terça-feira, 1 de outubro de 2013

Capítulo 13 – Sem permissão

Saímos do escritório, e descemos pela escada sem suporte para degraus. Costumava dizer que os degraus eram flutuantes por permanecerem ali sem cair, mas eles eram presos à parede. Chegamos à sala, e fomos direto para o bar. Matt abriu a pequena porta do bar, tirando uma garrafa de vodka dali de dentro. Ele a entregou para mim.

– Espero estar de ajudando, e não te afundando.

– Não se preocupe, é só pra descontrair. – Sorri.

– Você trabalha, não se esqueça disso. – Alertou.

– Não me esquecerei.

– E quanto àquela idéia de ir morar com a sua prima? – Perguntou, desenterrando algo de meu inconsciente que eu já julgava impossível lembrar.

– Puts. – Disse, pensando em algo pra falar. – Há muito tempo não penso nisso. – Confessei.

– Jura? Então você desistiu? – Perguntou, ficando animado com minha resposta incompleta.

– Porém, – continuei a frase interrompida – você como sempre me traz coisas boas. Até que não é uma má idéia ir passar as férias lá.

– Ah, não, pra que eu fui te lembrar isso?

– Por que você é um fofo, que me ama extremante, e quer meu bem. – Sorri, apertando sua bochecha direita.

– Claro, porém quero seu bem ao meu lado, não longe de mim.

– Olha só quem fala o Senhor Viagem.

– Compromissos, não posso deixá-los de lado. – Pigarreou.

– E eu estou em busca de uma vida boa, sem pesadelos, apenas alguns impactos leves, nada mais. É cansativo ficar nessa de sofrer sempre, sabe?

– Sempre? Sempre não existe. Seja otimista, olhe pra você, dezesseis anos só.

– Olhe pra você, dezoito anos só. Enfim, quero um cigarro. – Pedi.

– Ainda tá nisso?

– Melhor isso do que hidropônica. – Desembuchei.

– Mas é claro, você e suas desculpas. – Revirou os olhos. – Enfim, vamos procurar pelo cigarro.

Percorremos por um bom tempo a casa toda, em busca de cigarro. A maioria só andava com drogas. Mas encontramos uma garota. Matt deu 100 dólares em troca de seu maço de cigarros, sem pensar duas vezes, ela entregou o maço com um isqueiro. Matt agradeceu, e saímos do limites da casa, descendo a rua íngreme.

– Por que chorou antes de vir pra cá?

– Por pouca merda. – Falei com raiva.

– Quero saber.

– Hoje não. E ah, não conte para Mike que estive aqui. Poupar a vida de uma pessoa é sempre bom.

– Porém você não pensou em poupar a sua quando veio aqui.

– Estava com raiva, ainda estou, mas tá passando. – Disse, tirando o lacre da garrafa de vodka.

– Mais um motivo pra você me contar o que aconteceu.

– Hoje não. – Repeti.

– Não falo pra Mike que você veio aqui, mas só se nos vermos amanhã, e se você me contar o que houve. – Disse, fazendo chantagem. 

– Argh, - revirei os olhos – é a única opção. Ok, amanhã. – Concordei, cedendo.

Já estávamos chegando na praça abandonada. A praça da desgraça. A praça que encontrara com Justin pela primeira vez. Arranquei a tampa da garrafa, e virei o líquido quente em minha garganta, causando ardência.

– Está bom até aqui. – Parei de andar. Matt também.

– Me empresta sua blusa. – Pediu com uma sobrancelha arcada. Entreguei a blusa a ele, inocente.

O cabelo loiro de Matt reluzia na iluminação precária da praça. Seus olhos azuis avaliavam a blusa. Ele a levou até o nariz. Cheirou a blusa, logo após franziu o nariz.

– Homem. – Resmungou. – Como eu já suspeitava. Só espero que não se torne um Mike.

– Não vai.

– Tem certeza?

– Ele virá um Mike? Impossível. – Mike mesmo maníaco por mim, ainda assim ele sentia algo, enquanto Justin era completamente oco por dentro. – Tchau, Matt. Até amanhã. Obrigada por tudo. – Abracei sua cintura. – Eu te amo. – Concluí.

– Eu também te amo. Resolva, por favor, esse romance inacabado.

– Não há romance. Enfim, tchau. – Disse eu, separando nossos corpos.

– Tchau. Até. – Jogou um beijo no ar, e eu brinquei, fingindo pegar.

Virei as costas para Matt, e caminhei, até encontrar um banco de concreto, sobre um solo irregular. Sentei-me no banco, e virei outra golada de vodka. Coloquei a garrafa ao meu lado. Peguei um cigarro, o levei a boca, e o acendi. Traguei-o com força. Deixei a fumaça em minha garganta durante segundos. A soltei pelo nariz. Lembrei de meus pais. Eu precisava tanto de mamãe para me aconselhar. Uma lágrima caiu. Outra lágrima caiu. Duas lágrimas derramaram-se de cada olho. Funguei, vendo o choro aumentar sua freqüência. Dei um gole na vodka, mas parte dela entornou-se sobre meus seios, minhas mãos tremia, e eu soluçava devido ao choro. Preciso de vocês aqui. Pensei. Refreei as lágrimas. Virei a vodka em minha garganta sem pensar na conseqüência quando acordasse. Restou um bocado. Acendi cigarros sucessivamente até acabarem. Minha garganta estava seca. Engoli o resto da vodka. Joguei a garrafa longe dali. Ouvi o barulho da garrafa quebrando, e transformando-se em dezenas de pequenos cacos de vidros. Deitei no concreto gélido, me causando arrepio, e fazendo meus dentes baterem um no outro de frio. Abracei a blusa, deixando uma parte sua perto de meu nariz. Isso me aquecia um pouco, apesar de ser errado. Fechei os olhos. Dormi.

                                                               Justin P.O.V

Consegui o que queria: beijei Lindsay. Porém não me senti completo com isso. Tão pouco quando brigamos por um fatal erro meu. Eu estava confuso demais para racionar, e administrar tudo o que acontecera. Fora intenso demais, e rápido demais. Fui tão lento que deixei Lindsay partir.

Não fui atrás dela de princípio, não podia deixar seu apartamento escancarado. Voltei, peguei a chave na porta, e a tranquei. Desci pela escada, correndo. Cheguei à recepção. O porteiro me olhou desconfiado.

– É melhor você colocar a blusa nela, para evitar um resfriado. – Comentou, sarcástico. Porém passei direito, fingindo não ouvir.

Demorei muito para chegar ali, na calçada. Não havia nenhum sinal dela. Voltei à recepção, pegando o elevador pra garagem. Cheguei à garagem. Corri para meu carro. O liguei, e saí dali, em busca de uma solução.

Cheguei a um condomínio. Estacionei o carro à frente da casa laranja claro. Desci, fechando a porta, e caminhei até o portão. Apertei o interfone. Uma voz grave perguntou quem era, respondi, e o portão foi aberto. Adentrei na casa, caminhando sobre as rochas que havia ali, para evitar pisar na grama aparada. A porta foi aberta, corri, me jogando no sofá de couro marrom. Fitei o chão, me sentia tão podre. Eu estava mal comigo mesmo.

– O que houve? – Perguntou Kenny, notando meu estado de espírito.

– Dei uma mancada. – Confessei, entortando meus lábios, desconsertado.

– Ah, mas isso não é uma novidade. O que você fez?

– Lindsay... – Falei, com o corpo ali, mas a mente distante.

– Quem é Lindsay?

– A garota que você diz ser minha.

– O que você fez com ela?

Respirei fundo, e comecei a contar para Kenny sobre Lindsay, desde a primeira vez que a vira. Terminei a história, ele me olhava com nojo. Ótimo, mais uma coisa pra eu me sentir um lixo.

– Se eu fosse essa garota, eu cortava esse seu rostinho lindo com a gilete, pra você se sentir como ela se sentiu com as suas palavras, seu modo de agir é imperdoável. 

– Está na hora de evoluir, Bieber. – Brandiu Kenny.

– Mas ela me irrita. Seria tudo mais fácil se ela tivesse me deixado ficar. – Tentei defender minha situação.

– Já parou pra pensar que ela pode querer se preservar? Vocês só se conhecem há três dias.

– Mas eu já salvei a vida dela por várias vezes.

– Isso não interessa, você está salvando a vida dela pra se garantir quando quiser algo? O fato de ela morar sozinha não significa que não tenha respeito próprio.

– Aposto que Mike já dormiu lá. – Fiz bico.

– Esqueça Mike! O foco é você, e não ele. Ou está com ciúmes? – Kenny me fitou, presunçoso.

– É claro que não. Não sinto ciúmes de gente como ela. – Brandi.

– Está vendo porque você não merece nem o amor da sua mãe? Olha como trata as pessoas, só porque elas não fazem sua vontade. O mundo não gira ao seu redor, Bieber.

– Nem todas as pessoas. – Desconversei.

– Só a Lindsay, a pessoa que você mais precisa no momento.

– Eu não preciso dela no momento. – Rebati.

– Então porque está aqui, me pedindo conselhos?

– Ahn... Ah! Mas que saco, pare de fazer perguntas complicadas. – Levantei do sofá, ficando nervoso.

– Diga, o que você quer, de verdade.

– Eu não sei pra onde ela foi, e isso me preocupa.

– Você precisa dela. – Insistiu.

– Eu preciso que você me dê uma dica.

– Não imagina nenhum lugar que ela posso ter ido?

– Não. – Confessei.

– Já tentou ir a praça? Ela pode estar lá. – Disse Kenny, obviamente.

– Mas é claro! Vamos. – O chamei.

– Eu não vou. – Disse, continuando sentado.

– Venha logo, Kenny. – Pedi.

– O problema é seu, quem fez a merda foi você, a garota é sua. – Disse Kenny, sério.

– Puxa, obrigado por me ajudar. – Disse, irônico.

Saí da sala, andando pelo jardim, abrindo o portão, e indo para o carro. Segui para a praça.

Cheguei à praça. A iluminação estava pior do que há três dias. Passei pelo local onde fiquei sentado. Quando cheguei ao outro lado da árvore, vi um corpo deitado num banco. Corri até ele. Lindsay ainda estava sem blusa, toquei em seu braço de leve, ela estava congelando. Um maço de cigarros, vazio, estava abaixo do banco. Talvez o maço fosse só pra disfarçar o que havia dentro. Meu coração congelou como a pele de Lindsay, ao pensar que eu causara aquilo nela. Funguei. Meus olhos ardiam. Não. Pensei. Sentimentalismo ao máximo, isso não. Agachei, para pegá-la. Lindsay pesava um pouco, mas nada que eu não agüentasse. Seu corpo estava mole, e ela não reagiu com meu toque. Seu sono parecia profundo. Ela estava abraçada com sua blusa, e a mesma perto do nariz. Aproximei meu nariz da blusa. O cheiro enfraquecido de meu perfume estava ali. Meu estômago revirou. O que havia comigo? Por que eu fizera aquilo com ela? Comigo? Com nós? Caminhei até o carro. Foi complicado deitá-la no banco de trás, porém eu consegui. Fechei a porta traseira. Abri a porta do motorista. Liguei o carro, e parti dali.

Cheguei à garagem de seu prédio. Tirei a chave do bolso, e deixei em minha mão. Saí do carro, fechando a porta. Abri a porta traseira. Puxei-a, colocando-a no colo. Bati a porta com o pé, e subi para seu apartamento. Coloquei a chave na fechadura, e empurrei a maçaneta pra baixo, a porta abriu-se. Adentrei em seu apartamento, procurando por seu quarto. O encontrei. Deitei-a sobre a cama. Tirei seu tênis, o jogando por algum canto do quarto. Abri a porta do closet, e procurei por algum edredom. Peguei um branco com desenhos de violetas. Voltei para o quarto, e a cobri. Sentei ao seu lado, observando-a dormir. Nunca me senti tão mal por alguém, como eu me sentia por Lindsay. Suspirei, derrotado.

Meu celular tocava. O atendi de imediato para não acordar Lindsay. Era mamãe.

– Onde você está? Venha para casa, agora! – Berrou.

– Não posso. – Sussurrei.

– Por que está falando baixo?

– É uma longa história, depois eu conto, prometo. Mas agora eu não posso ir pra casa.

– Você foi seqüestrado? Meu Deus! – Gritou, estourando meus tímpanos.

– Não! Está tudo bem, fique tranqüila, não é nada comigo.

– Ok. Mas depois me conte, tudo, detalhe por detalhe.

– Tudo bem, mãe. – Disse, mesmo sabendo que não contaria todos os detalhes. – Tchau.

– Tchau.

Guardei o celular. Voltei à sala, para trancar a porta. Voltei para o quarto. Sentei na cama, apoiando minha coluna no encosto. Fechei os olhos.

                                                         Lindsay P.O.V

Movimentei-me, e percebi que não caí. Senti-me confortável e aquecida. Aos poucos abri meus olhos. Um corpo estava sentando ao meu lado, me observando. Apesar da fraca iluminação distingui as orbes douradas.

– Suma daqui, você está infectando minha casa! – Tentei gritar, mas minha voz saíra rouca e enfraquecida.

– Não sumirei. – Respondeu baixo.

– Por que está aqui? Como vim parar aqui?

– Essa é sua casa esqueceu? – Desconversou.

– Não, mas eu não vim pra cá.

– Eu fui te procurar.

– Por que?

– Fiquei preocupado.

– Suas palavras não me convencem mais.

– Isso não me admira. – Disse, parecendo tristonho.

Fiquei de bruços, e o fitei. Será que Justin nunca ficaria em paz consigo mesmo. Eu sentia suas dúvidas aflorarem por toda a extensão de seu corpo. Abaixei minha cabeça olhando o travesseiro.

– Já pode ir. – Disse eu.

– Se precisar de algo me ligue. – Disse, levantando.

– Obrigada. – Pedi, afundando meu rosto no travesseiro.

– Disponha. – O ouvi falar.

Minha cabeça mesmo no travesseiro pesou. Apoiei meus braços na cama e ergui minhas costas. Tudo rodou. A ressaca. Senti um enjôo repentino.

– Justin! – Gritei, sem saber se ele ainda estava ali.

Ouvi passos rápidos pelo assoalho da casa. Levantei da cama, ficando tonta, e perdendo o equilíbrio. Suas mãos me ampararam.

– O que você tem? – Perguntou, preocupado.

– Enjôo. – Respondi.

Ele me guiou até o banheiro. Desajeitado passou sua mão por meus cabelos e os segurou, para não caírem em meu rosto. Me debrucei sobre a pia, e o vômito saiu. Senti nojo de mim por isso. Imaginei como estaria Justin. Abri a torneia, peguei um bocado de água com a mão, e bochechei, lavando minha boca. Virei para secar minha boca na toalha de rosto. Justin também virou para não me atrapalhar.

– Já pode soltar meu cabelo. – Avisei.

Ele soltou, e se pôs a minha frente, segurando meus ombros.

– Está tudo bem? – Seus olhos estavam preocupados.

– Não. – Confessei.

– Posso comprar um remédio para seu enjôo.

– O problema não é o enjôo. – Disse eu, fitando seus olhos com precisão.

– Então qual é? – Perguntou, confuso.

– A pior parte é a pessoa que te fez sentir mal, perguntar qual é o problema.

– Foi sem querer. Eu me alterei. Queria ficar pra dormir, mas você me contrariou.

– O bebê não pode ser contrariado que já se acha no direito de ofender todo mundo, não é mesmo?

– Eu não vou discutir.

– Nem eu.

– Como se sente? – Insistiu na resposta.

– Mal.

– O que está mal?

– O coração. – Seus olhos se alteraram, parecendo perder o brilho dourado.

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