quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Capítulo 4 – Entrevistas

Chegamos à rádio e descemos do carro. Sel cruzou seu braço direito ao meu esquerdo e apoiou sua cabeça em meu ombro. Olhei para ela e sorri. Entramos no estúdio e subimos para a sala de entrevista que ficava no último andar.

 Bom dia. – Disseram em uníssono os dois entrevistadores, assim que entramos na sala.

 E aí? – Disse eu.

 Bom dia. – Respondeu Sel.

Os entrevistadores eram um homem e uma mulher. Ao ver que Sel e eu estávamos juntos os dois se entreolharam prevendo uma matéria maior e com mais sucesso de mídia. Revirei os olhos.

 Sentem-se. – Disse a mulher.

Nos sentamos num sofá de couro marrom. Sel ainda continuava com seu braço cruzado com o meu e sua cabeça apoiada em meu ombro.

 Então vamos a primeira pergunta. Ela não estava em nosso script, a colocamos de última hora. – Disse a mulher.

 No caso, agora, não é mesmo? – Perguntei sem rodeios. Reportes eram tão previsíveis.

 Sim, Justin. – Ela sorriu, sem graça. – Você está namorando no momento?

 Não. – Respondi, e logo após bocejei. O entrevistador anotava o que nós dois falávamos.

 O que há entre você e Selena Gomez?

 Amizade, apenas. – Disse, entediado.

 Pra você também, Selena? – Perguntou a mulher dirigindo-se a Selena.

 A entrevista é com o Justin e não comigo. – Respondeu Sel.

 Ok.

Tiveram outras perguntas além das perguntas do possível namoro entre Sel e eu. Mas a entrevista só focou nisso. Era bom ter Sel comigo, mas se eu soubesse que a entrevista teria essa reviravolta por causa dela, eu teria deixado-a no carro.

Seguimos para outra entrevista. Dessa vez a entrevista seria para uma revista. Chegamos à redação e fomos para a sala de entrevista. A princípio a entrevista estava boa, até chegar ao assunto de Selena.

 Se Selena não viesse comigo vocês teriam outras perguntas? – Perguntei.

 Sim.

 Então, por favor, façam essas outras perguntam e parem de insistir em algo que não existe. – Falei, revirando os olhos, e ficando nervoso.

 Desculpe. – Pediu a entrevistadora.

A entrevista continuou e finalmente deixaram as perguntas sobre Sel de lado. Terminamos essa entrevista e fomos almoçar. Porém Kenny e Scooter não foram conosco. Fomos só Sel e eu.


Decidimos comer numa lanchonete com um estilo retro. Pedimos dois cheeseburgers de picanha, duas porções grandes de batatas fritas, dois milk-shakes e dois copos médio de Coca-Cola. Cerca de 10 minutos depois nossos pedidos foram entregues. Sel deveria estar como eu, morrendo de fome. Num piscar de olhos tudo acabou, com nossas bocas e narizes ficando lambuzados. Rimos um da cara do outro e fomos ao banheiro lavar nossos rostos. Esperei Sel voltar do banheiro e paguei a conta. Perto dali havia uma loja de doces, resolvemos entrar lá para comprarmos algumas sobremesas.

Entramos na loja de doces e ao abrir a porta, houve um barulhinho de um sino. Olhei para cima da porta, para ver de onde vinha o barulho. Havia um sino em cima da porta que anunciava a chegada dos clientes. Não tinha ninguém no balcão, deveria ser esse o motivo do sino ali. Havia algumas pessoas escolhendo doces pela loja. O espaço da loja não era muito grande, porém havia bastantes prateleiras recheadas de todos os tipos de doces e chocolates.

 Justin, vou escolher alguns doces, ok? – Disse Sel, soltando meu braço.

 Ok. – Sorri.

Ela foi pra ala leste e eu fiquei ali olhando algumas balas.

 Com licença, senhor, posso ajudar? – Disse a voz de uma garota.

Virei para olhá-la e dizer que não precisava, porém faltaram palavras. Lindsay estava com uma blusa azul clara, uma calça da mesma cor, um avental rosa escuro e um lenço que jogava seus cabelos para trás, rosa também, e um par de allstar vermelho.

 Mas é muito azar pra menos de 24 horas. – Disse ela, suspirando, e balançando a cabeça negativamente.

 Azar digo eu. – Corrigi. – E me trate bem, ok? Não esqueça que você é a empregada que está em seu expediente de trabalho e eu sou o cliente. – Dei uma piscadela.


 Educado como sempre. – Respondeu, olhando as balas, ao seu lado esquerdo.

 Já que você trabalha aqui, pode me ajudar a escolher alguma bala que seja boa? Quero comer algum doce diferente.

 Não acha melhor que eu chame outra garota pra vir te atender?

 Não.

 Mas eu acho.

 Quem escolhe é o cliente. – Respondi sério.

 Ok.

Caminhamos por algumas prateleiras. Lindsay observava o pacote dos doces com atenção.

 Aqui. – Disse ela pegando um saco de balas sortidas. – São ótimas. – Me entregou o saco.

 Se forem ruins descontarei de seu salário.

Ela ficou calada e apenas revirou os olhos.

 Você não estuda? – Perguntei curioso.

 Pra que quer saber?

 Óbvio não é? Você está aqui trabalhando, ao invés de estar na escola.

 Se é óbvio então porque perguntou? – Rebateu.

Calado, a fuzilei com os olhos.

 Queridinha, você pode fazer o favor de parar de conversar e fazer seu trabalho? Levaremos isso. – Disse Sel, entregando uma cesta média de doces para Lindsay.


 Por que você não reclama com seu namoradinho? Ele que veio puxar assunto. – Lindsay pegou a cesta e foi para o caixa.

 Você que puxou assunto, Jus? – Pergunto Sel, parecendo espantada.

 Sim.

 Eu não sabia que você tinha esse tipo de amizade. – Sel fez um gesto com a mão de esnobação.

 Nem eu sabia que você tinha mudado tanto. – Respondi, chocado com seu comportamento.

 Não mudei. Aliás, você que mudou. Onde estão aquelas amizades de antes?

 Elas nunca existiram. Quer dizer, existiram, mas o que é falso não dura por muito tempo.

 Hum. Você não precisa falar comigo desse jeito por causa dessa baixa renda, né?

 Baixa renda? – Repeti perplexo.  O que houve com a Selena de antes? Olha, eu nem vou com a cara dessa garota, mas ela é tão gente quanto nós. Só porque é pobre, metida a foda e arrogante, não significa que ela seja pior, ou melhor, que nós.

– Mas eu ainda acho que sou melhor que ela. Pensei.

 Não vale a pena discutir por algo tão insignificante. Me desculpa, ok? Prometo não falar mais nada sobre isso. – Ela me abraçou forte. Senti que a Selena de antes voltara.


Não sei o que acontecera. Talvez fosse Lindsay que tivesse um poder desconhecido de irritar as pessoas e fazer com que sentíssemos raiva dela e vontade de xingá-la.

 Vamos logo pagar essa conta. – Disse eu, me afastando de Sel, dando fim ao abraço.

Caminhamos até o caixa. Lindsay entregou um papel verde com o valor dos doces e saiu sem dizer uma palavra. A olhei com pena. Entrei na fila e paguei a conta. Selena pegou a bolsa e começou a andar para sairmos da loja.

 Ahn... Sel, esqueci de pegar chocolate, mas será rápido. Me espere no carro, ok? – Entreguei a chave do carro a ela.

Ela me olhou desconfiada. Fiquei com medo de que ela dissesse que me esperaria ali.

 Ok. – Disse por fim, saindo da loja.

Fui atrás de Lindsay.

 Posso te encontrar hoje à noite? – Disse entre os dentes.

 Não entendi. – Ela respondeu, e parecia ter sido sincera.

 Posso te encontrar hoje à noite? – Sussurrei.

 Tem como parar com a infantilidade? Deu pra perceber que você gosta de zombar comigo e agora trouxe sua namoradinha recalcada pra zombar de mim também, mas tudo tem sua hora. Suas piadinhas não me fazem diferença alguma, mas não aqui no meu trabalho. Tenha pelo menos essa consideração.

 Eu não estava zombando de ninguém, valeu? Eu perguntei se posso te ver hoje à noite. – Disse num tom médio.

 Pra zombar mais ainda de mim? Não sei. Não sei se terei paciência.

 Posso ou não? – Insisti.

 Ok, não vai mudar em nada, não é mesmo?

 Não, não vai. Que horas? – Perguntei.

 Depois das 19:00.

 Marcado. Valeu.

Saí da loja. Andei até o carro que estava estacionado antes da lanchonete e abri a porta do motorista entrando. Fechei a porta e coloquei o cinto.

 Onde está o chocolate? – Perguntou Sel, desconfiada.

 Não tinha o sabor que eu queria. – Respondi, lembrando da desculpa que dera a ela.

 A-ham. E qual era o sabor? A atendente?


 Não viaje, Sel. – Revirei os olhos, contorcendo os lábios. Liguei o carro e fomos embora.

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