sábado, 12 de outubro de 2013

Capítulo 14 – Explicações

 E o que eu posso fazer em relação a isso? – Indagou, visivelmente triste.

 Vá embora. Eu não vou pedir que você suma, porque eu não quero, mas também não pedirei que fique, porque preciso de um tempo pra mim. Se quiser voltar, ótimo. Mas pense antes de voltar. Não volte para me menosprezar. Não haverá uma terceira chance. – Disse, com um certo pesar na voz.

 Eu pensarei. – Segurou minhas mãos, fitando meus olhos. – E então, quando posso voltar?

 Quando você sentir minha falta.

Ele ficou calado.

 Você não vai sentir minha falta, não é? – Perguntei, já sabendo a resposta.

 Mais tarde eu te respondo. Ou não.

Assenti, entendendo a resposta dele. Justin soltou minhas mãos, me dando as costas. Fiquei ali parada, ouvindo seus passos se afastarem. Ouvi a porta se fechar. Curvei minhas costas, e caminhei até o quarto. Joguei-me na cama. Peguei o edredom, o colocando por cima de meu corpo. Me encolhi, fechando os olhos, e pedindo ao sono que me dominasse. Ele me obedeceu. Abri os olhos com dificuldade. O telefone tocava. Me arrastei até a sala. O tirei do gancho.

 Alô? – Disse eu, com a voz rouca, e fungando.

 Lind? – Era Matt.

 Matt! – Tentei parecer feliz.

 Te acordei? – Perguntou, receoso.

 Sim, mas sem problemas.

 Então ok. O que podemos fazer hoje?

 O que você quiser. – Dei uma risada fraca.

 Humm... Relembrar os velhos tempos pode? – Gargalhou.

 Matt... – Adverti. – Se quer me ver fique comportado.

– Ficarei, princesa. – Ele riu. – Te pego na entrada do seu prédio às 16:00.

 Que horas são? – Perguntei, perdida no tempo.

 Duas e alguma coisa. – Respondeu, sem saber.

 Então nos vemos às 16:00 

 Ótimo. Beijos.

 Beijos. – Coloquei o telefone no gancho.

Levantei, e fui para o banheiro. Peguei um produto de limpeza, embaixo do armário da pia, e lavei a pia. Me despi, e fui para o banho. Não pude usufruir muito do banho, pois meu tempo estava limitado. Terminei o banho, me enxuguei, e enrolei a tolha em volta de meu corpo, voltando para o quarto. Fui para o closet, vesti uma calça jeans escura, uma regata lilás claro, e calcei uma rasteirinha cor caqui. Voltei para o quarto. Penteei meus cabelos, e os prendi num rabo de cavalo alto. Voltei ao banheiro, estendi a toalha em seu suporte, e escovei os dentes. Abri a gaveta do balcão da pia, e peguei comprimido para dor de cabeça. Fui até a cozinha, engoli o comprimido bebendo coca. Olhei o relógio. Eram 15:42. Peguei minha mochila, ainda jogada no chão da sala, e de dentro retirei meu mói com as chaves. Enquanto estava agachada, fechando a mochila, olhei para a fresta embaixo da porta. Havia metade de uma revista pra dentro de casa. Fui até lá, e peguei a revista.

Estranho, eu não tinha nenhuma assinatura com qualquer revista. Sentei no sofá, e comecei a folheá-la. Era uma revista de famosos, e fofocas, óbvio. Cheguei então a página que ele queria que eu visse com cautela. Abri minha boca num ‘o’, perplexa. Havia duas fotos, e nelas estavam Justin e eu. Uma era a da lanchonete, e outra quando fomos ao Wal Mart. Mas isso não fora isso que me deixou com medo, e sim a frase:

Continue dessa maneira, e ele será a próxima vítima.

Reconheci a letra de Mike, e no final da frase havia uma seta que apontava para o rosto de Justin. Meu coração congelou. Eu não tinha o número de Justin, e não sabia onde ele poderia estar, tão pouco onde Mike estava, já que ele sumira. Como aquela revista veio parar aqui? Mike estava me rondando, e rondando Justin também. Nós corríamos perigos. E para evitar que qualquer um se machucasse nossa “amizade” teria de acabar. Apesar de tudo que Mike fizera comigo, eu nunca guardei rancor dele. Mas naquele momento, me arrependi por ter me aproximado dele. Essa aproximação era a causadora de todas as perdas em minha vida. E as perdas só terminariam quando um fim fosse posto entre Mike e eu. Fechei a revista, e levantei. Caminhei até a porta, abaixando a maçaneta, e abrindo-a. Passei para o corredor, trancando a porta. Coloquei a revista embaixo de meu braço direito, e caminhei, indo para o elevador.

Cheguei à portaria, caminhei para fora do prédio. Matt estava me esperando no final da escada ao lado direito. Sorri nervosa quando eu o vi.

 Por que está sorrindo desse jeito? – Perguntou, curioso, e preocupado.

 É incrível como você nota cada gesto meu. – Disse eu.

 Isso é óbvio. Diga o que houve.

 Mike.

 O que foi dessa vez? – Perguntou, exaltado.

Abri a revista na página, e o apontei para a frase ali escrita.

 Então o seu romance complicado é com Justin Bieber? – Perguntou, chocado, levando uma mão a boca.

 Sua opção sexual foi alterada? – Disse eu, me assustando com seu gesto. – E respondendo a sua pergunta: somos amigos, somente. – Impus.

 Não foi, é que Lindsay Mandson sendo amiga de Justin Bieber é meio chocante, concorda? E Mike fez essa ameaça atoa?

 Você sabe como ele é psicopata.

– Desembuche, Lind.

 Não temos nada, é sério. Nos conhecemos há três dias, mas só saímos essas duas vezes, e uma outra.

 E não rolou nada? – Perguntou, desconfiado.

 Não. – Menti.

– Preciso falar com Mike. Você precisa viver sua vida. – Disse, distraído olhando o céu.

 Se você falar as coisas vão piorar, não fale nada. – Supliquei.

 O que você quer, conversar com Bieber antes?

 Acho que seria bom. – Respondi, em dúvida.

 Pode deixar, se você precisar, eu te ajudo a encobrir o seu caso proibido. – Deu uma piscadela.

 Não há caso proibido. Eu só preciso que você prometa que não falará nada com Mike. – Pedi.

 Prometido. – Ele sorriu.

Matt passou seu braço por sobre meu ombro, e observamos a revista.

 Parece ser recente. – Observou, passando o dedo indicador sobre a frase.

 Ele já voltou pra casa?

 Não.

 Justin. Preciso avisá-lo. – Falei, ficando alerta.

 E quanto ao nosso lanche? – Matt fez beicinho, fingindo estar triste.

 Se der tempo faremos isso hoje. – Sorri, o olhando.

 Então o procure. E me ligue para dar notícias, mesmo que não seja pra marcar nosso lanche.

 Fechado. – Matt deu um beijo demorado em minha testa, e acenou, se afastando.

Acenei de volta, até ele desaparecer. Fechei a revista. E tive uma ideia desanimadora. Eu não tinha o número de Justin, não sabia onde ele morava, e não sabia se ele voltaria hoje. Isto é: se Mike não o encontrou pelo caminho. Olhei para o outro lado da rua, e me surpreendi. Nem sempre o destino falhava. Justin estava dentro de seu carro, com a janela fechada, e me fitava, aparentemente com raiva.


                                                               Justin P.O.V


Lindsay pediu que eu fosse embora e pensasse antes de voltar. Eu fui, mas não completamente. Saí de seu prédio, e comi na lanchonete do outro lado da rua. Enviei uma mensagem para mamãe avisando que teria de ficar mais um pouco na rua. Liguei para Scooter, e ele disse que não havia nenhum compromisso pra hoje. Fui até a garagem do prédio de Lindsay, entrei em meu carro, e fui para a casa de Kenny. Tomei um banho rápido em sua casa, e voltei para frente do prédio de Lindsay, estacionando meu carro ali. Apoiei minha cabeça no encosto do banco, e virei meu rosto para o lado esquerdo, observando a vida lá fora. Eu voltaria ao seu apartamento, mas só quando julgasse necessário. As horas passaram-se, e eu fiquei ali, a mercê do tédio. Olhei meu celular. Eram 15:53. Voltei a olhar para a entrada do prédio. Lindsay descia a escada, sorrindo para alguém ao final dela. Olhei esse alguém. Uma cara com uns físicos médios, brancos, de cabelos loiros, a olhava. Mas quem era aquele? Mike tinha os cabelos pretos. Prestei atenção aos dois. Ela abriu a revista, indicando algo para ele. Os dois observaram o que Lindsay mostrara e depois começaram a conversar. Talvez ele fosse o revendedor da revista, mas esse cara não tinha pinta de revendedor. E então ele a abraçou de lado. Um revendedor não faria isso com a cliente. Ela sorriu, parecendo sem graça e olhou em seus olhos. Talvez esse cara fosse o tempo que ela precisava para pensar. Ele deu um beijo em sua testa, indo embora. Franzi o cenho, a fitando com raiva. Por ironia do destino Lindsay me viu, eu tentei, mas não consegui disfarçar que estava observando-a. Ela andou para o sul, a olhei, intrigado. Esperou até o sinal fechar, e atravessou a rua. Andou na direção onde meu carro estava. Chegou à frente da janela, e bateu no vidro, aparentando querer falar comigo.

Abaixei o vidro.

 Seu amigo refrescou sua mente? – Perguntei, irônico.

 Como? – Perguntou, se fazendo de desentendida.

 Você disse que precisava de um tempo pra você, acho que seu amigo era o tempo que precisava, ou estou errado?

 Rá. – Deu uma gargalhada sarcástica. – Vou deixar esse seu momento estúpido de lado, porque há algo mais sério no assunto, e o meu amigo pode nos ajudar.

 Eu não preciso que ele me ajude. – Respondi seco.

 Será que você pode pensar como uma pessoa de dezessete anos, por favor? Pelo menos agora.

 O que foi? – Perguntei, tentando parecer arrogante.

 Vamos subir. – Disse ela, olhando para os lados, nervosa.

 O que está acontecendo? – Perguntei, ficando preocupado com sua situação.

 Lá em cima eu te explico. – Disse. – Guarde o carro na garagem, e suba. – Ordenou.

 Ok.

Lindsay voltou para o sul, só para atravessar a rua na faixa de pedestre. Balancei a cabeça negativamente com essa insistência. Dei ré, para estacionar o carro na garagem. Entrei na garagem, e deixei o carro ali. Subi. Cheguei ao corredor. Caminhei até a porta de seu apartamento. Peguei a chave no bolso, destranquei a porta, e abri-a.


                                                             Lindsay P.O.V


Tive uma conversa breve com Justin, e subi imediatamente para meu apartamento. Coloquei a revista no criado-mudo ao lado do sofá, e fui para meu quarto, colocar um short. Quando voltei para a sala, a porta estava sendo fechada por Justin. Abafei um grito tampando minha boca com as duas mãos. Ele me olhou atônito.

 O que foi? – Perguntou, despreocupado.

 Como você pergunta isso com tanta naturalidade? – Respondi com outra pergunta, perplexa.

 Quero saber porque está assustada. – Respondeu, dando de ombros.

 Por que ora, como você conseguiu entrar se a porta estava trancada?

 Por que eu tenho a chave. – Disse, levantado e balançando a chave na mão esquerda.

 Como você conseguiu a chave? – Grunhi.

 Ela está comigo desde ontem. – Respondeu, simplesmente.

 Ah, ok. Ontem você precisou dela pra abrir a porta quando me trouxe pra casa, e hoje, pra que você precisava dela? – Perguntei, louca para obter uma resposta.

 Não sei. – Disse, jogando-se no sofá, cruzando os braços atrás da nuca e apoiando a cabeça neles.

 Já que não sabe pra que, me devolva. – Pedi, indo até Justin, e estendendo a mão.
Ele ergueu o olhar para minha mão, e depois para meu rosto, porém não fez nenhum gesto de devolver a chave.

 Justin. – Pedi, suspirando para obter paciência.

 Você tem outra, não precisa dessa. – Respondeu, birrento.

 Essa é a extra, caso eu perca a outra.

 Deixe essa comigo. Vou tirar uma cópia, e depois te devolvo.

 Por que você quer uma cópia? – Gritei, nervosa por não conseguir a chave.

 Pra eu poder entrar aqui à noite, e te ver dormir. – Finalizou a frase com um sorriso torto.

 Isso aqui não é Crepúsculo. – O lembrei.

 Claro que não, se fosse eu entraria pela janela, óbvio, não é?

 Para com essa história clichê, isso me causa náuseas. – Fiz uma expressão de enjôo.

 Mike não era romântico com você? – Me olhou, com ar de escárnio.

 Eu não posso te responder sobre algo que nunca existiu.

Desisti de tentar pegar a chave, e sentei ao seu lado. Estiquei meu braço para pegar a revista, e abri-a na página da condenação. Ao ver as fotos Justin riu sem humor. 

Vincou suas sobrancelhas quando leu a frase.

 Ahn... Isso não é bom, né? – Me fitou.

 Nem um pouco. – Retribuí o olhar.

 E o que podemos fazer? – Perguntou, parecendo interessado na resposta.

 Ahn... Acho que nossa “amizade” – enfatizei fazendo as aspas com as mãos – termina aqui. – Concluí.

 Mas nós podemos desviar disso. – Disse Justin, confiante.

 Claro que podemos. Você andará 24 horas escoltado por seus seguranças, e eu ficarei trancada em casa até que Mike suma, ou morra.

 Estou falando sério. – Respondeu Justin, alterando o tom de voz.

 Eu também! – Respondi no mesmo tom.

 Você disse que seu amigo poderia nos ajudar. – Disse, lembrando-me.

 Ele tentará descobrir onde Mike tá, e o que ele tentará.

 E até ele descobrir...?

 Não nos veremos. – Completei sua frase.

 Com quem eu vou brigar? – Perguntou, aparentemente triste.

 Talvez Selena supra sua vontade.

 É, quem sabe. – Deu de ombros. Justin apoiou suas mãos sobre os joelhos, e levantou. – Era só isso?

 Sim. – Fitei seus olhos.

 Então até Deus sabe quando. – Falou, caminhando para a porta.

 Espere – pedi – você pensou? – Perguntei, como se não me importasse.

 Pensei. – Disse apenas.

 E o que você pensou? – Não consegui esconder a necessidade de ouvir a resposta.

 Quando você resolver sua situação com Mike saberá. – Deu um sorriso vencedor, e abriu a porta, indo embora.

Argh. Levantei irritada. Eu não poderia esperar muito tempo por essa resposta, ou enlouqueceria tamanha era a curiosidade. Mesmo que Justin respondesse que continuaria a ser um moleque, ainda assim eu queria ouvir.

Liguei para Matt, para marcarmos nosso lanche daqui a pouco, porém ele já estava atarefado. Ele disse que Mike já estava em casa, então Justin por enquanto estava seguro. Desliguei o telefone, tendo um pensamento suicida. Peguei minha chave no criado-mudo, e saí.

Cheguei à calçada, caminhei para o ponto de ônibus ao norte. Assim que cheguei ao ponto, vinha um ônibus. Fiz sinal para ele, logo em seguida entrando, e indo para o fundo, sentar onde sempre sentava. Apoiei minha cabeça no encosto da poltrona, observando tudo lá fora passar voando, enquanto o ônibus corria. Senti a rua ficar íngreme, e levantei, puxando a corda para saltar no próximo ponto. O ônibus parou, e desci. Caminhei até a casa. Não havia ninguém no jardim na entrada, nem vozes vinham de dentro da casa. Abri a grande porta de madeira clara e encerada, com um certo receio. Fechei-a devagar. Subi a escada. Procurei em todos os cômodos do segundo andar, não havia ninguém ali. Desci, e passei pelo corredor de largura média, passando pela cozinha, chegando à área de lazer.

Levei um choque quando avistei toda a Atlanta dali. Há tempos eu não ia ali para fazer isso. Mike estava sentado numa espreguiçadeira no deck, e observava Atlanta, com o rosto apoiado sobre a mão direita. O deck ficava a beira de um precipício. A casa de Mike ficava no ponto mais alto daquela rua. Contornei a piscina, dando passos calculados. Até chegar a espreguiçadeira. Mike não ouvira nada.

 Mike. – Minha fala saiu quase inaudível, tamanho era o meu medo. Mike virou-se, arregalando os olhos. Nem ele acreditava que eu fora ali.

Mike levantou-se num pulo, pondo-se a minha frente. Soltei um grito de desespero, e engoli em seco. Ele me avaliava, calculista. Não consegui sustentar seu olhar. Olhei para os lados, nervosa. Meu coração não desacelerava, e isso dificultava minha respiração. Então ele abriu os braços, passando-os por minha cintura, e fechando-os em minhas costas, me apertando num abraço sufocante. Franzi meu cenho, confusa, e ergui uma sobrancelha.

 Mike? – Indaguei, preocupada. Senti seu nariz inalando o cheiro de meus cabelos.

 Por que está aqui? Você sabe que eu posso te machucar. – Sua voz rouca me fez arrepiar.

 É exatamente por isso que vim, não quero que me machuque mais.

 Não quero falar sobre isso. Você e Matt andaram se encontrando? – Perguntou. 

Seu tom de voz já não era tão calmo como antes.

 Ahn... sim. Ontem eu vim te procurar. – Mordi meu lábio inferior, temendo sua reação.

 Por que?

 Deixe Justin em paz. – Pedi.

 Preciso de um motivo pra isso.

 Eu estou pedindo, não é o suficiente?

 Não, suficiente será se você se afastar dele.

 Mas porque? Nós não temos nada. – Finalizei o abraço.

Seus olhos negros pareciam ter perdido a cor.

 Eu não sou idiota, Lind. O que ele tem que eu não tenho? Fama?

 Isso não diferencia nada. – Respondi secamente.

 Então fique comigo! – Implorou. – Eu te amo. – Rugiu, fazendo eco naquela grande propagação.

 Você não me ama. Isso que você diz ser amor, eu considero uma doença.

– É amor. – Falou, começando a soluçar.

Meus olhos arderam, e senti as lágrimas chegando. Odiava ver Mike naquele estado.

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