sábado, 12 de outubro de 2013

Capítulo 15 – Justificativas

 Me dê uma chance. – Disse ele, me dando as costas, e indo para a beira do deck. 

Olhei seus cotovelos, ambos estavam ralados.

 Você não vai me forçar a nada? – Perguntei, ainda não acreditando.

 Não, cansei de parecer doentio.

Calafrios me dominaram por um instante. Outra idéia suicida.

 Posso ficar aqui com você? – Indaguei, receosa.

 Parece que você gosta de me ver implorar por seu amor.

Caminhei até Mike, ficando atrás dele.

 Por que está tão calmo hoje? – Perguntei, estranhando seu comportamento.

Ele girou sobre os calcanhares, me fitando com intensidade, e depois se desviou de mim, voltando a sentar na espreguiçadeira. O segui, sentando ao seu lado.

 Lindsay, me diga, você é bipolar? – Me fitou, vincando a testa.

 Às vezes. – Dei de ombro. – Agora responda a minha pergunta.

 Andei pensando em meus pais. – Abaixou a cabeça, fitando o deck.

 Também pensei nos meus.

 Pelo menos nisso nos entendemos. – Riu sem humor. – Por que pensou neles?

 Sei lá, acho que deixei minha mente desocupada por muito tempo. E você, porque pensou neles?

 Saudade.

Olhei em seus olhos negros. Eles não pareciam insanos.

 Está puro? – Perguntei, pasma.

 Não entendi.

 Você não se drogou?

 Não. – Respondeu, fungando.

 Sabia que algo estava errado... – Pensei alto.

 Por que, você gosta de me ver drogado? – Virou-se pra mim, procurando por meus olhos. Desviei meu olhar.

 Claro que não. É que raramente você está sóbrio, né...

 Então você gosta que eu fique sóbrio? – Perguntou. Rapidamente o olhei, e vi seus olhos ganharem um sentimento que há tempos eu não via: alegria. Desviei meu olhar novamente.

 É claro. Você é outra pessoa quando fica sóbrio. Queria que você sempre estivesse assim. É muito bom respirar aliviada sabendo que não querem te matar, sabe? – Olhei para Atlanta abaixo de nós.

 Eu nunca te mataria. Se fizesse isso estaria matando a mim mesmo. – Respondeu.

 Você não, o outro sim. – Olhei em seus olhos.

 Então por isso que você não fica comigo? Por que eu sempre estou à base das drogas?

 É... Ahn... Eu não sei. – Respondi, sincera. – Nunca parei pra pensar sobre isso

 Por que se for isso eu paro. Lind, você não entende? É por você, eu faço quase tudo. Por que nunca me disse isso antes? Por que só agora? – Segurou minhas mãos, me fitando profundamente. No fundo de suas orbes negras ainda havia esperança.

 Por que eu... por que eu... Eu não posso, Mike! Acho que não daria certo. – Tirei minhas mãos das suas.

 Você só vai saber se tentar.

Olhei para a madeira do deck. Meu cérebro não estava processando. Eu não sabia o que fazer.

 Lind, por favor, você é a única que pode me salvar. – Disse, e senti a súplica em sua voz.

 Não, você mesmo pode se salvar. Veja só, hoje você está sóbrio, sem nenhum motivo.

 Mas eu não vou conseguir continuar sem que haja um motivo. E você é o motivo que eu preciso. Eu nunca tentei mudar, você sabe, mas se é pra você tentar ficar comigo, eu mudo.

 Mike, por favor, não quero te magoar. – Pedi, empurrando suas mãos que tentavam tocar as minhas novamente. Mas descuidada eu empurrei suas mãos com força, fazendo-as arrastarem sobre o tecido de sua calça preta. Ele sibilou, e fez uma expressão de dor. Arregalei os olhos, preocupada, e me sentindo culpada. – Me desculpe, por favor. Não quis te machucar. – Segurei suas mãos. Elas estavam gélidas.

 Isso aqui não é nada, comparado ao meu coração. – Disse, mordendo o lábio inferior.

 Mike, eu... – Perdi a fala. Seus braços já envolviam minha cintura, e seu rosto estava a centímetros do meu. Uma brisa leve açoitava nossos cabelos. Desviei o olhar, e observei o sol se pondo ao longe no oeste. Sua respiração afobada batia contra meus lábios entreabertos.

 Pensa em como seria bom você salvar a vida de alguém. – Disse, e eu o olhei. – Se pensou, esse alguém que precisa ser salvo sou eu, e a salvadora é você. – Completou. Seus olhos transmitiam verdade como suas palavras. Não havia dúvidas de que ele estava sendo sincero comigo.

 Mike, eu não quero te magoar, não mais do que eu já magoei, apesar de não ter sido intencionalmente. – Olhei para o estofado branco da espreguiçadeira.

Mike colocou sua mão em meu rosto, acariciando minha bochecha esquerda de leve.

 Eu já deveria ter desistido de você há muito tempo, mas não consigo, é a única chance que eu tenho de ser feliz, então não vou desistir. – Gargalhou baixo.

 Você riu. – Comentei, arregalando os olhos, espantada.

 Você causa isso em mim. – Deu de ombros.

 Tenho medo de tentar, e te machucar. – Confessei.

 Pelos menos você tentará, isso é suficiente.

 E se não der certo? – Perguntei, alterando a voz, com desespero.

 Nós tentamos. – Ele sorriu. Consegui sorrir de volta.

 Tem certeza? – Perguntei, ainda insegura.

 Tenho.

Ele colocou suas duas mãos em meu rosto. Ofeguei, ainda com medo do que viria a seguir. Mike tirou suas mãos de meu rosto, e as passou por meus ombros, fechando-as com cuidado em minhas costas. Arregalei os olhos.

 Primeiro seremos amigos, não quero forçar tanto a barra. – Disse, dando de ombros.

 Mas...

 Amor começa com ‘a’ de amizade. – Deu uma piscadela.

Aproximei-me de seu corpo, e apertei ainda mais o abraço. Mike afagou meus cabelos com uma das mãos. Gargalhamos.

Nossa amizade apesar de já existir a anos, começou a se fortalecer naquele dia. Matt ficou assustado quando soube das novidades. Consegui um atestado médico com Matt que dizia que fiquei doente, por isso tive que faltar dois dias no trabalho. Voltei a trabalhar. Mike me buscava no trabalho sem compromisso, e me acompanhava até a entrada de meu prédio. Nosso laço de amizade aumenta a cada dia, e talvez esse fosse o problema. Queria Mike apenas comigo amigo, era ótimo vê-lo quase curado, sorrindo, e sem obsessões. Justin não dera notícia durante esse curto período. Talvez fossem os shows que o estivessem ocupando demais.


                                                                 Justin P.O.V


Estava há quase três semanas sem ver Lindsay. Para cada dia, tinham dois, ou mais shows. E quando havia uma folga eu só queria dormir. A participação de Selena estava rendendo muito para os shows, mais do que já faturavam. Scooter resolveu então fazer uma reunião para discutirmos sobre isso, e prolongar a estadia dela nos shows. Mas isso foi só um pretexto, o assunto proposto na reunião foi outro.

 ... Todos aqui sabemos que essa participação de Selena está fazendo um sucesso além de qualquer expectativa que tínhamos. – Disse Scooter. Todos assentimos. – Então, Justin e Selena têm uma proposta pra vocês. – Finalizou a frase.

Selena e eu nos entreolhamos, preocupados.

 Qual é? – Perguntamos em uníssono.

 Vocês vão namorar, pelo menos para a mídia. – Disse, simplesmente.

Selena apertou a borda da mesa, boquiaberta. Um vinco apareceu em minha testa, juntei minhas sobrancelhas, perplexo.

 Mas... – Tentei contrapor.

 Mas o que, Justin? Isso é uma jogada de marketing. Pensa no quanto chamará a atenção da imprensa, no quanto vocês serão comentados. Quantas rádios, revistas, apresentadores de programas vão querer vocês para uma pequena entrevista. Isso irá nos render muito. E é falso. Vocês só precisarão fingir muito bem, óbvio.

Balancei a cabeça negativamente, ainda não acreditando nisso. Sel era linda, mas eu não poderia aparecer com ninguém ao meu lado, senão a mídia cairia em cima, e Scooter também.

 Adeus minha liberdade. – Comentei, nada feliz. – Quando o “namoro” – fiz as aspas com as mãos – começará?

 No próximo show. – Respondeu Scooter.

 Você quis dizer amanhã?

 É. – Respondeu, dando de ombros.

Assenti, e levantei.

 Agora você tem namorada, não se esqueça. – Advertiu Scooter, assim que estava abrindo a porta para sair da sala.

 Não irei. – Respondi entre dentes, saindo da sala.

Desci para a garagem. Entrei no carro, e segui para o apartamento de Lindsay, justamente a última coisa que eu deveria fazer a partir de agora.

Cheguei à frente de seu prédio, mas não segui para a garagem. Pelo o que pude ver, eu não era o único que estava namorando. Mike e Lindsay andavam abraçados pela calçada, e ambos estavam felizes, pois gargalhavam incansavelmente. Apoiei meu rosto sobre minha mão esquerda, e continuei a os observar. Mike deu um beijo na testa de Lindsay, e ela acenou sorrindo para ele, subindo os degraus da escada de seu prédio. Ele não estava com jeito de maníaco como nas outras vezes que nos vimos, e nem parecia estar sobre efeito de alguma droga. Por precação esperei até que Mike estivesse longe o suficiente para entrar na garagem. Adentrei na garagem, e estacionei o carro. Peguei o elevador. Cheguei ao andar do apartamento de Lindsay. Caminhei até a última porta. Peguei a chave em meu bolso, e destranquei a porta. Girei a maçaneta e abri-a. Lindsay se surpreendeu com a minha presença, mas não falou nada, apenas esboçou uma reação perplexa. Comprimi os lábios, e ergui uma sobrancelha em dúvida. Andei até ela, e abracei-a forte.


                                                       Lindsay P.O.V


Ouvi o rangido da porta abrindo-se e virei. Era Justin. Só tive tempo de ficar boquiaberta com sua aparição repentina, pois dois segundos depois ele me já estava me sufocando num abraço. Abri meus braços, perplexa, eu queria entender o que estava acontecendo.

 Custa muito você retribuir o abraço? – Pediu, impaciente.

 Quem é você e o que fez com Justin? – Perguntei, ainda perplexa.

 Apenas me abraça. – Pediu, apoiando sua cabeça em meu ombro direito.

Fechei meus braços em suas costas, retribuindo o abraço. Não sei ao certo quanto tempo ficamos ali. Porém nunca abracei alguém por tanto tempo como estava fazendo com Justin.

 Você não prefere falar sobre isso? – Indaguei, quebrando o silêncio.

Nos afastamos e pude ver seu rosto. Ele não estava nada bem. Seus olhos fitavam o chão.

 Senta. – Indiquei o sofá com a mão.

Sentamos ao mesmo tempo. Justin ainda fitava o chão, porém colocou sua mão esquerda sobre minha coxa. Me retraí, mas ele não percebeu. É, realmente Justin não estava bem. 

 Seu silêncio tá me matando. – Disse eu, agoniada.

 É que... aconteceram coisas. – Disse, com os dentes trincados.

 Estou aqui, caso queria me contar. – O incentivei.

 Minha vida! Minha vida ficará pior que um inferno, como se já não fosse isso. – Brandiu. Justin parecia perturbado.

 Por que?

 A parceria com Sel, está fazendo sucesso.

 E isso não é bom? – Perguntei, confusa.

 Não. Quer dizer, é. Mas Scooter quer mais, ele quer... ele quer não... Ele praticamente nos obrigou! – Berrou.

 Obrigou? O que ele obrigou? – Perguntei, ainda mais confusa. Nada que Justin falava fazia sentido. – Diga com mais clareza, por favor.

 Sel e eu... Sel e eu... – Justin gaguejava, e fazia gestos com as mãos, como se não conseguisse falar. – Nós estamos... namorando. – Finalizou.

 Ou – consegui dizer, analisando a situação. Mordi meu lábio inferior. Quem fitava o chão agora era eu. – Mas isso não é bom? – Perguntei, estalando os dedos.

 Não! Não é nada contra Sel, é que eu não poderei aparecer com ninguém ao meu lado, a imprensa cairá em cima de mim mais ainda. E isso é insuportável. É provável que eu tenha de ficar com Sel o tempo todo quando folgar, porque precisamos fingir muitos bem. – Justin estava quase rosnando.

 Isso quer dizer que não era pra você estar aqui. – Deduzi.

 Você é esperta.

 Realista, talvez. É melhor você ir.

 Não.

 Eu não quero te trazer mais problemas, Justin.

 Não vai. Ninguém sabe que estou aqui. E meu namoro ainda não foi oficializado.

 Ahn, então pode ficar. Mas e quando seu namoro se oficializar? – Indaguei, já sabendo a resposta.

 Acho que não nos veremos.

Desde que Justin chegara era a primeira vez que conseguia olhar em seus olhos dourados. Não consegui distinguir o que havia ali, pois tudo parecia rodar ao meu redor. Era como se eu estivesse num mar de confusões, e as ondas me arrastavam de um lado para o outro, me sufocando, sem ao menos me deixar respirar por um segundo que fosse. Eu queria bater os braços e as pernas, para nadar e tentar sair daquela correnteza, mas não era simples assim, eu simplesmente não conseguia. Meus braços, pernas, mãos e pés estavam atados. E não havia nada que eu pudesse fazer para reverter à situação.

 Você sentirá minha falta? – Perguntou Justin, sorrindo torto.

Virei meu rosto e olhei janela afora a noite caindo sobre a cidade. Engoli em seco sem responder.

 Você sentirá minha falta! – Exclamou, afirmando sem ao menos ouvir qualquer coisa dita por mim.

 Não acho que sentir falta de alguém seja um motivo de comemoração.

 E não é. Mas eu não deveria fazer falta pra você. – Sua mão tocou meu braço, me fazendo virar, e o encarar.

 Por que? Mesmo que tenhamos uma amizade conturbada ainda assim significa algo.

 É, você tem razão. Mas nós somos amigos? – Fez uma expressão de dúvida.

 Não somos? – Respondi com outra pergunta.

 Eu não sei. Você me vê como amigo?

 Vejo, ué. – Dei de ombros.

 Como vê Mike?

 Acho que sim. – Respondi, confusa com essa pergunta.

 Então eu acho que deveríamos estar nos pegando a essa altura. – Balançou a cabeça positivamente.

 Não entendi. – Franzi o cenho. Justin fugiu o olhar.

 Você e Mike são namorados, e você diz que o vê da mesma forma que eu. – Esclareceu a dúvida.

 Nós não somos namorados. – Respondi, atônita com sua imaginação fértil. – Da onde tirou isso?

 Eu não te vejo a dias. Daí hoje chego aqui, encontro vocês dois abraçados e rindo, depois ele te beija na testa.

 Mike está se curando, e eu o estou ajudando. Amigos também andam abraçados e principalmente riem das piadas que o outro conto. Beijo na testa significa carinho e respeito pela outra pessoa. – Concluí.

 Entendi. Então isso significa que você não está namorando? – Perguntou, risonho.

 Sim. – Respondi.

 E que você gosta de ajudar os amigos que precisam de algo.

 Claro. – Disse, ficando confusa com o rumo da conversa.

 Eu estou precisando de algo.

Justin deslizou sobre o couro do sofá, aproximando-se de mim. Desconsertada cheguei para o lado esquerdo, afastando-me dele.

 Não precisa fugir. – Disse, aproximando-se mais e levantando meu queixo de leve.

 Para! – Gritei, e bati na sua mão.

 Ah, eu sei que você quer. – Disse, quase me esmagando de tão próximo que tava. 

– Eu sei que você gostou da última vez.

 Eu não quero. Você some por quase um mês, aparece dizendo que está namorando, e ainda quer me beijar? Desculpa, Justin.

 Eu não sumi porque eu quis, tenho meus compromissos, você sabe. Não estou namorando porque quero, faz parte da vida artística.

 Você poderia ter ao menos me ligado.

 Eu não tenho seu telefone.

 Isso não é desculpa.

 O que você tem? Enfim, preciso ir. Nos vemos depois. – Levantou-se.

Justin abriu a porta, e saiu. Corri para alcançá-lo. Segurei em seu ombro direito, e o virei. Passei minha mão direita por sua nuca, e agarrei seu cabelo, colando nossos corpos. Nossas línguas se chocaram, me causando calafrios na cervical. O beijo era quente, intenso, com desejo. Mordisquei seu lábio inferior, e fui soltando-o aos poucos. Porém Justin impediu que o beijo terminasse. Suas mãos apertaram minha cintura com força, me levantando e me deixando nas pontas dos pés. Justin me virou, encostando-me na parede. Estava ficando sufocante. Empurrei Justin, puxando o ar para meus pulmões.

 Por que fez isso? – Perguntou, umedecendo os lábios e sorrindo.

 Por que toda vez que você beijar sua namorada é disso que você lembrará. – Dei uma piscadela voltando para o apartamento.

 Eu não irei beijá-la. – Respondeu.

 Ah, mas é claro que vai. E se sentirá péssimo por não estar beijando a mim. – Joguei um beijo no ar, e entrei, fechando a porta.

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