quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Capítulo 3 – Dúvida

                                                                  Justin P.O.V

Se arrependimento matasse, eu não estaria aqui, pensando nisso. Eu estava profundamente arrependido por ter ido àquela praça fedorenta. Mesmo a praça sendo fedorenta, ela me proporcionou alguns minutos de sossego. Porém como tudo que é bom dura pouco, minha paz instantânea acabara. Uma garota com cara de viciada e vestida como uma vadia arrependida apareceu, me chamando. Fui sincero e disse que não tinha esmolas para dar a ela, mas ela se sentiu insultada, e iniciamos uma discussão, que por sinal foi sem fundamentos. Insatisfeita em me deixar ofendido, ela resolveu cuspir em meu rosto. Me senti um merda naquele momento. Tive vontade de gritar e chorar, mas eu era mais forte que isso. Se acaso eu tivesse que chorar e gritar seria em casa, não na frente de uma desconhecida metida a sou foda. Para melhorar a situação um maníaco com uma arma aparece procurando por ela. Desesperada ela pediu minha ajuda, mas o único que precisava se salvar daquilo era eu. Andei apressado na direção de meu carro, mas ela veio atrás de mim. Lamentei por aquele infortúnio, seria até bom que o cara desse uma lição nela, onde já se viu cuspir no rosto de Justin Bieber? Corri para meu carro, abri a porta de pressa e entrei, colocando o cinto e aquecendo o carro. Ela apareceu socando a janela implorando por ajuda. Mas eu a desprezei. Pude ver o cara atrás da árvore mexendo na arma. Dei a partida com o carro, ainda assim ela veio atrás de ajuda. Mesmo que não merecesse que eu a salvasse, disse para ela entrar. Jamais me perdoaria sabendo que eu poderia ter salvado uma vida, e, no entanto, não a salvei por causa de orgulho.

Dei partida com o carro. Tínhamos acabado de sair de uma situação tensa, mas eu não contive a vontade zombá-la. Irritamos um a outro a tal ponto de eu frear para a fuzilar com os olhos e de ela descer do carro. A princípio eu a deixaria ali, pois tudo o que ela queria era chamar minha atenção para que eu descesse do carro e a pedisse pra voltar, mas eu não faria isso. Porém vi pelo retrovisor um carro vindo a todo vapor, e ela olhando pra frente não percebeu o carro. Destravei o cinto, e pulei do carro para trazê-la. Por um instante tive a pequena impressão de que morreríamos nós dois ali, atrofiados pelo carro, porém puxei seu braço, fazendo-a voltar a distância percorrida. Lindsay caiu e instintivamente a levantei, antes que o carro esmagasse suas pernas. Logo o carro passou, causando um vento forte que me forçou a fechar os olhos. Os fios de seus cabelos acariciavam de leve meu rosto, me causando cócegas e vontade de rir, mas me controlei. O cheiro que vinha dos fios era indescritível. Algo como de frutas cítricas, madeira conservada, e meio amargo. Era uma louca mistura, mas um ótimo cheiro. Ao menos o cabelo era cheiroso, disse eu, quebrando o silêncio. A virei para olhar em seus olhos. Eles eram verde mar. Algo nela era bonito. Vencida pelo orgulho era agradeceu por tê-la salvado. Entramos no carro e iniciamos outra discussão. Chegamos à frente de um prédio refinado. Pensei em perguntar se ela morava ali, mas não perderia a oportunidade de zombar de sua cara. Uma breve discussão e um gesto involuntário. Algo desconhecido dentro de mim pedia que ela ficasse mais um pouco. Perturbar pessoas como ela me deixava alegre. Mas eu tinha dúvida se era isso mesmo. Disse ela que faltava verdade em meu olhar, nem eu mesmo sabia responder. Perguntei então se ela ficava em casa o tempo todo. Ela respondeu que trabalhava e disse que eu tinha coração. Dei de ombros não me importando com seu comentário e parti.

Cheguei em casa. Apertei o botão do controle que comandava a porta automática da garagem e a abri. Entrei com o carro e o estacionei. Tirei o cinto, peguei a chave e saí, fechando a porta. Deixei a luz da garagem desligada para mamãe não ver que eu chegara. Passei pela porta que ligava a garagem a sala e a fechei. A luz da sala acendeu-se.

 Me dê seu celular, agora. – Disse mamãe aparecendo a minha frente. Assustado, entreguei o celular pra ela.

– A próxima vez que isso acontecer, você faltará a 7 shows e eu não me importo com isso. – Disse ríspida. – Aliás, nem você se importa mais com suas fãs, não é mesmo? Sabe quantas pessoas estão preocupadas e talvez passando mal por culpa sua? Não né? Milhares talvez, e você não mostra uma ponta de consideração por quem se importa com você. É por isso que você não tem amigos de verdade, Justin. E os que tinha se afastaram de você por você ter se tornado o que é hoje. – Despejou tudo.

As palavras ditas por mamãe foram pior do que qualquer tapa no rosto. Elas pareciam rasgar minha pele, infiltrando em minha alma e me causando uma dor psicológica.

 CHEGA! Chega desse negócio de que eu não tenho amigos, de que eu sou isso, que sou aquilo. PÁRA! O que está acontecendo? De repente todos parecem fazer um complô contra mim. CANSEI. Passe bem. – Bufei.

Subi pisando forte para meu quarto. Ouvir palavras como aquelas da pessoa que mais se ama, não era fácil, elas doíam, e muito.

Cheguei a meu quarto. Caminhei pelo assoalho de madeira clara e encerada. Ajoelhei sobre a cama e desabei, caindo com a cabeça sobre o travesseiro. Afundei meu rosto no travesseiro, e fiquei sem respirar. Por alguns segundos tudo ficou bem, mas depois a falta de ar surgiu. Virei minha cabeça para o lado direito e respirei fundo, ofegante. Mexi em meus cabelos, deixando os fios desordenados. Coloquei a mão no bolso da calça para pegar meu celular, porém lembrei que mamãe tinha pegado. Argh. Que saco de vida. Tirei o tênis com o próprio pé e tirei o edredom que cobria a cama, para por em cima de mim. Me encolhi embaixo do edredom, funguei e fechei os olhos, dormindo logo em seguida.

Abri os olhos. A janela estava entre aberta. Um vento fresco entrava por ela, balançando as cortinas azuis escura. Sentei, levantei, e fui até a janela. Afastei as cortinas e escancarei a janela, deixando a claridade invadir o quarto. Caminhei para o banheiro. Tirei minhas vestes e entrei no Box. Abri o registro e relaxei com a água morna. Lavei meus cabelos, e me ensaboei. Me enxaguei, e fechei o registro, terminando o banho. Abri a porta do Box e peguei a toalha verde. Me enxuguei e coloquei a toalha em volta de meu quadril. Voltei para o quarto. Vesti uma calça jeans branca, uma blusa vermelha gola v e calcei um supra preto. Sequei meus cabelos com o secador e voltei para o banheiro. Escovei meus dentes, voltei para o quarto, peguei um casaco cinza da GAP que estava no encosto da poltrona cinza com bordado de bolinhas azuis claras, e desci.

Cheguei à sala. Mamãe assistia TV. Ela ouviu meus passos e sua atenção voltou-se para mim.

 A chave do carro. – Pedi.

 Não senhor. O celular e o carro estão confiscados.

 Mãe, eu não posso sair por aí sozinho sem carro e sem o Kenny.

Mamãe fez uma expressão de derrota e ao mesmo tempo entediada.

 Fazer o que, né? – Ela suspirou e me entregou a chave.

 Você não vem comigo?

 Não. Scooter encontrará com você lá.

 Ok. Tchau, te amo.

 Tchau, e se cuide. Eu também te amo.

Cheguei à porta que dava para a garagem e abri-a. Fechei-a. Destravei as portas do carro e entrei. Liguei o carro e dei a ré para sair da garagem. Cheguei a rua do condomínio e acelerei, indo para o estúdio.

Cheguei ao estúdio. Kenny esperava por mim na entrada. Demos nosso toque e entramos.
Chegamos à sala de gravação. Scooter já estava lá, e junto com ele uma pessoa que há tempos eu não via e sentia falta, Selena.

- Jussstin! – Selena disse, vindo correndo em minha direção e pulando em meu colo, cruzando suas pernas em minhas costas.

– Sel. – Disse quase sem ar. Seu abraço era bom, porém sufocante.

 Senti tanto sua falta. – Disse ela, manhosa. Afaguei seus cabelos para consolá-la.

 Eu também. Por onde andou todo esse tempo?

 Trabalhando. Fazer turnê não é fácil. – Disse ela, escorrendo por minha barriga e descendo de meu colo.

 Sei bem do que você tá falando. – Sorri.

 E então, vamos logo para as entrevistas? – Disse Scooter nos interrompendo.

 Vamos. – Disse eu. – Quer me acompanhar, Sel? – Perguntei.

 E pode? – Perguntou ela.

 Mas é claro. A entrevista é minha, e eu escolho se levo alguém comigo ou não.

 Então tá. – Disse ela, sorrindo.


Fomos para o estúdio de uma rádio local. Lá seria minha primeira entrevista. E provavelmente, meu primeiro estresse do dia. Com certeza alguém perguntaria o que havia entre Sel e eu.

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