanta dali. Há tempos eu não ia ali para fazer isso. Mike estava sentado numa espreguiçadeira no deck, e observava Atlanta, com o rosto apoiado sobre a mão direita. O deck ficava a beira de um precipício. A casa de Mike ficava no ponto mais alto daquela rua. Contornei a piscina, dando passos calculados. Até chegar a espreguiçadeira. Mike não ouvira nada.

 Mike. – Minha fala saiu quase inaudível, tamanho era o meu medo. Mike virou-se, arregalando os olhos. Nem ele acreditava que eu fora ali.

Mike levantou-se num pulo, pondo-se a minha frente. Soltei um grito de desespero, e engoli em seco. Ele me avaliava, calculista. Não consegui sustentar seu olhar. Olhei para os lados, nervosa. Meu coração não desacelerava, e isso dificultava minha respiração. Então ele abriu os braços, passando-os por minha cintura, e fechando-os em minhas costas, me apertando num abraço sufocante. Franzi meu cenho, confusa, e ergui uma sobrancelha.

 Mike? – Indaguei, preocupada. Senti seu nariz inalando o cheiro de meus cabelos.

 Por que está aqui? Você sabe que eu posso te machucar. – Sua voz rouca me fez arrepiar.

 É exatamente por isso que vim, não quero que me machuque mais.

 Não quero falar sobre isso. Você e Matt andaram se encontrando? – Perguntou. 

Seu tom de voz já não era tão calmo como antes.

 Ahn... sim. Ontem eu vim te procurar. – Mordi meu lábio inferior, temendo sua reação.

 Por que?

 Deixe Justin em paz. – Pedi.

 Preciso de um motivo pra isso.

 Eu estou pedindo, não é o suficiente?

 Não, suficiente será se você se afastar dele.

 Mas porque? Nós não temos nada. – Finalizei o abraço.

Seus olhos negros pareciam ter perdido a cor.

 Eu não sou idiota, Lind. O que ele tem que eu não tenho? Fama?

 Isso não diferencia nada. – Respondi secamente.

 Então fique comigo! – Implorou. – Eu te amo. – Rugiu, fazendo eco naquela grande propagação.

 Você não me ama. Isso que você diz ser amor, eu considero uma doença.

– É amor. – Falou, começando a soluçar.

Meus olhos arderam, e senti as lágrimas chegando. Odiava ver Mike naquele estado.