segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Capítulo 1 – Esbarro

Meus cabelos pretos desfiados esvoaçavam conforme o vento frio que anunciava outra chuva. Funguei, passando minha mão esquerda por cima de meu nariz, para estancar o escorrimento. Toda vez que o tempo mudava de repente minha crise alérgica atacava. Porém meu dinheiro não dava para sustentar meus vícios e meus remédios. Cocei meu olho esquerdo, um grão de terra acabara de entrar nele. Distraída tropecei num paralelepípedo solto e meu pé direito ficou preso. Bufei e coloquei minhas duas mãos, agarrando a panturrilha direita para tirar o pé daquele buraco. Após diversos puxões consegui tirá-lo com uma pequena lesão. Meu pé doía, e para não aumentar a dor eu estava mancando. Dei uma tragada forte no cigarro, prendi a fumaça em minha garganta e a soltei segundos depois. Inspirei aquele ar de terra molhada. Adorava aquilo, mas a corrente de vento ficava cada vez mais forte, deixando os poros de meu corpo alertas e arrepiados. Minha bata preta e surrada caía por meu braço direito deixando a parte de cima do meu corpo completamente desprotegida. Minha calça caqui não era uma das mais quentes. Os únicos protegidos daquele corrente fria e repentina, eram os meus pés, confortáveis e aquecidos na bota rasteira de couro marrom. A praça estava mal iluminada. A única fonte de luz que havia ali estava a aproximadamente 50 metros de onde eu estava, e ainda assim era ruim, pois uma gigante árvore encobria parte de sua iluminação.


                                                               Justin P.O.V


Fugi daquela multidão sufocadora e procurei por horas um lugar que eu conseguisse ficar em paz. Encontrei uma praça abandonada, um lugar meio repugnante, mas não havia ninguém ali. Ali havia paz e fedor. Mas não importava, ali eu conseguiria respirar sem alguém pra atrapalhar. Cruzei minhas pernas me abaixando e colocando a mão esquerda como apoio para sentar. Sentei sobre uma grama fria a úmida. Cada centímetro dali estava molhando. Gotículas caíam das folhas de uma árvore que havia ao meu lado esquerdo. Me afastei um pouco dela. Gotas caindo lentamente me irritavam. Apertei uma tecla de meu celular, fazendo a tela acender e conectei a internet. Fiz login no Twitter.

Em paz

Escrevi e enviei o tweet. Fui olhar minhas mentions, fãs e mais fãs mandavam replys pedindo para que eu as seguisse. Outras mandavam frases dizendo que me amavam. Será que elas nunca se cansariam disso? Era patético. Tanto clichê me deixava enojado, mas eram minhas fãs. Senão fosse por elas eu não seria quem sou hoje, mas elas cansam, e como cansam.


                                                                Lindsay P.O.V


Já estava passando da árvore. Meu cigarro já estava no final. Puxei a última tragada com força e o joguei no chão. Abri a boca soltando a fumaça devagar. Olhei para meu lado direito. Um garoto mexia em seu BlackBerry distraído com as pernas cruzada. O olhei com mais atenção. Pelo que pude perceber com a baixa iluminação seus cabelos eram dourados, e seus fios lisos caíam sobre a testa. Me aproximei dele, talvez tivesse um cigarro.

 Ei. – Chamei-o, acabando com sua distração.

Sua cabeça se levantou me analisando e ele franziu o cenho parecendo sentir nojo de mim. Ergui uma sobrancelha em dúvida.

 Desculpa, não tenho esmolas. – Disse seco.

Abri a boca na forma de um ‘o’ em sinal de choque e cruzei meus braços a frente de meu perplexa.

 Eu não preciso de suas esmolas. Ao contrário, quem precisa de esmolas aqui é você, mas esmolas de amor, mal-amado. – Rebati.

 Como é? – Apoiou suas mãos na grama e ficou de pé num segundo. Guardou o celular no bolso e limpou as mãos na calça jeans preta.

 É isso mesmo, fedelho.

– Olha aqui, vadia, você sabe quem eu sou?

 Deveria?

 Eu sou Justin Bieber, Justin Bieber, escutou bem? E quer fazer um programa, desculpas, não transo com qualquer uma. Seu estado transparece sujeira, aposto que leva até bichos dentro das calças. – Gritou, me ofendendo.

 Desde quando nome define personalidade? Seu caso é um ótimo exemplo. Seu nome é até bonitinho, mas você é podre, e não porque está sujo, mas sim de caráter. Roupas também não querem dizer nada. Existem muitos mendigos por aí com roupas aos trapos que são muito melhores que você. Aprenda isso. – Cuspi as palavras.

 Nome não define personalidade pra você que está na sarjeta desesperada. Mas para pessoas de alta classe, definem sim. E eu não ligo para os mendigos, do que ainda eles serem melhores do que eu se não são quem eu sou? – Disse debochado. 

– Olha pra você. Essa cara de derrotada, de desespero, cara de uma pessoa que nunca será absolutamente nada. Eu olho pra você e só enxergo fracasso.

 Como você pode ser podre a tal ponto? Como uma pessoa como você têm fãs? Você me dá nojo, garoto. E eu não me importo que quando você olhe pra mim só veja fracasso, porque é realmente isso que eu sou. Mas e você? Você também é um fracasso, mas diferente de mim tem grana. E sabe o porque? Porque ninguém nunca gostou realmente de você e sim do seu dinheiro, capaz né? Quem gostaria de alguém como você? – Me arrepiei ao concluir a frase e o olhei com desprezo.

 Mas bem que dinheiro resolveria sua situação desesperadora, não é mesmo? É uma pena que eu não tenha trago a carteira, senão te daria alguns trocados pelas belas palavras ditas.

Dei alguns passos, ficando próxima dele e por um segundo ele hesitou mostrando medo em seus olhos. Porém logo tomou uma posição ereta e me fitou desafiador. Olhei seu rosto, e apesar de ser um crápula por dentro, por fora era lindo. Aproveitei sua distração e escarrei em seu rosto. Não havia palavras para descrever sua reação. Ri debochando de seu estado.

 Vadia! – Justin levantou sua mão esquerda para bater em meu rosto, mas eu o impedi, segurando seu pulso. Impus toda minha força em minha mão direita, e apertei seu pulso o contorcendo. – Aiiiii. – Gritou de dor, mas eu continuei.

 Seus escrúpulos acabaram, Bieber.

Um barulho vindo do norte chamou minha atenção, fazendo com que eu largasse o pulso de Justin. Pela visão periférica pude vê-lo balançar o pulso e o acariciar devido à dor. Ouvi uma voz que não deveria estar ali, xingando alto demais. O pânico tomou conta de mim. Apavorada, gelei e fiquei completamente imóvel. Justin aproveitou o momento oportuno para zombar de mim.

 O que, vadia? Cansou de bancar a durona?

 Shhi! – O adverti. – Cala essa boca, será que você não tá ouvindo? – Sussurrei.

 Que barulho? – Gritou.

 Fale baixo!

Justin ficou calado e tentou apurar sua audição para ouvir. Pow! Ouvimos um barulho de algo subindo no ar na velocidade da luz. Justin se sobressaltou, eu apenas fiquei parada onde estava.

 O que é isso? – Perguntou. Olhei em seus olhos e o medo estava estampado.

 Coisa boa que não é. – Disse, apenas.

 LINDSAY! – A voz gritou por meu nome, fazendo-o ecoar por toda a praça.

Minhas artérias congelaram, me deixando fraca e sem saber o que fazer.

 Quem é Lindsay? – Justin perguntou.

Não respondi, apenas o fitei atônita.

– Ah, não. Além de ser vadia, ainda é procurada por um maníaco. Adeus. – Disse ele, deduzindo que eu era Lindsay.

Justin começou a dar passos apressados. Mas eu o contive, segurando-o por seus dois ombros.

– Não, por favor, você não pode me deixar aqui em apuros. – Pedi suplicante, passando por cima de meu orgulho.

 Você acha que eu ligo de te deixar em apuros? Pelo menos esse psicopata te dará um jeito, porque você bem que merece. – Disse ele sem se virar. Justin tirou minhas mãos de seus ombros e andou mais apressado.

Por um momento fiquei imóvel. Porém mesmo que Justin fosse um nojo de pessoa, ele não me faria mal como Mike faria. Suspirei derrotada e corri atrás dele. Ele já estava longe demais. Forcei minhas pernas a correrem mais depressa. Esse era o único mal do tabaco, meus pulmões imploravam por ar, eles não aguentavam tanto esforço numa só noite. Justin parou a frente de um Ranger Rover e abriu a porta do motorista. Apressei meu andar para alcançá-lo antes que desse a partida. Ele fechou a porta e colocou o cinto. Vi que encaixa a chave para ligar o carro. Corri e atravessei uma rua que delimitava o término da praça. Parei de frente para a porta do motorista e bati na janela desesperada. Justin me olhava com ar de deboche, enquanto eu dizia palavras involuntárias tamanho era o medo. Eu socava a janela com os punhos, mas sua expressão continuava a mesma. Ele era tão frio. Olhei pra trás e a sombra de Mike por trás do tronco da árvore. Ele já me vira, só estava esperando o momento certo para me pegar. Que provavelmente seria quando Justin partisse me deixando ali, a mercê da morte, quem sabe. Mas Justin se assustou. Parecia que ele via Mike e o que estava escondido em seus olhos. Ele abriu a janela.

 Que morte trágica, você terá. – Disse com pesar, e deu partida no carro. Mas eu ainda corri atrás, Justin andava a 10km/h.

 Você não vai me salvar? – Perguntei aos prantos.

De repente ele pareceu ver o grau da situação e me analisou sem deboche, mas ainda torceu o nariz.

 Entre. – Disse apenas.

Corri pela frente do carro e abri a porta do carona. Fechei a porta e coloquei o cinto. Justin pisou fundo no acelerador. Pude ver pela janela do banco de trás, Mike quase fumaçando de tanta raiva.

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